NOTAS DO MEU CANTINHO
O
RETORNO ...
Até meados
do século XX a emigração açoriana dirigia-se para países
estrangeiros, principalmente o Brasil. A seguir foi a emigração
para os Estados Unidos da América. Mas esta tinha características
muito diferentes das actuais.
Normalmente,
quem emigrava para o Brasil “esquecia-se” por lá e deixava de
dar notícias. Raros eram os que voltavam. Haja em vista o que
aconteceu com os “casais” que, após as erupções vulcânicas do
século XVIII, foram levados para o Estado de Santa Catarina. Daí
correr o adágio: O Brasil é a terra dos esquecidos.
A emigração
para os Estados Unidos da América, iniciou-se quase só de “salto”
nas baleeiras americanas, embora estas ainda sob a bandeira inglesa.
O notável
escritor e contista Florêncio Terra, na obra póstuma “A Caça à
Baleia nos Açores”, (para só citar este Autor). Refere: “No
ano de 1678, por exemplo, os ingleses obtiveram 800 contos de azeite,
tendo empregado 200 navios de um mastro e com capacidade cada um,
para 250 barris de óleo, cada barrica levando 50 canadas. Vendia-se
nesse tempo o azeite de baleia a 200 rs. A canada (2,33 litros) e o
de cachalote a 300 rs. Um ofício do Capitão General dos Açores, D.
Antão de Almada, para o Governo, em 19.10-1768, refere-se a muito
espermaceti e âmbar que então havia, e apresenta informações
interessantes relativas a essa indústria ali efectuada em barcos
ingleses”.
Alguns
desses emigrantes “de salto” por lá ficaram, outros voltaram,
principalmente, para iniciar aqui a actividade baleeira, como foi o
caso do Capitão Anselmo. E não só.
Seguiu-se a
emigração em termos legais. Pelos portos dos Açores passaram, além
de outros, os barcos dos “Transportes Marítimos do Estado”.
Apareceram depois os italianos, primeiro o “Sinaia” e, a seguir,
outros de maior tonelagem, como o “Vulcânia” e o “Saturnia”.
Quando estes por cá apareceram, um jornalista açoriano
classificou-se de “cidades flutuantes”!
Normalmente,
os emigrantes iam solteiros, com o propósito de voltarem, pois na
terra, além dos pais e mais familiares, quase sempre deixavam as
namoradas. Alguns esqueciam-se outros cumpriam a promessa... A grande
maioria nunca mais voltou à terra e, da família, nos primeiros
tempos, lembrava-se quase somente pelo Natal.
Organizaram
as suas vidas, constituíram família e tornaram-se elementos válidos
nas Terras do Tio Sam. A testemunhar a sua actividade estão as
igrejas católicas, as sociedades fraternais e muito do comércio e
indústria que, principalmente na Califórnia, ainda hoje prospera. E
não refiro nomes, que o podia fazer...
Mas, após
a guerra de 1914-1918, a América fechou-se à imigração e anos se
passaram sem que alguém pudesse para lá emigrar.
Mesmo assim
muitos voltaram às terras de origem e foram eles que passaram a
adquirir os terrenos – de semeadura e pastagem – das famílias
morgadias, decaídas, o que permitiu a divisão normalizada da
propriedade rústica. Uma situação que não pode esquecer-se pois
modificou totalmente a vida familiar e económica destas terras.
Na década
de cinquenta do século XX rebentou na ilha do Faial o Vulcão dos
Capelinhos. Os americanos sensibilizaram-se com a situação
angustiante de muitas famílias faialenses e permitiram que algumas
delas emigrassem para aquele país. Entretanto, as leis americanas
são modificadas e abre-se a emigração a muitos açorianos e
portugueses. Foi o êxodo.
Não
emigraram unicamente indivíduos isolados. Saíram famílias
inteiras. Naturalmente quase toda a juventude. As freguesias foram
despovoadas e por cá ficaram quase só os velhos. Não refiro as
situações de prosperidade que muitos alcançaram nas terras da
Diáspora. Felizmente.
No entanto,
os reflexos dessa saída, algo precipitada, estão a verificar-se.
Temos uma população praticamente envelhecida, incapaz de ter novas
iniciativas de actividades económicas. Alguns dos que ficaram vivem
das reformas e dos subsídios estatais. Outros vão-se recolhendo aos
lares da terceira idade que, entretanto, se vão criando em quase
todos os concelhos. E a juventude que aqui e ali aparece, raro se
fica pela terra. Caminha para outros meios para continuar estudos ou
conseguir empregos e não voltam.
Uma
situação angustiosa, afinal, que ninguém é capaz de
alterar.
Vila das Lajes,
9 de Maio de 2012-
Ermelindo Ávila
(Escrito
de acordo com a ortografia antiga)
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