quinta-feira, 23 de outubro de 2014

“LOTEAMENTO DA MARÉ”

NOTAS DO MEU CANTINHO


Na edição de 09 do corrente do semanário “ DEVER”, foi publicada a notícia da sessão da Assembleia Municipal, realizada no dia 30 de Setembro e nela se alude o Loteamento da Maré.
No mesmo texto se anuncia que “Após a aprovação por parte da Assembleia Municipal, seguir-se-á um período de apreciação e discussão pública sobre o mesmo”
Ao que julgo, trata-se do “Serrado de São Pedro”, onde está instalado há anos o “Parque de Campismo” e onde devia ter sido construído o edifício para a Escola Secundária, arredado da Vila, incompreensivelmente !...

O terreno é vasto e o loteamento vai permitir, concerteza, um aproveitamento racional do mesmo. Mas, nada se refere ao bairro anexo, onde se encontra a mais antiga igreja-ermida da ilha do Pico.
Na frente da ermida há um arruamento que se desenvolve para Norte e Sul. Em 1883, era a Rua de São Pedro, assim se denominava, onde viviam trinta e nove pessoas, em nove habitações. Hoje é muito diminuto o número de pessoas que lá residem e, mesmo assim, só no lado Norte e em habitações bem conservadas. As casas do lado Sul estão em ruínas, menos aquela onde funciona a Rádio Montanha, junto da ermida.
O estreito arruamento ainda lá existe e deve ser conservado como fazendo parte do património da vila.
Trata-se da zona mais antiga do burgo, aquela que se “desenvolveu” junto da pequena igreja e onde, naturalmente, habitou Frei Pedro Gigante, capelão dos povoadores e primeiro pároco da ilha.
Um pouco além, para Leste, existia a rua da Barra, que ficava a Norte da antiga “casa da escola”, depois oficina do Mestre António Fonseca, e que desapareceu com a construção do actual edifício da Escola Secundária. Não possuía habitações essa ruela e, pelo centro, corria uma grota que escoava as águas das ruas da vila e que ia vazar na lagoa da Maré.
Toda aquela zona foi completamente alterada com a construção da rua da Ladeira ou Rua Arantes e Oliveira, já que outro nome não lhe foi atribuído...
Ainda existe um troço empedrado, com “calçada à romana”, da antiga Ladeira da Vila. Nele ainda se descobriam, aqui e ali, os sulcos deixados pelos carros de bois que ali, diariamente, transitavam. O mesmo se verifica no que restou da antiga calçada da Maré, por fora da actual muralha de suporte da nova rua.
Num pequeno espaço, junto da habitação que pertenceu aos pais do P. Manuel Vieira Feliciano e que, depois, foi de Manuel Ermelindo dos Santos, existe um poço de maré que servia a população que habitava na Ladeira. O “bocal” que o protegia, está destruído. Importa restaurá-lo. É que os poços de maré são marcos históricos da vivência dos habitantes das Lajes. Ainda existem três ou quatro que não podem, nem devem ser abandonados. O da “Rochinha”, hoje incorporado na urbanização do antigo Juncal, devia ter uma placa: “Poço do contrabando”. (Já contei a história e não vou repeti-la). Faz parte da história lajense. Pois se ainda existe, a chegar ao “Meio da Vila”, como era conhecido o actual Largo General Lacerda Machado, a antiga “Rua do Poço”, hoje Rua Pe. Manuel José Lopes!...
A zona de São Pedro não pode nem deve desaparecer. Foi a primeira habitada, muito embora Fernão Alvares, primeiro homem que aportou à ilha, se tivesse ficado pela Ribeira da Burra e que, primitivamente, era conhecida pela Ribeira de Fernão Alvares. Uma história também já aqui narrada.
O chamado “Loteamento da Maré” não é fácil. Há que respeitar a tradição histórica da zona e conservar o que ainda existe.
As velhas casas da rua de S. Pedro, hoje em ruínas, devem ser restauradas e conservadas, dando-lhes a aplicação mais conveniente.
Que nada mais se construa na avoenga vila, como alguns a tratam, mas que ao menos se conserve aquilo que faz parte e dá continuidade à sua história de quase seis séculos.

Vila das Lajes do Pico
14 de Outubro de 2014

Ermelindo Ávila 

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