sábado, 6 de junho de 2009

O PE XAVIER MADRUGA E O "SEU" O DEVER

O Padre João Vieira Xavier Madruga nasceu nesta Vila a 1 de Junho de l883, filho de António Xavier Madruga e de Maria do Rosário Vieira.

Bastante jovem ingressou no Seminário de Angra onde veio a ordenar-se em 5 de Novembro de 1905, aos vinte e dois anos de idade.

Após a ordenação foi nomeado prefeito e professor do Seminário. Entretanto, desde seminarista colaborou na imprensa católica angrense.

Com a proclamação da República e promulgação da nefasta lei da separação, em Outubro de 1911 o Seminário fechou, pois o Administrador do Concelho, alegando ordens superiores, tomou conta das chaves e bem assim de todos os haveres (mobiliário, biblioteca, museu, instalações eléctricas, louças, etc.)

“Na Vila do Topo, (diz o Cónego Pereira, A Diocese de Angra e a História dos seus Prelados, 2ª parte). Quando o Revº Pe. Armelim Mendonça, que havia feito concurso para a respectiva Matriz, veio tomar posse da igreja, uma multidão, movida por caciques políticos, foi-lhe ao encontro, gritando que o não queria, ali. O Pe. Armelim retirou para S. Antão, onde veio a ser colocado.”

Dias depois, continua o Cº Pereira “ os manifestantes apagaram a lâmpada do SS. Sacramento, deixando ficar no Sacrário as Sagradas Espécies, fecharam a igreja e foram em procissão lanças as chaves ao mar”.

Foi neste ambiente de terror que o Vigário Capitular, que governava a Diocese, pediu ao Pe. Xavier Madruga para vir para a paróquia e ouvidoria do Topo, em S. Jorge.

Sempre obediente às ordens dos Superiores, o Pe. Madruga aceitou, profundamente consternado e consciente do ambiente que o aguardava. E assim aconteceu. As perseguições, as calúnias, os ataques morais não se fizeram esperar e o Pe. Madruga passou, durante os anos em que paroquiou aquela vila jorgense, os mais atrozes sofrimentos.

Todavia, não virou costas a todo esse cortejo de ataques vis e mesquinhos, de alguém que, passados anos, o procurou pessoalmente para lhe pedir perdão.

Em 2 de Junho de 1917 funda um jornal. Nele procura defender a Igreja dos ataques jacobinos de que era vítima. E o jornal continuou. Passou a ser editado na vila da Calheta para ter o apoio do colega, Pe. José Joaquim de Matos, que sempre o acompanhou até ao falecimento. O jornal foi mantido algum tempo mais na vila da Calheta com ajuda do poeta Samuel da Silveira Amorim, embora sujeito a uma censura mesquinha do respectivo administrador. Isso levou o combativo e vigoroso jornalista que era o P. Madruga, já então a residir na ilha do Pico, a pedir a transferência da Censura para a Horta, o que lhe foi concedido. Mas não ficou por aí. Em Setembro de 1938 transfere para esta vila a oficina tipográfica e a redacção do jornal. “O Dever” passou a ser um jornal lajense, em plenitude. Ele aí está.

O Pe. Madruga faleceu em 30 de Março de 1971. Antes havia transferido, por venda simbólica, a propriedade e os haveres do jornal para a Paróquia da Santíssima Trindade das Lajes do Pico. E o jornal, felizmente, continua. No dia 2 do corrente mês celebrou noventa e dois anos. Quase um século. O mais antigo jornal das ilhas do ex-distrito da Horta e o segundo semanário, em antiguidade, dos Açores. Uma relíquia de que são proprietários os lajenses a quem compete mantê-lo e conservá-lo com o mesmo entusiasmo e elevação cultural que sempre lhe imprimiu o seu Fundador.

(Como mero registo, aqui deixo esta simples informação: Iniciei a minha modesta colaboração no jornal em Abril de l932. São decorridos setenta e sete (77) anos ! Fui seu editor desde a chegada às Lajes, seu redactor principal e administrador durante algumas dezenas de anos. Durante a estada nos Estados Unidos do Pe. Xavier Madruga, de 1945 a 1948 assumi a responsabilidade da direcção do jornal. Agora sou um mero rabiscador de singelas crónica).


Vila das Lajes, Junho de 2009

Ermelindo Ávila

1 comentário:

Anónimo disse...

Também eu "trabalhei" naquela casa, quando a tipografia se situava nos baixos da casa do Sr. Rodriguinhos. Fui substituír o Sr. Alexandre e ou o Alcindo, a dar ao pedal, na impressão de "O Dever". Aos sábados, de manhã, não podia faltar. Ajudava a imprimir os jornais e, logo depois, ainda com os mesmos a cheirar a fresco, lá os ia distribuír, porta a porta, pelos assinantes da Vila. Os tempos não eram fáceis e 17$00 (12 pela impressão mais 5 pela distribuição)davam uma grande ajuda ao magro orçamento familiar.
É certo e justo salientar o Senhor Padre Madruga como o grande criador e mentor do Jornal mas, também será justo referir que sem o esforço, a dedicação, os defeitos e as virtudes e o amor de uns poucos, não teria sido possível ao "nosso" O DEVER ter chegado aos dias de hoje.
Bom Domingo da Trindade para todos.