NOTAS DO MEU CANTINHO
Na edição
de 09 do corrente do semanário “ DEVER”, foi publicada a
notícia da sessão da Assembleia Municipal, realizada no dia 30 de
Setembro e nela se alude o Loteamento da Maré.
No mesmo
texto se anuncia que “Após a aprovação
por parte da Assembleia Municipal, seguir-se-á um período de
apreciação e discussão pública sobre o mesmo”
Ao
que julgo, trata-se do “Serrado de São Pedro”, onde está
instalado há anos o “Parque de Campismo” e onde devia ter sido
construído o edifício para a Escola Secundária, arredado da Vila,
incompreensivelmente !...
O terreno é
vasto e o loteamento vai permitir, concerteza, um aproveitamento
racional do mesmo. Mas, nada se refere ao bairro anexo, onde se
encontra a mais antiga igreja-ermida da ilha do Pico.
Na frente
da ermida há um arruamento que se desenvolve para Norte e Sul. Em
1883, era a Rua de São Pedro, assim se denominava, onde viviam
trinta e nove pessoas, em nove habitações. Hoje é muito diminuto
o número de pessoas que lá residem e, mesmo assim, só no lado
Norte e em habitações bem conservadas. As casas do lado Sul estão
em ruínas, menos aquela onde funciona a Rádio Montanha, junto da
ermida.
O estreito
arruamento ainda lá existe e deve ser conservado como fazendo parte
do património da vila.
Trata-se da
zona mais antiga do burgo, aquela que se “desenvolveu” junto da
pequena igreja e onde, naturalmente, habitou Frei Pedro Gigante,
capelão dos povoadores e primeiro pároco da ilha.
Um pouco
além, para Leste, existia a rua da Barra, que ficava a Norte da
antiga “casa da escola”, depois oficina do Mestre António
Fonseca, e que desapareceu com a construção do actual edifício da
Escola Secundária. Não possuía habitações essa ruela e, pelo
centro, corria uma grota que escoava as águas das ruas da vila e que
ia vazar na lagoa da Maré.
Toda aquela
zona foi completamente alterada com a construção da rua da Ladeira
ou Rua Arantes e Oliveira, já que outro nome não lhe foi
atribuído...
Ainda
existe um troço empedrado, com “calçada à romana”, da antiga
Ladeira da Vila. Nele ainda se descobriam, aqui e ali, os sulcos
deixados pelos carros de bois que ali, diariamente, transitavam. O
mesmo se verifica no que restou da antiga calçada da Maré, por fora
da actual muralha de suporte da nova rua.
Num pequeno
espaço, junto da habitação que pertenceu aos pais do P. Manuel
Vieira Feliciano e que, depois, foi de Manuel Ermelindo dos Santos,
existe um poço de maré que servia a população que habitava na
Ladeira. O “bocal” que o protegia, está destruído. Importa
restaurá-lo. É que os poços de maré são marcos históricos da
vivência dos habitantes das Lajes. Ainda existem três ou quatro
que não podem, nem devem ser abandonados. O da “Rochinha”, hoje
incorporado na urbanização do antigo Juncal, devia ter uma placa:
“Poço do contrabando”. (Já contei a história e não vou
repeti-la). Faz parte da história lajense. Pois se ainda existe, a
chegar ao “Meio da Vila”, como era conhecido o actual Largo
General Lacerda Machado, a antiga “Rua do Poço”, hoje Rua Pe.
Manuel José Lopes!...
A zona de
São Pedro não pode nem deve desaparecer. Foi a primeira habitada,
muito embora Fernão Alvares, primeiro homem que aportou à ilha, se
tivesse ficado pela Ribeira da Burra e que, primitivamente, era
conhecida pela Ribeira de Fernão Alvares. Uma história também já
aqui narrada.
O chamado
“Loteamento da Maré” não é fácil. Há que respeitar a
tradição histórica da zona e conservar o que ainda existe.
As velhas
casas da rua de S. Pedro, hoje em ruínas, devem ser restauradas e
conservadas, dando-lhes a aplicação mais conveniente.
Que nada
mais se construa na avoenga vila, como alguns a tratam, mas que ao
menos se conserve aquilo que faz parte e dá continuidade à sua
história de quase seis séculos.
Vila das
Lajes do Pico
14 de
Outubro de 2014
Ermelindo
Ávila
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