NOTAS DO MEU CANTINHO
Quando
os navegadores do Infante chegaram a estes mares do meio do Atlântico
e encontraram estes pináculos, saídos das águas profundas, por
aqui se fixaram junto às costas e aí construíram suas habitações.
Desses minúsculos povoados surgiram, anos após anos, as vilas e as
freguesias e depois as cidades. (A lista não está ainda
completa...) E foi para o mar que seus olhares curiosos se voltaram
na esperança de outros mais aparecerem. E olhando esse mar largo
viram passar os transatlânticos, levando e trazendo os açorianos
que decidiram emigrar. Depois, alguns voltaram. E é estendendo os
olhares por esses mares fora que viram e vêem os grandes monstros
marinho, que ontem foi sustento de muitos e hoje é regalo para os
que aqui aportam. E é sempre o mar que contemplam, para além da
Montanha que domina céus e mares, não fosse hoje a sétima
maravilha de Portugal.
Os
ilhéus só se sentem bem “viajando” pela beira-mar para receber,
em dias de calma intensa, a frescura das suas águas ou, ao
entardecer, contemplar estáticos, os maravilhosos pôr do sol.
Há
quarenta anos que o Arquipélago dos Açores passou a ser uma Região
autónoma, com administração própria. Antes eram os Distritos
Autónomos embora com limitados poderes. O distrito da Horta,
constituído pelas ilhas do Pico, Faial, Corvo e Flores, tinha, a
partir de 1940, uma Junta Geral Autónoma de poderes limitados.
Superintendia somente nos Serviços Agro- Pecuários e pouco mais. A
instrução e as obras públicas estavam a cargo do Estado, o que,
mesmo assim, valeu se realizassem algumas obras de vulto, quer
portuárias, quer das estradas e dos Serviços Florestais. No
entanto, a vila das Lajes somente beneficiou da estrada
Lajes-Piedade, do hospital sub-regional, hoje praticamente
desactivado, e da muralha de defesa na zona da Lagoa, e esta porque
a que existia foi derrubada pelo ciclone de 1936. E assim ficou estes
anos todos.
Com
a instituição do Governo Regional pouco mais se adiantou. A
registar todavia o muro quebra-mar da Carreira para o Poção. E
este sem qualquer aspecto “urbanístico”.
O
que tem acontecido é a sede do concelho, paulatinamente, vir a ser
despovoada de Serviços – e hoje não os cito - obrigando os jovens
a uma emigração “interna” desastrosa, promotora de uma
defraudação aniquilante e que impede o desenvolvimento e progresso
da primeira povoação picoense.
A
beira-mar era, e é, para os lajenses, a zona mais apetecida.
Contemplar a baía com a esbelta Montanha a dominá-la; ver a
diminuta navegação que passa, já que retiraram para outras
bandas a que, normalmente, aproava ao porto das Lajes; o esvoaçar
das aves marinhas no enorme Juncal – a “Ban baixe muro”(1) –
plataforma costeira sem aproveitamento embora, mas onde proliferam
espécies biológicas as mais raras e variadas; e, utilizando o “muro
do caneiro” que
circunda a Lagoa pelo Sul, percorrê-lo, em passeios matinais ou
tardes calmas, para admirar o encanto que é o pôr do Sol, ao lado
de montanha, por lajenses e não só.
Em
certa ocasião, alguns anos decorridos, um artista Pintor que nos
visitava, disse-me, muito espontaneamente, que o pôr do Sol visto
das Lajes era belo mas difícil de pintar pelas continuas mudanças
das cores que apresentava.
Pois,
até dessa pequena dádiva da Natureza nos querem privar, ao que por
aí consta, proibindo
o livre trânsito até ao Caneiro!
E
quem vai admirar o Monumento
aos Baleeiros, lá
erguido há anos em homenagem aos homens que, à perigosa faina, se
dedicaram em anos idos?
Nas
outras terras implantam-se, junto do mar, as mais variadas
construções. Sejam as “portas do mar”, sejam as “salas” de
embarque e desembarque. Aqui, utilizando uma autonomia administrativa
que aos lajenses bem pouco beneficiou, pretende-se fechar um passeio
que tanto é do seu agrado e largamento utilizado pela suavidade do
piso e pela paisagem que oferece, já que mais não têm...
As
zonas marítimas sempre foram espaços livres onde as populações
se juntavam, por vezes, para as merendas, para a pesca “de pedra”,
para gozar o ambiente suave e ameno. O mesmo acontecia no Caneiro,
durante muitos anos, porto de embarque de cargas e passageiros, dos
barcos da Insulana e até das “lanchas do Faial”. Nunca foi, pois
seria uma verdadeira aberração, tributada essa utilização.
Fazê-lo agora é o que de mais anacrónico pode acontecer.
Deixem
a terra livre, deixem que as pessoas façam os seus passeios, de pé
ou de automóvel, pelo “muro
do Caneiro”, para
admirarem as belezas naturais que a Natureza lhes oferece, já que
outras não possuem, que nenhum prejuízo trarão aos serviços
públicos que, segundo julgo, nem a iluminação pagam. Aliás um
direito que usufruem desde remotas eras.
Só
pagando uma taxa será permitido ir até ao Caneiro?
-
Valha-nos Deus!
____________________
1)
Ávila,Sérgio e Outros – “Lajes
do Pico Ban baxe Muro´”-2011
Lajes
do Pico,
Fevereiro
de 2015
Ermelindo
Ávila
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