NOTAS DO MEU CANTINHO
Testemunhas permanentes
das erupções vulcânicas de 1718 e 1720 que assolaram a Ilha do
Pico, destruindo habitações e calcinando terrenos, eles ainda aí
estão presentes, sem proveito algum que deles se tire, a não ser a
“lenha” ou o aproveitamento de um ou outro espaço para
empreendimento de utilidade pública.
É tempo de se olhar
para os Mistérios da Ilha do Pico e de se lhes dar o aproveitamento
necessário, para que passem a ser úteis à população picoense.
António Cordeiro (
História Insulana, 1716) traz a notícia de que “no ano de
1572, a 21 de Setembro tremeu a terra no «baixo da ilha por espaço
de um terço de hora, e com tais estrondos, que pareciam grandes
peças de artilharia disparadas, e logo em um lago, e por cinco bocas
arrebentou tal fogo que dele , e por polme ardente correu uma ribeira
por espaço de uma légua, até meter no mar do Norte, e no mesmo mar
formou uma entrada nele de um tiro de arcabuz, aquele grande cais de
pedraria abrazada (...) do qual se serve a Vila de São Roque , que
dista dela uma légua (...)”
Silveira de Macedo, por
seu lado, informa que “...a lava correu em ribeira para o mar,
formando um grande cais que ainda se conserva; tendo devastado
extensas planícies de terra e casas na freguesia de Nossa Senhora
d’Ajuda da Prainha do Norte, onde ficou um extenso mistério, tendo
sido destruída a igreja paroquial”.
Não fala Cordeiro,
naturalmente, das outras erupções que assolaram a ilha, pois o seu
trabalho é superiormente aprovado dois anos antes (1716).
E dessas outras erupções
(1718 e 1720), ficaram os Mistérios de Santa Luzia, São João e
Silveira.
Essas
grandes extensões de terreno, cobertas de arborização selvagem,
pouca utilidade têm. Estão, presentemente, a cargo dos Serviços
Florestais que vão aproveitando os pinheiros plantados nas bermas
das estradas que atravessam, cujo plantação daquela espécie
arbórea se ficou a dever à antiga Junta Geral do ex-Distrito.
No
Mistério da Prainha há um empreendimento de utilização local.
Junto
do Mistério de Santa Luzia, nasceu o Aeroporto do Pico. Há também
um parque com construções urbanas para utilização de Serviços
Públicos. Antes, a Junta de Freguesia de S. João havia instalado,
no mistério situado entre aquela freguesia e a Terra do Pão, e no
local onde existiu a igreja paroquial subterrada pela lava, o parque
denominado “São João Pequenino”. Ali colocou um pequeno
monumento a recordar o primitivo templo. No mesmo Mistério foi
construído o Aterro Sanitário da Ilha. Recentemente, foram
instalados no Mistério da Silveira o Matadouro Industrial e a
fábrica de lacticínios da Ilha – Lacto Pico.
Mas é pouco, muito puco
mesmo, para as grandes extensões da ilha há quase três séculos
abandonadas.
Aqui
há anos uma empresa industrial iniciou, no Mistério da Silveira, a
construção de um campo de golfe, que não chegou a concluir.
Os terrenos, depois de revolvidos, lá ficaram e estão sem
aproveitamento.
Mais do que uma vez
referi, nas minhas crónicas, a necessidade da conclusão do campo
de golfe. Continuo a pensar que se trata de uma estrutura
indispensável ao desenvolvimento do turismo na ilha do Pico. Seria
algo mais do que um campo de tiro que o Governo construíu no
Mistério de Santa Luzia.
Para o campo de golfe
não carece de adquirir terrenos porque eles já existem. Prepará-los
não será tarefa de muita monta. Segundo julgo, os Serviços
Florestais, que administram os mistérios, dispõem da maquinaria
necessária para a execução das obras do campo. Construi-lo seria
um serviço público prestado à população e, simultaneamente, um
aproveitamento interessante daqueles terrenos.
Demais,
é só ver aqueles que existem por esse mundo fora, e que a TV nos
mostra quase diariamente, onde se realizam torneios desportivos que
atraem os magnates da fortuna, pois o golfe é um desporto,
principalmente daqueles que beneficiam do privilégio de serem os
donos das fortunas mundiais. E, onde há um campo de golfe, lá estão
eles, com seus “servidores”, a manejar calmamente o taco e a
bola...
O turista não vem
praticar qualquer desporto, e a maioria das vezes, nem se interessa
pela vigia dos cetáceos, pois, vistos uma vez, não mais interessa.
O
golfe é um desporto diferente, selectivo, e que os praticantes
“viciados” não mais abandonam.
É preciso rentabilizar
os mistérios da ilha do Pico. Nem todos os seus espaços, mas alguns
podiam ser urbanizados e neles se promover a construção de
edifícios para habitação, comércio ou indústria e outros até
arroteados para utilização da agricultura.
A Ilha tomaria outro
aspecto e seria mais atractiva, em vez de continuar a ser um espaço
selvagem, sem utilidade, quase abandonado...
Não seria proveitoso
para a economia da ilha, tomar a sério o aproveitamento dos
mistérios e nesse aproveitamento considerar a conclusão do campo
de golfe?
Lajes do Pico,
13 de Outubro de 2014
Ermelindo Ávila
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