A MINHA NOTA
Chegados
somos ao Carnaval ou Entrudo, os três dias que precedem a
quarta-feira de cinzas ou entrada na Quaresma.
E os
dicionários definem o Entrudo ou carnaval como dias de praticar
jogos com água, talco, tinta, etc. Dias de folguedos – mascarados,
em que se comem viandas e guisados de carne.
Por aqui
eram as filhós, as fatias
douradas; os
torresmos e a linguiça, para aqueles que matavam
porcos.
Mas esses
hábitos tradicionais de comemorar o carnaval hoje são raros ou
mesmo já quase desapareceram.
Ponta
Delgada ainda há poucos anos conservava a “batalha das limas e
água”. E, naturalmente, mantém esse “violento” desporto. Nas
outras ilhas, ao menos no Pico, é costume que há muito desapareceu.
Conservavam as máscaras e o enfarinhar, com farinha de trigo ou pó
de arroz ou talco, mas isso também foi a pouco e pouco,
desaparecendo. Aliás era, por vezes, uma maneira grosseira de
festejar o carnaval. Foi substituído, e bem, pelos bailes
de fantasias nas sociedades recreativas ou em
algumas, poucas, casas particulares.
Na
freguesia da Piedade havia o “bando”, um pregão pouco cortês,
onde eram apresentadas, entre “chacotas”, as mazelas ocorridas
durante o ano e que, na terça-feira de Entrudo eram apregoadas, e
ainda são, de cima de um muro, aos muitos curiosos que lá apareciam
e que, dada a maneira como eram apresentadas, eram motivo de grande
hilaridade. Chamavam-lhe o“testamento do
burro”, embora o animal tivesse caído de
uma rocha e morrido há vários anos.
Há meio
século, o carnaval era comemorado nas quatro semanas que antecediam
a Quaresma. Não passavam de simpáticas e acolhedoras reuniões
familiares, nas quintas-feiras de amigos e
amigas, compadres e comadres e nos sábados e
domingos seguintes. Essas
reuniões familiares serviam para ver algum mascarado que aparecia
com seus entremezes a divertir os assistentes. Numa ou noutra sala,
se o espaço permitia, bailava-se, a tradicional chama-rita nos
intervalos das passagens dos mascarados. Depois, foram aparecendo as
sociedades recreativas e era nelas que os bailes passaram a
realizar-se, com notória frequência e com alguns figurantes
fantasiados. Uma maneira, aliás simpática, de festejar a quadra, e
passar o serão dentro daquele espírito de fraterna convivência que
era tradicional.
Presentemente,
com as transformações sociais que se operaram, nem se sabe se
estamos na época carnavalesca muito embora nas últimas
quintas-feiras os amigos e as amigas, os compadres e as comadres se
hajam reunido para uma “jantarada” que, outrora, seria a ceia.
Estamos,
pois, chegados à Quaresma. Um tempo forte para os católicos que os
demais nem a isso ”ligam”, como dizem empavonadamente.
Mais
um carnaval está a decorrer. Que todos se divirtam com ordem, paz e
harmonia.
Lajes
do Pico,
Fevereiro
de 2015
Ermelindo
Ávila
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