Há 69 anos que se realiza nesta vila das Lajes do Pico o “Império de São Pedro”. Foi no ano de 1940, ano do Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal, que se restaurou o Império, pois há vários anos que o mesmo não era realizado.
Anos passados o Império tinha lugar no mesmo dia da Festa do Apóstolo, titular da primeira Igreja da Ilha do Pico, aquela pequena ermida que se encontra junto da lagoa à Maré onde desembarcou o primeiro povoador, Fernão Alvarez Evangelho.
Nos últimos anos o Império estava reduzido à distribuição de “rosquilhas de aguardente”, pela crianças presentes, uma dádiva do então mordomo das festas, João de Deus Macedo, antigo comerciante.
Com a celebração do Duplo Centenário, entendeu a Comissão Executiva das comemorações restaurar o Império, até porque nenhum outro se realizada, há muito, na Vila sede do concelho e antiga capital da Ilha. Foi um êxito. A partir de então o Império de São Pedro não mais deixou de se realizar e no próximo ano contará setenta anos, o que não deixa de ser um acontecimento de relevo para uma terra como esta nossa. Nesse primeiro ano a Câmara Municipal assumiu o encargo de contribuir com diversas “contas” de rosquilhas. Creio que dez. No anos seguintes tal não foi necessário pois os lajenses espontânea e generosamente passaram a realizar, por conta própria, o Império e sempre o tem “levantado” –na expressão popular - com entusiasmo e dedicação - , acrescentando-lhe o jantar aos irmãos e convidados. Um evento que reúne, em fraterno e alegre convívio, algumas centenas de pessoas.
Tem-se anunciado que a Vila das Lajes celebrava a festa do seu Padroeiro. Afinal é puro engano. O Padroeiro da freguesia ou paróquia é e sempre foi a Santíssima Trindade. Só com a publicação do novo Código Administrativo, em 1940, a freguesia civil passou a denominar-se de Lajes do Pico. No entanto a Paroquia e Igreja Matriz sempre tiveram por titular a Santíssima Trindade. Já Frei Diogo das Chagas, em “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”, uma obra que, segundo o Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, foi escrita entre os anos de 1646 e 1654, aproximadamente, diz que na Ilha do Pico existiam treze freguesias, entre as quais, a primeira: Villa das Lagens – Orago A Trindade. (sic).
Lamentável é que a freguesia não tivesse conservado o mesmo título, pois ainda hoje a alteração estabelece confusão em certos documentos, como sejam os do Registo Civil.
Realmente há alterações que não se justificam como sejam as de natureza toponómica. Referindo-se à ribeira da Burra, no principio da Ribeira do Meio, Lacerda Machado, na sua História do Concelho das Lages, faz este judicioso comentário:
“...Jurdão Alvares Evangelho começou a sua (povoação) polla parte aonde se diz Ribrª do meio.
“Confirmando esta tradição, conservou sempre o nome de Fernão Alvares a que, desde algumas dezenas de anos, estupidamente se chama da burra, fazendo-se desaparecer da toponímia local uma expressão que representava apreciável vestígio histórico e veneração pela memória do primeiro povoador, fundador da vila. Esta começou junto á ermida de S. Pedro, onde becos estreitos e tortuosos bem claramente indicam o início da povoação, confirmando a tradição e a história”.
Foi pena que a ribeira não conservasse o primitivo nome. Hoje continua a ser ribeira da burra ou ribeira do Alqueve, como também passou a ser conhecida.
O já tradicional Império de São Pedro realizou-se na passada segunda-feira com grande concurso de pessoas vindas de todas ou quase todas as freguesias da ilha e até da vizinha ilha do Faial.
Votos faço para que se mantenha por muitos e largos anos!
Vila das Lajes, 30 de Junho de 2009
Ermelindo Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário