NOTAS DO MEU CANTNHO
A Ilha
do Pico, tal como as demais do Arquipélago
dos Açores, são constituídas por terrenos que permitem uma normal
e satisfatória produção agrícola. E foi assim desde os seus
primórdios.
Quando os
homens do Infante aqui aportaram, eram portadores de sementes de
trigo que, deitadas à terra, permitiram boas colheitas. (Não assim
na Povoação, onde as sementes produziram grossas canas, e nenhuma
semente, dada a sua natureza excessivamente forte, como diz Gaspar
Frutuoso.)
Mais tarde
apareceu o milho, trazido dos Estados Unidos onde os índios o
cultivavam, com pouco esforço e grande êxito, para a sua
alimentação.
E foi o
milho, por mais produtivo, que substituiu o trigo, cereal de produção
mais delicada e a exigir um tratamento mais cauteloso, principalmente
pela praga que o procurava e devastava.
O milho
passou a ser a base da alimentação e, por isso, quando os temporais
devastavam os milheirais, a fome atingia quase toda a população
açoriana, obrigando à importação do cereal de outras terras.
Havia mesmo
o ditado: boa colheita, ano farto.
O trigo só
era cultivado especialmente quando o casal “levava a coroa” e
pouco mais. Todavia, normalmente, a casa do lavrador fazia a
sementeira de um determinado terreno – o
serrado do trigo – para ter farinha de
trigo para a “mistura” da massa de milho, para utilizar o pão de
trigo nas matanças e em certas e tradicionais festividades, quer
religiosas quer domésticas.
Hoje, nem
milho há. Tudo é importado, não só porque falta a mão de obra
para trabalhar os campos - os trabalhadores rurais ou emigram ou
passam a exercer outras profissões, - e os terrenos ficam
abandonados, ou porque é mais fácil e menos trabalhoso, utilizá-los
em pastagens para o gado.
Todavia,
causa pena ver para aí tantos terrenos abandonados e ocupados por
uma vegetação selvagem que quase chega às ruas por onde
transitamos.
Não há
muitos anos, v.g., toda a encosta leste da vila das Lajes era
utilizada na cultura do milho . E produzia moios...
Nessa
época, os proprietários faziam a colheita, por vezes com a ajuda de
vizinhos e amigos, e arrecadavam o cereal em recipientes apropriados
– as barricas, os depósitos de ferro zincado, os arquibancos, para
ser utilizado durante o ano. Por cá não se utilizava o sistema de
“burra”, como em outras ilhas.
Já Júlio
Dinis, em “As Pupilas do Senhor Reitor”, há mais de cem anos,
nos descrevia a Esfolhada
como um acontecimento tradicional da Província portuguesa, tal como
nestas ilhas acontecia.
Hoje tudo
se perdeu. Os terrenos estão abandonados. A ilha do Pico, não passa
de uma mata de espécies daninhas. As culturas, praticamente,
desapareceram, para se importar, do continente e/ou do estrangeiro,
tudo o que é indispensável à subsistência das pessoas. Mas não
passa de um sistema errado, para o qual as entidades oficiais têm de
voltar a sua atenção. Não basta aproveitar os terrenos baixos para
a produção de forragens para o gado leiteiro ou de exportação. Há
que pensar na população em geral e facilitar-lhe a produção ou a
aquisição dos elementos essenciais à sua subsistência.
Quando
chegará o tempo, em que os terrenos sejam aproveitados em culturas e
a ilha deixe de ser um todo, onde só aqui e ali se vêem alguns
campos de vinha e raros de semeadura, e no seu conjunto, um matagal
imenso de faias e incensos?
Não verei
esse dia, pois pelas premissas actuais se podem tirar as conclusões.
E as conclusões são tristes e amargas.
Repito: Há
que voltar ao princípio e arrotear os terrenos, utilizando-os em
culturas necessárias à alimentação do ser humano: o milho, a
batata branca ou doce, a hortaliça, os primores agrícolas, as
fruteiras!... Que excelente era a fruta! - os figos, as uvas, as
peras e maçãs, as laranjas, que na Ilha se produzia e os Barcos do
Pico, no verão, levavam para as outras Ilhas!...
E, a
propósito, há que trazer ao de cima as precárias instalações dos
serviços agrícolas nesta vila. Ocupam um barracão construído
aquando da construção da muralha de defesa da Lagoa, para os
serviços de ferreiro e carpinteiro e devia ter sido demolido na
altura da conclusão das obras. Mas ficou e continua. É tempo de
estarem aqueles serviços condigna e convenientemente instalados para
que possam promover o fomento agrícola desta parte da ilha, a mais
rica em terrenos aráveis, e terem a autonomia que ainda agora
merecem.
Já o disse
e continuo a afirmar: os serviços agrícolas devem estar instalados
no Sul e nunca, como julgo, afastados, num extremo inóspito da Ilha.
Não será tempo de acabar-se com a política bairrista e de se fazer
justiça?...
Finalmente,
uma pergunta que pode parecer incómoda, mas que é inofensiva: Os
titulares do Sector Agrícola da Região, conhecem a parte da ilha
que vai da estrada transversal à Ponta da Ilha? Já calcorrearam
suas pastagens montes e vales? Valia a pena.
E quedo-me
aqui. Não careço de resposta.
Lajes do
Pico, 29-l0-2014
Ermelindo
Ávila
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