Junto
do cabeçalho do jornal ainda se encontra o seu nome. E de lá não
deve sair.
O
Pe. João Vieira Xavier Madruga nasceu nas Lajes do Pico no dia 1 de
Junho de 1883. Há precisamente 129 anos! Todavia a sua memória está
sempre presente para aqueles que ainda o conheceram, pois veio a
falecer na sua casa, nesta vila, em 1971, aos 88 anos de idade. Mesmo
assim foi sempre um espírito brilhante e um escritor, mais do que
jornalista, de enormes méritos. Conhecia como poucos a gramática
portuguesa – foi professor de português no Seminário após a
ordenação – e era portador de um vocabulário rico, apesar de a
seu lado, na pequena escrevaninha, estar sempre o dicionário
português. Um Mestre na arte de bem escrever, de que alguns foram
alunos aproveitados.
O
Dever, seu filho
predilecto, “nasceu”, a 2 de Junho de 1917. Já então o seu
fundador andava embrenhado nas lides jornalísticas, pois desde os
bancos do seminário colaborava quase permanentemente no jornal de
Angra, “Peregrino de Lourdes”, de Monsenhor António Maria
Ferreira.
E
O Dever
aí está. Ocorre no próximo sábado o aniversário da sua fundação.
Nada menos do que 95 anos. Quase um século. Sempre vigoroso e sempre
actual. Demais os jornais não têm idade. Ou antes: têm a idade de
quem os dirige. E porque dirigido actualmente por gente nova, ele aí
está capaz de caminhar por muitos anos fora, para prestígio da
Igreja da qual é um paladino intemerato, e da própria terra onde se
instalou há 73 anos! (O
Dever iniciou a
publicação na Calheta de S. Jorge e, em 1938, foi transferido, por
vontade expressa do Director e Proprietário, para esta vila, onde
continua).
Em
7 de Janeiro de 1939 O
Dever atingia o
número 1.000 de publicação. No seu habitual “Meu
cantinho” escrevia
o P. Xavier Madruga:
Mal imagina o leitor deste modesto semanário o que representa, para
os que nesta casa labutam, como pedra marcante do caminho percorrido
angustioso instrumento de trabalho, aquele número mil no alto do
jornal! São mil semanas de” grilheta e trabalhos forçados. E
depois:
Mas se a imprensa tem obrigações para com o público, este também
as tem para com ele. O jornal faz o leitor e o leitor faz o jornal. E
ainda: Um
milhar de números de “O Dever” quer dizer que, sob o signo
bendito “Deus e Portugal” durante mil semanas arvorámos sem
temor uma bandeira gloriosa, quisemos ser instrumentos fiéis de
Ideias e Princípios Eternos, dissipando erros, e ajudando no
possível a verdade a triunfar. E Deus sabe a sinceridade com que
procurámos servi-Lo – servindo a Igreja e os interesses supremos
de Portugal.
E
que alegria não sentiria hoje o P. Xavier Madruga ao ver que o
jornal que ele fundou com tanto entusiasmo e dedicação, atingia
neste dia 4699 números publicados.
Mas
o jornal não se deve quedar pelos louros alcançados, antes caminhar
com o mesmo entusiasmo da primeira hora para o futuro, tendo sempre
presente a defesa dos sãos princípios da Igreja a que pertence e
que serve e da Terra onde se publica à qual, aliás, bastos serviços
lhe vem prestando. Foram várias as campanhas que empreendeu – e
nele se encontram arquivadas – e os triunfos alcançados. O
Dever é um autêntico
paladino dos direitos da Ilha e particularmente do concelho das
Lajes. Nunca disso recebeu agradecimento público e bem o merece. É
sempre tempo de se fazer justiça. Demais a sua colecção é um
património rico de história que se espera seja salvaguardado.
E
fico por aqui nesta modesta homenagem à saudosa memória do
Fundador, P. Xavier Madruga, com quem orgulhosamente colaborei muitos
anos, e com o qual muito aprendi, e a quantos lhe sucederam na
direcção do jornal, não esquecendo as muito e distintas
personalidades que colaboraram assiduamente em O
Dever !
Vila
das Lajes,
Maio
de 2012.
Ermelindo
Ávila
(Escrito
de acordo com antiga ortografia)
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