NOTAS DO MEU CANTINHO
Apetecia mais intitular este arrazoado de “A Vila das Lajes em ruínas...” Fica porém assim para não ferir certas susceptibilidades. Mas, na realidade, a Vila vai caindo em ruínas. Em ruínas materiais e económico-sociais.
E princípio pela já histórica “Casa da Maricas do Tomé”, hoje propriedade do Município Lajense, que ameaça ruínas e qualquer dia poderá causar desastres irreparáveis. A seguir está a casa que foi a antiga “Pensão Velha” e que pertenceu à Família Bettencourt de Faria. Uma magnífica moradia, com um excelente alçado exterior, cujo actual proprietário desconheço. Infelizmente está já em ruínas. Perdeu o terceiro piso (torre), e o interior já desapareceu. Depois é a “nossa casa” como a classifiquei há dias, a mais antiga da Vila e com um traçado do século XVIII. Qualquer dia desaba o tecto, pois a derrocada já principiou. Também desconheço a quem hoje pertence. E outras ruínas existem em outras ruas.
Afinal, uma vil tristeza o que vai acontecendo na Vila mais antiga e mais urbana da Ilha do Pico. E não são os lajenses – seus habitantes – somente os culpados de tamanhas desgraças.
Qualquer dia acontece o mesmo à antiga casa da Alfandega, que pertenceu à Família do Visconde Borges da Silva e é actualmente propriedade do Estado. Nela esteve instalado o antigo Posto Aduaneiro, depois a Secção da Guarda Fiscal / Guarda Nacional Republicana, agora parece ser de ninguém, pois as placas indicativas dos serviços foram retiradas e a casa abandonada.
Melhor sorte teve o edifício da Delegação Marítima que, depois de certo abandono e do encerramento dos Serviços, está a ser convenientemente restaurado, naturalmente para regressar ao activo...
Por aquilo que os Políticos anunciam com desmesurado emprenho, o mesmo vai acontecer ao edifício grandioso da Escola Básica e Secundária, se for por diante a sua transferência para uma zona distante da Vila três quilómetros aproximadamente! Esse será o golpe fatal na existência da antiga vila. A sua morte certa!
Quando, na Região, se vão transformando freguesias em vilas e vilas em cidades, parece que há o empenho de retirar o estatuto de vila à mais antiga da ilha e uma das primeiras dos Açores, com um passado histórico rico e dignificante para os habitantes do concelho, que não apenas para aqueles que sempre residiram no velho burgo.
E esse desmantelar criminoso principiou com a retirada de certos Serviços Públicos, transferidos para outras terras com o propósito descarado, e sub-reptício, ao menos aparente, de engrandecer essas terras e diminuir, a pouco e pouco, as valências burocráticas e oficiais da vila, hoje cognominada “Baleeira”, uma actividade que também lhe foi retirada.
Mudar a Escola para longe da Vila, é o acto político mais desastroso que se pode praticar. Quem o fizer ficará com o seu nome registado na História como um dos mais perversos gestores públicos de todos os tempos. O actual edifício, com as devidas adaptações, não terá condições pedagógicas para continuar a preparar a juventude para o futuro?
Demais, os actuais alunos, em diversos ramos do Ensino, continuam a ser bons e, alguns, dos melhores, nas escolas superiores onde prosseguem os estudos, prova de que a preparação que cá tiveram, não foi descorada.
De considerar ainda, que a população escolar vai diminuindo, com a ausência de juventude no concelho. É o que dizem as estatísticas e elas é que servem de base aos estudos demográficos e escolares. E pior será com a criação, programada, da futura escola preparatória da Piedade. Afinal, tudo isto confirma que o actual edifício ficará com espaços livres para todos os serviços escolares.
Salvem a Vila das Lajes! Mantenham os seus serviços públicos e olhem atempadamente pelo seu património; um património histórico que merece ser salvaguardado.
Quem para isso contribuir terá, esse sim, a gratidão e o reconhecimento dos lajenses, presentes e futuros.
Ainda é tempo de se recuar com tão pérfida medida política.
Tanto mais que havia a dizer sobre este caso único!...
Hoje aqui deixo um veemente apelo para que esse recuo aconteça. Da minha parte não farei muitos mais.
Vila das Lajes,
1 de Junho de 2009
Ermelindo Ávila
3 comentários:
Penso que essa não é apenas uma decisão política. Os orgãos directivos da própria Escola, composto por cidadãos da Terra, estão de acordo com as propostas feitas ou senão, não deixavam que essas ideias avançassem.
Estava de acordo consigo no início do seu texto e pensava que estavamos a falar de edíficios a cair e que a Câmara Municipal nada faz para que isso não aconteça. Fiquei decepcionado com o desfecho do tema. No entanto devo referir que ainda hoje pensei sobre os edifícios e devo salientar que para além dos que já referiu, há mais alguns que estão a dar uma imagem horrível de uma vila que cada vez mais se assume como vila turística e assim sendo deve tornar-se bela aos olhos de quem a vê. O grande edifício da antiga fábrica de laticínios mesmo na "entrada da freguesia" - no cruzamento da transversal - e o antigo matadoro, englobado no novo espaço turistico - centro de artes e posto de turismo municipal, são espaços de urgente reparo.
As Lajes tem de se tornar a Vila do Turismo e para o Turismo, já que não consegue cativar a população local.
Essa deve ser a aposta, pensada e organizada.
Agora, que o poço parece jorrar petróleo por tudo quanto é sítio, nada se pensa fazer no que à "Casa da Maricas Tomé" diz respeito.(?) Peço desculpa mas, em termos de planeamento sério, estamos conversados. Já agora e em talho de foice, se o Jardim Mágico da Baleia vir a luz do dia, não se esqueçam de o enquadrar com a nova "Pesqueira".
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