sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS “ MISTÉRIOS “

NOTAS DO MEU CANTINHO

Testemunhas permanentes das erupções vulcânicas de 1718 e 1720 que assolaram a Ilha do Pico, destruindo habitações e calcinando terrenos, eles ainda aí estão presentes, sem proveito algum que deles se tire, a não ser a “lenha” ou o aproveitamento de um ou outro espaço para empreendimento de utilidade pública.
É tempo de se olhar para os Mistérios da Ilha do Pico e de se lhes dar o aproveitamento necessário, para que passem a ser úteis à população picoense.
António Cordeiro ( História Insulana, 1716) traz a notícia de que “no ano de 1572, a 21 de Setembro tremeu a terra no «baixo da ilha por espaço de um terço de hora, e com tais estrondos, que pareciam grandes peças de artilharia disparadas, e logo em um lago, e por cinco bocas arrebentou tal fogo que dele , e por polme ardente correu uma ribeira por espaço de uma légua, até meter no mar do Norte, e no mesmo mar formou uma entrada nele de um tiro de arcabuz, aquele grande cais de pedraria abrazada (...) do qual se serve a Vila de São Roque , que dista dela uma légua (...)”
Silveira de Macedo, por seu lado, informa que “...a lava correu em ribeira para o mar, formando um grande cais que ainda se conserva; tendo devastado extensas planícies de terra e casas na freguesia de Nossa Senhora d’Ajuda da Prainha do Norte, onde ficou um extenso mistério, tendo sido destruída a igreja paroquial”.
Não fala Cordeiro, naturalmente, das outras erupções que assolaram a ilha, pois o seu trabalho é superiormente aprovado dois anos antes (1716).
E dessas outras erupções (1718 e 1720), ficaram os Mistérios de Santa Luzia, São João e Silveira.
Essas grandes extensões de terreno, cobertas de arborização selvagem, pouca utilidade têm. Estão, presentemente, a cargo dos Serviços Florestais que vão aproveitando os pinheiros plantados nas bermas das estradas que atravessam, cujo plantação daquela espécie arbórea se ficou a dever à antiga Junta Geral do ex-Distrito.
No Mistério da Prainha há um empreendimento de utilização local.
Junto do Mistério de Santa Luzia, nasceu o Aeroporto do Pico. Há também um parque com construções urbanas para utilização de Serviços Públicos. Antes, a Junta de Freguesia de S. João havia instalado, no mistério situado entre aquela freguesia e a Terra do Pão, e no local onde existiu a igreja paroquial subterrada pela lava, o parque denominado “São João Pequenino”. Ali colocou um pequeno monumento a recordar o primitivo templo. No mesmo Mistério foi construído o Aterro Sanitário da Ilha. Recentemente, foram instalados no Mistério da Silveira o Matadouro Industrial e a fábrica de lacticínios da Ilha – Lacto Pico.
Mas é pouco, muito puco mesmo, para as grandes extensões da ilha há quase três séculos abandonadas.
Aqui há anos uma empresa industrial iniciou, no Mistério da Silveira, a construção de um campo de golfe, que não chegou a concluir. Os terrenos, depois de revolvidos, lá ficaram e estão sem aproveitamento.
Mais do que uma vez referi, nas minhas crónicas, a necessidade da conclusão do campo de golfe. Continuo a pensar que se trata de uma estrutura indispensável ao desenvolvimento do turismo na ilha do Pico. Seria algo mais do que um campo de tiro que o Governo construíu no Mistério de Santa Luzia.
Para o campo de golfe não carece de adquirir terrenos porque eles já existem. Prepará-los não será tarefa de muita monta. Segundo julgo, os Serviços Florestais, que administram os mistérios, dispõem da maquinaria necessária para a execução das obras do campo. Construi-lo seria um serviço público prestado à população e, simultaneamente, um aproveitamento interessante daqueles terrenos.
Demais, é só ver aqueles que existem por esse mundo fora, e que a TV nos mostra quase diariamente, onde se realizam torneios desportivos que atraem os magnates da fortuna, pois o golfe é um desporto, principalmente daqueles que beneficiam do privilégio de serem os donos das fortunas mundiais. E, onde há um campo de golfe, lá estão eles, com seus “servidores”, a manejar calmamente o taco e a bola...
O turista não vem praticar qualquer desporto, e a maioria das vezes, nem se interessa pela vigia dos cetáceos, pois, vistos uma vez, não mais interessa.
O golfe é um desporto diferente, selectivo, e que os praticantes “viciados” não mais abandonam.
É preciso rentabilizar os mistérios da ilha do Pico. Nem todos os seus espaços, mas alguns podiam ser urbanizados e neles se promover a construção de edifícios para habitação, comércio ou indústria e outros até arroteados para utilização da agricultura.
A Ilha tomaria outro aspecto e seria mais atractiva, em vez de continuar a ser um espaço selvagem, sem utilidade, quase abandonado...
Não seria proveitoso para a economia da ilha, tomar a sério o aproveitamento dos mistérios e nesse aproveitamento considerar a conclusão do campo de golfe?
Lajes do Pico,
13 de Outubro de 2014

Ermelindo Ávila

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