domingo, 21 de dezembro de 2014

ESTE PICO...

A MINHA NOTA

ESTE PICO...

Os jornais da Ilha, de vez em quando, afloram os problemas, não somente do seu concelho, mas igualmente dos concelhos vizinhos. Por vezes, só são conhecidos esses problemas pelo jornal estranho, o que não deixa de ser simpático e demonstrativo de que os jornalistas picoenses estão atentos aos problemas da Ilha, que são bastantes.
Demais, a ilha é um todo que deve ser considerado. Quem anda pelas estradas do Pico, mal se apercebe de uma ou outra placa toponímica indicativa do início do doutro concelho, ou mesmo freguesia, onde se acaba de “entrar”.
A atenção dispensada pelos homens da Comunicação Social a todo o território picoense não deixa de ser saudável, pois é demonstrativo de que vai desaparecendo o discutível bairrismo de que muitos se serviram para rebaixar os direitos vitais dos vizinhos.
Há mesmo problemas que deviam ser resolvidos, de comum acordo entre as autarquias, para que a sua solução fosse rápida e eficaz.
Um exemplo ficou da criação da Federação dos Municípios picoenses para a exploração dos serviços eléctricos que, pouco depois foi absorvida pela, então, recentemente criada EDA – Empresa de Electricidade dos Açores. E foi pena que as outras duas federações previstas não tivessem logrado alcançar êxito. Mas isso são histórias que a História nem registará, porque já passaram ao esquecimento. Surgiu depois a Associação dos Municípios Picoenses, de poderes limitados ao saneamento básico, segundo creio, pois há muitos anos que estou afastado desse sector da vida picoense.
Julgo que outras iniciativas semelhantes se deviam tomar e as suas resoluções acatadas, num equilíbrio de justiça, respeito, dedicação e de serviço público...
Em anos passados, os Baldios eram comuns aos Municípios de Lajes e São Roque. As populações dos dois lados da ilha exploravam-nos, principalmente, criando neles gado ovelhum. Era de festa o dia em que, de comum acordo, se reuniam carneiros e ovelhas num sítio que se denominava “arrodeio” e onde os proprietários escolhiam, pelos sinais atempadamente ligados, os seus animais, procediam à tosquia e confraternizavam, cantavam e bailavam com muitos dos visitantes, as chamarritas regionais. E daí surgiram até futuros casamentos...
Hoje o sistema social modificou-se. Os casamentos são raros, a natalidade quase não acontece e a ilha vai envelhecendo...
Mas isso não é o melhor sistema para caminhar para o futuro. A ilha não pode nem deve ficar deserta ou somente entregue à passarada e ao gado bravio.

Há que encarar a tempo a situação. Há que preparar o futuro, aproveitando o potencial de que dispõe a ilha. E não se julgue que é diminuto ou de pouca valia.
Na revista “Cofre”, escreve C. Brandão Lucas, em artigo intitulado: Carta a um amigo que nunca foi ao Pico: “...De resto já deves saber ao que vimos. Enfeitar os olhos com a ilha é a proposta. Descobri-la por detrás das nuvens é a ideia. Não propriamente as freguesias, os lugares e as vilas, como Madalena, Terra do Pão ou Piedade. Mas um outro Pico...mais paisagem e mais mistério”. E a concluir: “Em todo o caso, meu amigo, não tem sentido vir ao Pico sem descer à Vila das Lajes. Lajes do Pico. Foi, em tempos não muito recuados, importante vila baleeira.”(...)“O certo, no entanto, é que cada casa virada para o mar...cada janela à espreita no horizonte...cada vidraça dependurada no telhado...cada lugar posto à beira d´água... cada objecto arrimado no pontão...cada chaminé plantada na falésia...guarda no seu silêncio o rebentar de um foguete de aviso...e o grito de “baleia à vista” que então ia pelas ruas.”(1)
E como escreveu um dia um antigo camarada: “No continente sou açoriano... Nos Açores, sou da ilha do Pico...”
É o quanto basta.

1 Lucas,Carlos Brandão, Carta a um amigo que nunca foi ao Pico – in COFRE, Revista do Cofre de Previdência, Set.Out. 2014.

Lajes do Pico,
14-11-2014

Ermelindo Ávila

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