quarta-feira, 23 de maio de 2012


NOTAS DO MEU CANTINHO


O RETORNO ...


Até meados do século XX a emigração açoriana dirigia-se para países estrangeiros, principalmente o Brasil. A seguir foi a emigração para os Estados Unidos da América. Mas esta tinha características muito diferentes das actuais.
Normalmente, quem emigrava para o Brasil “esquecia-se” por lá e deixava de dar notícias. Raros eram os que voltavam. Haja em vista o que aconteceu com os “casais” que, após as erupções vulcânicas do século XVIII, foram levados para o Estado de Santa Catarina. Daí correr o adágio: O Brasil é a terra dos esquecidos.
A emigração para os Estados Unidos da América, iniciou-se quase só de “salto” nas baleeiras americanas, embora estas ainda sob a bandeira inglesa.
O notável escritor e contista Florêncio Terra, na obra póstuma “A Caça à Baleia nos Açores”, (para só citar este Autor). Refere: “No ano de 1678, por exemplo, os ingleses obtiveram 800 contos de azeite, tendo empregado 200 navios de um mastro e com capacidade cada um, para 250 barris de óleo, cada barrica levando 50 canadas. Vendia-se nesse tempo o azeite de baleia a 200 rs. A canada (2,33 litros) e o de cachalote a 300 rs. Um ofício do Capitão General dos Açores, D. Antão de Almada, para o Governo, em 19.10-1768, refere-se a muito espermaceti e âmbar que então havia, e apresenta informações interessantes relativas a essa indústria ali efectuada em barcos ingleses”.
Alguns desses emigrantes “de salto” por lá ficaram, outros voltaram, principalmente, para iniciar aqui a actividade baleeira, como foi o caso do Capitão Anselmo. E não só.
Seguiu-se a emigração em termos legais. Pelos portos dos Açores passaram, além de outros, os barcos dos “Transportes Marítimos do Estado”. Apareceram depois os italianos, primeiro o “Sinaia” e, a seguir, outros de maior tonelagem, como o “Vulcânia” e o “Saturnia”. Quando estes por cá apareceram, um jornalista açoriano classificou-se de “cidades flutuantes”!
Normalmente, os emigrantes iam solteiros, com o propósito de voltarem, pois na terra, além dos pais e mais familiares, quase sempre deixavam as namoradas. Alguns esqueciam-se outros cumpriam a promessa... A grande maioria nunca mais voltou à terra e, da família, nos primeiros tempos, lembrava-se quase somente pelo Natal.
Organizaram as suas vidas, constituíram família e tornaram-se elementos válidos nas Terras do Tio Sam. A testemunhar a sua actividade estão as igrejas católicas, as sociedades fraternais e muito do comércio e indústria que, principalmente na Califórnia, ainda hoje prospera. E não refiro nomes, que o podia fazer...
Mas, após a guerra de 1914-1918, a América fechou-se à imigração e anos se passaram sem que alguém pudesse para lá emigrar.
Mesmo assim muitos voltaram às terras de origem e foram eles que passaram a adquirir os terrenos – de semeadura e pastagem – das famílias morgadias, decaídas, o que permitiu a divisão normalizada da propriedade rústica. Uma situação que não pode esquecer-se pois modificou totalmente a vida familiar e económica destas terras.
Na década de cinquenta do século XX rebentou na ilha do Faial o Vulcão dos Capelinhos. Os americanos sensibilizaram-se com a situação angustiante de muitas famílias faialenses e permitiram que algumas delas emigrassem para aquele país. Entretanto, as leis americanas são modificadas e abre-se a emigração a muitos açorianos e portugueses. Foi o êxodo.
Não emigraram unicamente indivíduos isolados. Saíram famílias inteiras. Naturalmente quase toda a juventude. As freguesias foram despovoadas e por cá ficaram quase só os velhos. Não refiro as situações de prosperidade que muitos alcançaram nas terras da Diáspora. Felizmente.
No entanto, os reflexos dessa saída, algo precipitada, estão a verificar-se. Temos uma população praticamente envelhecida, incapaz de ter novas iniciativas de actividades económicas. Alguns dos que ficaram vivem das reformas e dos subsídios estatais. Outros vão-se recolhendo aos lares da terceira idade que, entretanto, se vão criando em quase todos os concelhos. E a juventude que aqui e ali aparece, raro se fica pela terra. Caminha para outros meios para continuar estudos ou conseguir empregos e não voltam.
Uma situação angustiosa, afinal, que ninguém é capaz de alterar.

Vila das Lajes,
9 de Maio de 2012-
Ermelindo Ávila
(Escrito de acordo com a ortografia antiga)

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