NOTAS DO MEU CANTINHO
Somos
tratados por enteados a quem o padrasto dá uma sopa mal cozinhada.
Não, isso não é a realidade, mas assim parece.
O governo
esteve em visita de desobriga
na ilha do Pico. Numa parte da ilha do Pico. Visitou obras e
departamentos regionais. Todavia, parece ter ignorado que o Pico é
constituído por três concelhos, dado que deixou de visitar
“oficialmente” um deles. Afinal, o mais esquecido e abandonado,
mas que existiu antes dos outros e onde não faltam problemas para
resolver. Verdade que um ou outro membro do Governo saltou, aqui e
ali, a espreitar casos pontuais, mas somente.
Julgo que
não é esse o espírito da Lei que assim reza:
“O Governo Regional visita cada uma
das ilhas da Região pelo menos uma vez por ano”.
(nº l do Artº 87º do Estatuto da Região Autónoma). Mas ao
referir cada uma das ilhas, pelo
menos uma vez por ano, deduz-se,
facilmente, que foi intenção do legislador impor que o Governo
visitasse todos os concelhos da Ilha, e consequentemente da Região,
que não somente um ou dois em cada ano. Demais,
quando foi estudada por diversas comissões a organização
administrativa dos Açores, esteve sempre presente o concelho, como
instituto independente, considerando-se a ilha uma parcela autónoma
da Região. Não se previa um governo único sedeado numa das ilhas,
como veio a acontecer. E foi daí que nasceu a obrigatoriedade da
visita anual.
Assim, e
tal como se vem praticando, só de longe em longe se resolvem os
assuntos de toda a ilha, o que, julga-se, não estava no entendimento
dos legisladores. Mas, e como diz o ditado popular: mudam-se
os ventos, mudam-se os pensamentos...
Há tempos
passados, um temporal com chuvas violentas, atingiu a zona de Santa
Cruz das Ribeiras, danificando a estrada e o ramal de acesso ao
porto. Depois de muitos meses de espera, a estrada acabou por ser
reparada e aberto ao trânsito. O mesmo não sucedeu ao Ramal que,
aliás, pertence à mesma entidade administrativa. O trânsito
continua vedado às camionetas da carreira urbana que, para irem ao
centro de Santa Cruz, tem de utilizar o ramal de acesso a Santa
Bárbara e o caminho municipal de Santa Bárbara a Santa Cruz. Não
se compreende porque não foram incluídas, no projecto de restauro,
os dois troços danificados.
Aqui há
anos, não muitos, foi construído um paredão que fechou a
“Carreira” e evitou que o mar galgasse mais frequentemente a
vila. Uma obra que todos aplaudiram. Dessa construção resultou uma
pequena enseada que, tornando-se abrigada, permite à navegação por
ali passar com certa segurança. E refiro “certa segurança”
porque não se fez então a limpeza do fundo, passando a sinalizar-se
depois os “cabeços” encobertos para evitar que provoquem
qualquer naufrágio. Na altura da construção do molhe de defesa
teria sido fácil eliminar esses obstáculos sem grandes agravamentos
de verbas.
Não
precisa ser-se técnico para perceber que o “pátio” do caneiro
(denominemo-lo assim), poderia servir de cais de embarque, se tivesse
sido concluída a escada que nele ficou esboçada pelo lado Oeste,
quando construído.
A nova
“lagoa” que resultou da construção do paredão de defesa
poderia – devia – ser preparada para receber a navegação de
recreio – marina –
desimpedindo a lagoa interior que ficaria somente para os barcos de
pesca, que são ainda alguns.
E, aqui,
apetece deixar a pergunta: Quando é construída a nova “pesqueira”
ou lota para substituir aquela que foi destruída quando da
construção da rampa interior?
Ou
será que o “monopólio” do pescado é para manter à distância
e “ad aeternum” ?
Não
será por estas e por outras atitudes ininteligíveis que o Sul e a
sede do respectivo concelho se vão despovoando, talvez com gáudio
de outros?...
Quando
o “mundo” era diferente, não se estranhavam situações
similares. Mas nos tempos actuais, em que se espalha
aos quatro ventos que
tudo será resolvido se o povo soberano
(?) quiser, é estranho que o abandono dos sítios degradados
continuem esquecidos ou ignorados.
Seja
como for, porque todos somos contribuintes, todos temos iguais
direitos; e governar não é distribuir benesses, mas repartir o bem
com justeza, equilíbrio e atempadamente, para que o povo acredite e
possa fazer justiça
nos momentos próprios.
Vila
das Lajes do Pico,
12-XI-2014
Ermelindo
Ávila
P.S.
Já depois de escrita esta crónica foi anunciado o início das obras
no Ramal de Sta Cruz.
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