NOTAS
DO MEU CANTINHO
No último domingo de Setembro
realiza-se, na Manhenha, freguesia da Piedade, e na sua ermida
própria dedicada a S. Tomé, a tradicional festa de Nossa Senhora
das Mercês.
A
Manhenha era, outrora, um simples lugar de adegas. Manuel Greaves,
num dos seus livros, publicados em meados do século passado,
denominou aquele interessante subúrbio da Piedade, de “A vileta
das cem adegas”. Hoje a Manhenha é um subúrbio da freguesia, onde
se fixaram mais de vinte famílias ocupando prédios de recente
construção, de magnífica traça, alguns deles construídos por
emigrantes, ora regressados, ou que vêm à terra, anualmente, passar
a estação calmosa. Tem uma sociedade recreativa a funcionar,
diariamente, com o respectivo bar e um excelente restaurante em
prédio próprio.
Mas o mesmo acontece nos lugares do
Calhau e Cais do Galego, que circundam uma das melhores baías do
Pico, ampla e abrigada dos ventos predominantes. O Calhau tem um bom
cais a servir o porto de mar que é. Até na Engrade já existe uma
dúzia de adegas-vivendas.
Estes lugares, apetecidas estâncias
de veraneio, eram grandes produtores do histórico vinho Verdelho,
daqui exportado para o Norte da Europa em barcas próprias, e
desapareceu com a doença das vinhas, ou filoxera, que as atingiu a
meados do século XIX, que foi substituído pela uva “Isabela” ou
americana. A Ponta da Ilha é a maior produtora do tradicional “Vinho
de Cheiro”, apesar de alguns proprietários terem abandonado uma
parte dos terrenos, provocando o desenvolvimento de arvoredo de
espécies infestantes. Mas esses mesmos sítios valem pelo clima e
pela beleza dos panoramas.
Curiosamente,
em todos estes lugares existem ermidas dedicadas aos santos titulares
da devoção dos habitantes. A ermida de São Tomé da Manhenha é,
talvez, a mais antiga. No Calhau existe a ermida de N.ª Sr.ª da
Conceição da Rocha, construída pelo Pe. Manuel Inácio da Silveira
Campelo e que, da Terceira, todos os anos vinha passar o verão no
aprazível lugar. Durante muitos anos esteve esta ermida abandonada e
quase a ruir, até que, no último ano, o respectivo proprietário a
restaurou, recuperando a sua traça primitiva.
Porque o Calhau é um excelente
porto de mar, os marítimos da localidade ergueram uma ermida
dedicada a Nª. Sr.ª da Boa Viagem, cuja festa celebraram no último
domingo.
No Cais do Galego é festejado há
anos São João pelos proprietários do sítio.
Na
Engrade já está organizada uma associação e escolhido o terreno
para a construção de uma ermida que, ao que dizem, será dedicada
ao Beato João Paulo II.
No lugar dos Fetais um importante
núcleo habitacional da freguesia, foi há anos construída uma ampla
ermida, dedicada a Santo António, onde semanalmente, e fora da época
estival, é celebrada a Eucaristia.
Ficará d´esta arte a paróquia da
Piedade a dispor de cinco centros do culto católico, além do
magnífico templo, recentemente restaurado, e que é um dos mais
belos da Ilha. E, diga-se de passagem, o Pico tem um património
riquíssimo nas suas igrejas e ermidas, um conjunto dos mais
importantes dos Açores, duma grandeza e beleza arquitectónica pouco
vulgares. Afinal, uma demonstração bem visível da religiosidade do
seu povo e dos esforços que vem fazendo, ao longo dos cincos séculos
de existência, - tenha-se presente o caso bem recente da Matriz da
Santíssima Trindade da Vila das Lajes - pelas suas ermidas, igrejas
e até os conventos franciscanos. E não são poucos, muito embora
alguns estejam a sofrer um certo abandono, aí, ao que consta, à
falta de párocos próprios.
A Festa que se celebra na Manhenha
é a despedida do verão. Prova-se o vinho, recebem-se os amigos e
conhecidos, e até os visitantes que, por vezes, são às centenas e
até milhares.
Engrade,
Piedade,
24-Setº.-2012
Ermelindo
Ávila
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