Apareceram na década de vinte do século passado, para substituir os antigos iates à vela, “São João Baptista”, “Espírito Santo e “Bom Jesus”. Naturalmente foram envelhecendo e já desapareceram.
A “Lourdes”, e um ano depois a “Hermínia”, representaram, para os lajenses e picoenses, um verdadeiro progresso. Para o lado Sul não havia estradas. Eram as lanchas da Vila que, semanalmente, ligavam a Calheta e Ribeiras (Santa Cruz) aos portos do Sul do Pico até à Horta. Iam e vinham no mesmo dia. Conduziam passageiros e carga diversa. A mais volumosa era embarcada na freguesia de São João, que exportava para a Horta o tradicional “Queijo do Pico”, recolhido pelo João dos Queijos nas freguesias da Ponta e preparados e curados pelas queijeiras daquela freguesia De São João exportavam também carvão, produzido no Mistério.
Das outras freguesias exportava-se tudo o que possível era, principalmente peixe seco, banha de porco, linguiça e outros produtos.
Da vila das Lajes enviava-se para a cidade fruta diversa, principalmente laranjas e bananas.
Toda a gente procurava “fazer dinheiro” daquilo que lhe sobrava das necessidades domésticas.
Da Horta traziam as lanchas das Lajes todo o género de mercadoria, principalmente farinha de trigo e sêmea da Moagem dos Peixotos; géneros de mercearia das Casas de atacado que lá existiam, e outros produtos, incluiindo materiais de construção.
Normalmente as lanchas saiam da Horta ao meio dia para virem entrando nos portos do Pico, onde desembarcavam passageiros e cargas: São Mateus, Prainha, São João e Lajes. Daqui seguiam até Santa Cruz e Calheta, regressando já noite dentro.
No verão as viagens eram maravilhosas e muitos aproveitavam para ir até à Horta, onde tratavam dos seus negócios. No entanto, no Inverno acontecia fazerem viagens tormentosas.
Timonadas por bons e experimentados mestres, - Francisco Machado Joaquim, João Machado Soares e José Pereira Bagaço, na “Hermínia” e José Machado “Tiaguinha”, na “Lourdes” (destes me
recordo) – felizmente nunca tiveram qualquer sinistro, nem mesmo na perigosa entrada da “Carreira” no porto das Lajes. Foram óptimos os serviços prestaram aos picoenses durante dezenas de anos.
Normalmente, por vezes alternadamente, faziam uma viagem semanal à segunda-feira. Nos restantes dias auxiliavam na caça à baleia, quando ela aparecia, e tinham também a seu cargo o serviço de passageiros e reboque dos batelões de carga dos navios da Empresa Insulana de Navegação, “Lima” e “Terceirense”, e, mais tarde dos “Carvalhinhos” que lhes seguiram.
Chegaram a fazer serviço no canal Pico - Faial, quando as lanchas dos Lourenços avariavam. E quando as lanchas das Lajes lá iam, eram as preferidas!
Depois... com a introdução da pesca do atum, a “Lourdes” foi destruída para dar lugar à traineira “Geralda” e a “Hermínia” também foi queimada, por exigências da lei vigente.
Na Calheta de Nesquim, foi criada, na década de trinta uma Cooperativa que passou a explorar um estabelecimento comercial e, a seguir, mandou construir a lancha a motor “Calheta”, destinada a viagens semanais, ligando o Faial, Pico e S. Jorge até â Terceira. Navegou alguns verões, sob o comando do Mestre José Goulart, com sucesso e óptimos serviços prestados aos habitantes das referidas ilhas. Era uma alegria para os picoenses quando, no principio do verão, a “Calheta” chegava ao porto de Angra. Muitos picoenses se juntavam no pátio da Alfandega, para receber notícias da sua ilha. Mais tarde a “Calheta” foi vendida à Empresa das Lanchas do Pico e acabou seus dias no porto da Madalena.
Foi realmente uma época de verdadeiro progresso para os picoenses, depois das tormentas causadas pela guerra (1914-18) , e que teve o mérito de promover a aproximação dos povos das ilhas do hoje chamado Grupo Central.
Nos finais da década de vinte e princípio da de trinta apareceram os iates motorizados “Ribeirense” do Mestre João Silveira Alves e compnhia e, a seguir, o “Andorinha”, do Mestre José Gaspar e outros.. Mais tarde. o “Santo Amaro”, a chalupa “Helena” o “Terra Alta”, e outros mais. Alguns deles anteriormente navegavam à vela. Tudo, porém, terminou ingloriamente.
E a “história” fica por aqui.
Vila das Lajes, 1º dia do Verão de 2009.
Ermelindo Ávila
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