A MINHA NOTA
Fizeram
história as “Lanchas do Pico”. E não somente as que trafegaram
nos portos de Horta e Madalena. Nas década de vinte - trinta do
século passado, contribuíram, igualmente, para a prática do
comércio e da indústria das ilhas do grupo central do Arquipélago.
Hoje, praticamente, deixaram de existir e passaram ao esquecimento.
Outros transportes modernizados, os “Cruzeiros” as substituíram.
Há dias,
porém, a comunicação social trouxe a público a notícia de que a
“Espalamaca”, -antiga lancha do Canal - estacionada no porto da
Madalena, conjuntamente com a “Calheta”, ia ser recuperada para
servir de museu ou, talvez de peça de mais um liliputiano “museu”
da ilha.
Ambas as
lanchas citadas fizeram parte da frota da “Empresa das Lanchas do
Pico”, com óptimos serviços prestados às populações das ilhas
do Pico e do Faial. Não merecem, pois, o abandono a que têm sido
votadas, depois que as lanchas do canal, como referi, foram
substituídas pelos “Cruzeiros” e, agora, por novos barcos.
No entanto,
afigura-se-me que, mais interessante do que a história da
“Espalamaca”, é a da “Calheta”.
Segundo
Amílcar Goulart Quaresma, em “Maresias”, a “Calheta” foi
construída nos estaleiros de S. Amaro por Mestre Manuel Bento, para
a Empresa Calhetense de Navegação e Pesca, Lda., com sede na
Calheta de Nesquim. Navegou vários anos entre as ilhas Terceira, S.
Jorge, Pico e Faial, com viagens regulares todas as semanas. Em 1931,
foi adquirida por Miguel Zeferino, das Angústias e, em 1932, passou
a pertencer à Empresa Açoriana de Navegação e Pescas, L.da, que a
transferiu, em 1950, para a Empresa das Lanchas do Pico, que a
incorporou na sua frota. Desde 1996, encontra-se estacionada no
porto da Madalena, até que desapareça totalmente.
Cheguei a
navegar da Terceira para o Pico na “Calheta”. Tinha uma
tripulação cortez, sob o comando do mestre José Goulart, um
marítimo destemido e uma figura simpática, apesar do seu aspecto
fortemente másculo e impulsivo. Afinal, um bom homem como soe
dizer-se.
Foi a
primeira embarcação motorizada que fez serviço de passageiros e
carga entre as ilhas do grupo Central, mesmo antes do antigo
“Ribeirense” iniciar o seu benemérito serviço de passageiros e
carga, durante os meses de verão, entre S. Miguel e Faial, passando
pelas restantes ilhas do percurso, excepto a Graciosa, por ficar mais
afastada, “fora de mão”, como se diz.
Tenho
pena que a lancha “Calheta”, uma das poucas que conservou sempre
a sua denominação, acabe tão ingloriamente seus dias, pois não
deixaria de ser um testemunho forte da intrepidez dos marinheiros do
Pico e dos óptimos serviços que prestou ao seu Povo, durante uma
boa parte do séc. XX.
Não é,
gratuitamente, que Goulart Quaresma, no seu excelente trabalho, a
classifica de “Rainha das Lanchas”.
O mesmo
aconteceu com as lanchas do porto das Lajes, “Lourdes” e
“Hermínia”, construídas, respectivamente, em 192l e 1922, pelo
célebre Francisco José Machado, o “Experiente”, e que acabaram
por ser abatidas para serem substituídas por traineiras da pesca do
atum.
Já antes a
primeira lancha baleeira “Margarida”, uma vedeta construída em
1921 pelo Mestre António da Fonseca Santos, para recreio e que,
depois, foi utilizada na caça da baleia, também acabou seus dias
junto ao muro da rua da Pesqueira, desfeita por um grande temporal
marítimo, deixando de ser arrecadada no Museu, como estava
projectado.
Lajes do
Pico,
1 de
Novembro de 2014-11-01
Ermelindo
Ávila
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