quinta-feira, 29 de setembro de 2016

AS FÉRIAS

NOTAS DO MEU CANTINHO

                               
         Está a chegar o mês de Agosto, anualmente dedicada a férias escolares ou profissionais. E porque de férias é o tempo normalmente destinado, durante o ano, para visitar a terra-mater, os familiares e os amigos, ou simples conhecidos. Afinal, um tempo especial, que muitos desejam aproveitar, mas que nem sempre têm possibilidades materiais para o fazer. E é pena, pois a visita à terra é sempre agradável, retemperante e  reconfortante.
         Os estudantes vão chegando de visita às famílias. Vêm de algumas ilhas dos Açores e do continente, onde frequentam as diversas faculdades e escolas superiores: Coimbra, Lisboa, Porto, Ponta Delgada, e outras mais.
          Antigamente, falar em Universidade era lembrar Coimbra dos fadistas. Actualmente, as escolas superiores estão instaladas em várias cidades onde se ministram os mais variados cursos, que não apenas medicina, direito, letras, engenharia, como há dezenas de anos.
          Os estudantes andam por aí. Vão à “praia” ou a uma pequena baía tomar banhos de mar e de sol, onde passam uma boa parte do dia. À noite frequentam as esplanadas dos restaurantes, que se abrem no verão para acolher os visitantes, ou frequentam algum festival musical que, aqui ou ali, por vezes aparece. E bem poucos se interessam pelos problemas locais. Trazem no pensamento, a colega escolhida, a profissão que pretendem exercer, a terra onde, feito o curso, desejam fixar-se. A terra-mater não interessa, pois não lhe pode oferecer uma colocação estável.
           Normalmente, quando casam, deixam de visitar a terra natal, pois há outros interesses a defender...
           Não levo a mal que a juventude de hoje, por uma razão forte da vida actual, assim pense e assim prepare o seu futuro. Mas lamento que estas ilhas, as chamadas “secundárias”, porque não têm serviços regionais dirigentes, estejam a ser “paulatinamente” abandonadas pelas respectivas populações que procuram, nos meios urbanos desenvolvidos, estabilidade social e profissional.
           Quando se criou a Região Autónoma, o projecto de Estatuto então discutido, indicava cada ilha como um todo administrativo, com organismo dirigente próprio, existindo uma entidade superior que permanecia em cada ilha durante algum tempo a presidir a esse organismo. Uma reedição do antigo juiz de fora. Julgo que seria assim. No entanto, outros pensaram diferente e a chamada maioria encontrou uma forma de manter a hegemonia política que vinha dos antigos distritos administrativos e, depois, autónomos... O resultado está à vista: o despovoamento e o atrofiamento de algumas das ilhas que só servirão para visitar na estação calmosa, está bem presente...
            Andam já por aí alguns dos estudantes picoenses, e muitos são, pois o seu número aumenta, enquanto a população diminui. Um paradoxo autêntico que  mal se sabe explicar, mas que não deixa de ser uma realidade, atestada com as dezenas, ou já centenas de casas desabitadas por essa ilha além.
            Mas não apenas os estudantes. Outros mais, jovens ou já trintões, deixam a terra para se fixarem em outros meios mais movimentados ou evoluídos, onde o andar pelas ruas pejadas de gentes, locais ou estranhas, já é uma festa... 
             O mês de Agosto, apesar da alegria dos encontros que nos proporciona, é um mês de reflexão... Devia sê-lo pelo menos. E isso pertence mais às entidades oficiais a quem incumbe encontrar o bem-estar, a prosperidade económica, o progresso e o desenvolvimento harmónico das terras que administram. Uma missão altruísta, mas por vezes bem difícil de alcançar...
             Já várias vezes abordei em escritos passados, este mesmo tema. Não faz mal repeti-lo. Água mole...

Lajes do Pico,
Julho de 2016,

Ermelindo Ávila

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