domingo, 23 de novembro de 2014

AS LANCHAS DO PICO

A MINHA NOTA


Fizeram história as “Lanchas do Pico”. E não somente as que trafegaram nos portos de Horta e Madalena. Nas década de vinte - trinta do século passado, contribuíram, igualmente, para a prática do comércio e da indústria das ilhas do grupo central do Arquipélago. Hoje, praticamente, deixaram de existir e passaram ao esquecimento. Outros transportes modernizados, os “Cruzeiros” as substituíram.
Há dias, porém, a comunicação social trouxe a público a notícia de que a “Espalamaca”, -antiga lancha do Canal - estacionada no porto da Madalena, conjuntamente com a “Calheta”, ia ser recuperada para servir de museu ou, talvez de peça de mais um liliputiano “museu” da ilha.
Ambas as lanchas citadas fizeram parte da frota da “Empresa das Lanchas do Pico”, com óptimos serviços prestados às populações das ilhas do Pico e do Faial. Não merecem, pois, o abandono a que têm sido votadas, depois que as lanchas do canal, como referi, foram substituídas pelos “Cruzeiros” e, agora, por novos barcos.
No entanto, afigura-se-me que, mais interessante do que a história da “Espalamaca”, é a da “Calheta”.
Segundo Amílcar Goulart Quaresma, em “Maresias”, a “Calheta” foi construída nos estaleiros de S. Amaro por Mestre Manuel Bento, para a Empresa Calhetense de Navegação e Pesca, Lda., com sede na Calheta de Nesquim. Navegou vários anos entre as ilhas Terceira, S. Jorge, Pico e Faial, com viagens regulares todas as semanas. Em 1931, foi adquirida por Miguel Zeferino, das Angústias e, em 1932, passou a pertencer à Empresa Açoriana de Navegação e Pescas, L.da, que a transferiu, em 1950, para a Empresa das Lanchas do Pico, que a incorporou na sua frota. Desde 1996, encontra-se estacionada no porto da Madalena, até que desapareça totalmente.
Cheguei a navegar da Terceira para o Pico na “Calheta”. Tinha uma tripulação cortez, sob o comando do mestre José Goulart, um marítimo destemido e uma figura simpática, apesar do seu aspecto fortemente másculo e impulsivo. Afinal, um bom homem como soe dizer-se.
Foi a primeira embarcação motorizada que fez serviço de passageiros e carga entre as ilhas do grupo Central, mesmo antes do antigo “Ribeirense” iniciar o seu benemérito serviço de passageiros e carga, durante os meses de verão, entre S. Miguel e Faial, passando pelas restantes ilhas do percurso, excepto a Graciosa, por ficar mais afastada, “fora de mão”, como se diz.
Tenho pena que a lancha “Calheta”, uma das poucas que conservou sempre a sua denominação, acabe tão ingloriamente seus dias, pois não deixaria de ser um testemunho forte da intrepidez dos marinheiros do Pico e dos óptimos serviços que prestou ao seu Povo, durante uma boa parte do séc. XX.
Não é, gratuitamente, que Goulart Quaresma, no seu excelente trabalho, a classifica de “Rainha das Lanchas”.
O mesmo aconteceu com as lanchas do porto das Lajes, “Lourdes” e “Hermínia”, construídas, respectivamente, em 192l e 1922, pelo célebre Francisco José Machado, o “Experiente”, e que acabaram por ser abatidas para serem substituídas por traineiras da pesca do atum.
Já antes a primeira lancha baleeira “Margarida”, uma vedeta construída em 1921 pelo Mestre António da Fonseca Santos, para recreio e que, depois, foi utilizada na caça da baleia, também acabou seus dias junto ao muro da rua da Pesqueira, desfeita por um grande temporal marítimo, deixando de ser arrecadada no Museu, como estava projectado.
Lajes do Pico,
1 de Novembro de 2014-11-01

Ermelindo Ávila

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