O ciclo festivo
denominado “As Domingas terminou. E, como vulgarmente
se diz, este ano foi o "ano das Terras”. Isso significa que,
durante as Domingas, após o domingo de Páscoa, diversas famílias,
seguindo uma tradição muito antiga, “levaram a Corôa” e deram
jantar a muitos convidados. Os dois últimos domingos, entre a Páscoa
e o Pentecostes não foram ocupados, pois os antigos “irmãos” já
não existem e não deixaram famílias para os continuar.
Mesmo assim, foram cinco
domingos de festa para o subúrbio das Terras, desta vila das Lajes
do Pico.
O mesmo aconteceu na
Almagreira, onde ainda existe idêntica Irmandade, embora esteja
também quase inexistente.
Mesmo assim, foram cinco
domingos em que aquele lugar das Terras esteve em festa permanente,
pois, durante a semana que antecedia o domingo, havia os naturais
preparativos para o jantar em cujos trabalhos se ocupava a quase
totalidade da população. À noite, não faltava o terço cantado
com a presença dos foliões. Na sexta-feira de cada semana o mordomo
oferecia aos familiares e convidados uma merenda que, afinal, era um
excelente repasto com variados manjares.
Notória a
confraternização e o entendimento que existia entre as pessoas,
quer as simplesmente convidadas quer aquelas, principalmente jovens,
que se ocupavam, nas diversas tarefas preparatórias e,
principalmente, na distribuição das sopas e assistência atenta às
mesas.
A animar as Coroações
estiveram sempre presentes os Foliões, com seus cantares alusivos e,
em alguns domingos, filarmónicas que abrilhantavam os cortejos
processionais.
Nos domingos festivos,
as Corôas, - no último estiveram dez, - saíam das residências dos
Mordomos e, em procissão, formada pelos quadros de varas onde iam os
portadores dos estandartes alçados e as Coroas, levando à frente
os foliões. Depois seguiam, acompanhados dos familiares e de muitos
convidados, para a Ermida do Coração de Maria, onde se celebrava
Eucaristia solene, cantada. No final o sacerdote celebrante coroava
os mordomos e seus representantes. Depois de arrematadas as ofertas
que o Mordomo leva à Igreja (pães de massa sovada, uma terrina de
sopas, uma travessa de carne e uma garrafa de vinho – o vinho de
cheiro do Pico, tanto apreciado nestas ocasiões), era reorganizado
o cortejo que voltava a passar pela casa do mordomo para se dirigir
a seguir para o vasto salão do lugar, pertença da Sociedade
Recreativa Alegria no Campo, mas sempre de portas abertas para as
festividades. Aí eram servidas as “sopas do Espírito Santo”.
A ementa do jantar era e
é sempre igual em todas as funções mas sempre apetecida: as
tradicionais sopas com carne cozida, depois carne assada e a seguir
arroz doce e, em algumas, também bolos doces. Nas mesas abundavam o
queijo e a massa sovada, para as “entradas” nunca faltando o
vinho, os refrescos e as águas minerais.
À apresentação de
cada iguaria é costume os foliões, que ocupavam lugares perto dos
tronos onde estavam as Coroas, entoavam loas apropriadas. E se havia
filarmónica, esta, no final do jantar, habitualmente executa o hino
do Espírito Santo e uma marcha ligeira.
No corrente ano foram
mordomos: no primeiro domingo, Alberto Pimentel e esposa Vicência
Soares Pimentel; no segundo, Manuel da Rosa e esposa Hortense Soares;
no terceiro, José Simões e esposa Maria Fernanda Simões, que
expressamente vieram dos Estados Unidos, onde residem, para cumprir o
voto, que vem, como os outros, de seus antepassados; no quarto
domingo, Manuel Pereira Madruga e esposa Maria Armanda Madruga; e,
no quinto domingo, José Adelino Fagundes e esposa e Fátima
Fagundes.
De registar o lançamento
do novo livro da luso-americana Maria Fernanda Simões, Em cada
Canto um Divino Espírito Santo, realizado a seguir à
merenda da Sexta-feira da semana em que a Autora, como disse, foi
Mordoma. Um evento que teve larga assistência. Trata-se de um
trabalho bastante ilustrado e com Arranjo Gráfico e impressão da
Nova Gráfica, Lda. Em Nota Explicativa escreve a Maria
Fernanda: “... para que festas antigas do Divino Espírito
Santo não caíssem no esquecimento, resolvi escrever este quarto
livro que intitulo Domingas ou
Folias, no lugar das Terras, únicas celebrações que ali
existem , muito características no lugar, porque vêm de longa
data”. Poucas localidades açorianas manterão ainda esta
tradição das Domingas, embora celebrem diversos actos de culto em
louvor da Terceira Pessoa da SS. Trindade. Eles revelam o respeito
dos picoenses pela tradição religiosa de seus Maiores e um
autêntico espírito de sacrifício, de confraternização e de
amizade entre as famílias e conhecidos, e uma devoção permanente à
Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Os maiores louvores aos
mordomos e aos habitantes do progressivo lugar das Terras.
Vila das Lajes,
Semana do Espírito Santo
de 2012.
Ermelindo Ávila
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