terça-feira, 26 de junho de 2012

A POLÍTCA DE HÁ UM SÉCULO


APONTAMENTO HISTÓRICO

           Era muito diferente a política exercida por estas paragens há anos passados.
          Trabalhavam-se os actos eleitorais. Pediam-se os votos de porta a porta e pela calada da noite, mas terminados eles a vida das pessoas voltava  à normalidade.
         Os partidos não eram muitos. No princípio da República apenas dois eram por partidos que por cá militava: os democráticos e os unionistas. E bastavam. O elemento feminino não tinha direito a voto, nem mesmo os analfabetos, que, aliás, representavam uma parte importante da população.
        Tudo se reduzia a um pequeno ou limitado número de eleitores. E eram esses que manobravam os destinos dos povos, principalmente das câmaras municipais, pois as juntas de freguesia ou de paróquia tinham atribuições limitadas.
        Os militantes políticos nada recebiam pelos cargos que exerciam. E isto durante muitos anos, até mesmo no chamado estado novo. Depois, tudo se modificou e hoje exercer um cargo político é ter a garantia de auferir proventos avantajados e invejáveis para a grande maioria  das pessoas, muitas das quais se vêm a braços com graves problemas financeiros, derivados dos parcos proventos que recebem e que estão sempre ameaçados de cortes. Pois são os chamados funcionários públicos que, recebendo seus proventos dos cofres do Estado, estão sujeitos aos cortes que vão  permitir  saldar os deficits do Estado, ninguém ,procura averiguar como foram contraídos…
         O quinzenário “As Lages”, cuja publicação se iniciou nesta vila em Fevereiro de 1914 e de que era Director, proprietário e editor, Gilberto Paulino de Castro, no seu número 103,de 15 de Abril de 1919, e sob o título “Comissão  Administrativa Municipal”, trás a seguinte notícia, que nos apraz aqui transcrever como documento histórico que é, decorridos que são quase cem anos:
 De acordo, os dois grupos políticos desta localidade, unionista e democrático, propuseram ao Exmº   Governador Civil deste distrito a nomeação da comissão municipal administrativa deste concelho, por alvará de s. Exª sancionada e assim constituída e representada: Presidente:- Manuel  Quaresma Melo, independente. Vogais: - Leonardo Xavier de Castro Amorim e Edmundo Machado Ávila, unionistas; José Francisco Pimentel e Manuel Vieira Cardoso, democráticos.  -  Cumprimentamos o sr.José Lopes da Silveira Gomes, digno representante do partido democrático deste concelho, pela seleccionada escolha que fez para a representação do mesmo partido na ad0ministração deste município. Desde a primeira e subsequentes sessões em que têm tomado parte, mostraram ou fizeram lhes mostrar o que devem ser e como devem proceder os filhos dilectos do querido pai Afonso!... A Cesar o que é de Cesar” .
            Conheci pessoalmente os indicados membros do executivo camarário. Todos eles pessoas de bem.
            O Presidente, Manuel Quaresma Melo, era comerciante e oficial de baleia. Duma simpatia extrema. Teve, no entanto, morte trágica. Ele, a Filha e o Genro e dois netos foram vitimas do surto de peste que atingiu esta vila, por volta de 1922. Além do Senhor Quaresma outros mais foram vítimas da terrível doença que só desapareceu com a construção do antigo campo de jogos, dali retirando o matagal de junco onde as pessoas, incautamente, faziam lixeira.
           Mas, voltamos à política de outras eras. Não era perfeita como jamais foi em tempo algum: separa as pessoas e as famílias; promove  encobertamente a vingança; não tem pejo, por vezes, em caluniar para vencer e alcandorar-se nos lugares cimeiros do mando. Governa os povos segundo os caprichos pessoais, ou do partido que serve, quantas vezes indo de encontro aos princípios básicos do bom censo, da seriedade e até do são convívio.
           Como me dizia alguém: a política é uma tristeza e uma lástima de que é vítima o Zé Povinho, tal como o definiu Bordalo Pinheiro.
Vila das Lajes,  30-Março-2011
Ermelindo Ávila.

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