terça-feira, 1 de abril de 2008

Que turismo nos espera?

Estão a chegar ao fim, pelo que nos é dado observar, os trabalhos de construção da futura marina do porto das Lajes do Pico. Tudo faz crer que aquele espaço, conquistado à lagoa interior, com óptimo resultado, poderá ser utilizado pela navegação de recreio ainda no corrente ano, o que não deixa de ser uma excelente valia para a Vila Baleeira dos Açores.
Mas para que o turismo se possa implantar nesta terra e venha a ser um factor económico de assinalada valia, importa que outros empreendimentos se realizem com brevidade, para que assim, todo o conjunto estrutural seja convenientemente utilizado e seja elemento de progresso e desenvolvimento a renovar a economia local.
Interessante o que no Pico se tem feito no sector hoteleiro, principalmente no chamado turismo rural e nas residenciais, já que os hotéis, infelizmente, andam daqui arredados, (propositadamente?) evitando que até as entidades regionais daqui se afastem pela carência de camas condizentes com a categoria dos ocupantes…
Porque se protelou a construção do Hotel previsto para o Mistério? Porque se evitou a construção de um estabelecimento hoteleiro junto do parque de campismo?
Um parque jamais poderá substituir um hotel. Demais os ocupantes, durante o verão, são grupos de estudantes, nacionais ou estrangeiros, ou outros visitantes de recursos económicos limitados e que pouco contribuem para a economia local. ?!.
Afastar qualquer construção de interesse público do meio urbano da vila e contribuir para o seu atrofiamento e aniquilamento. É preciso que isso se compreenda e se tenha em consideração, sem prejuízo do seu património artístico e da sua classificação de zona urbana histórica.
Todavia o turismo não exige somente bons hotéis, devidamente classificados e equipados, servidos por profissionais experientes e simpáticos.
O Whale Watching é uma atracção de comprovados méritos, mal grado a concorrência de que vai sofrendo . Mas até esses que vêm para observar baleias e outros animais marinhos que aqui, na nossa frente, estacionam meses e anos, nem por cá pernoitam, na sua quase totalidade, por falta de hotel. (Isto sem esquecer a “Aldeia da Fonte”, algo desviada)
.(Um dos operadores disse-me há dias que uma baleia, com uma falha no rabo, estaciona na baia das Lajes, que ele saiba, há mais de sete0 anos.)
O turista deseja, também, ocupar os chamados “tempos livres” . Aqui recorda-se uma vez mais a necessidade de concluir o campo de golfe ou encontrar novo espaço onde se possa instalar um novo campo, pois o Mistério é enorme – cerca de cinco hectares de terreno, com três quilómetros de largura, junto da ER., que ninguém aproveita.
Mas não há somente que providenciar sobre os momentos de lazer. Algo mais há que ter em atenção, como ainda há dias diziam os intervenientes no programa semanal da RTV, “Prós e Contras”. Cada ilha deve dispor de serviços de saúde capazes de atenderem não somente os casos resultantes de sinistros ocasionais como de outras doenças que surjam ao visitante durante a sua estadia na ilha. E esses serviços não devem ficar simplesmente pela transferência, (embora rápida), em transporte adequado, para uma das ilhas-“capitais”. Isso não aceita o visitante estrangeiro, habituado a ter junto da residência a assistência imediata para qualquer caso de doença que lhe surja.
Tudo isso deve ter-se em consideração, se queremos promover as ilhas da Região e nela explorar um turismo eficiente e positivamente promotor de melhoria económica.
A Ilha do Pico, com um potencial turístico enorme, que quase desconhecido e mal aproveitado anda, tem de ser considerada com medidas, embora de excepção, eficientes e rápidas, se não desejamos ver passar ao largo um bem que à Ilha pertence.
Sabemos que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, mas cruzar os braços perante um potencial que, noutras bandas, seria avaramente aproveitado, não deixa de nos causar pena e angústia.
Saibamos “vender” por bom preço aquilo que é nosso, que muito é: as paisagens, dominadas pela alta montanha, os por de sol, o ar que respiramos, a água que bebemos e usamos, o clima ameno e confortável, as frutas deliciosas que mal aproveitadas são, esses mairoços que se espalham pelas terras e que são um testemunho eloquente dos muitos penares e canseiras dos nossos avós que tanto lutaram para nos deixarem os campos verdejantes, as vinhas e as pastagens que ainda disfrutamos. Afinal, esse extraordinário património que aí está, agora mal aproveitado e quase abandonado.

Vila Baleeira dos Açores,
Março de 2008
Ermelindo Ávila

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