A MINHA NOTA
ESTE
PICO...
Os jornais
da Ilha, de vez em quando, afloram os problemas, não somente do seu
concelho, mas igualmente dos concelhos vizinhos. Por vezes, só são
conhecidos esses problemas pelo jornal estranho, o que não deixa de
ser simpático e demonstrativo de que os jornalistas picoenses estão
atentos aos problemas da Ilha, que são bastantes.
Demais, a
ilha é um todo que deve ser considerado. Quem anda pelas estradas do
Pico, mal se apercebe de uma ou outra placa toponímica indicativa
do início do doutro concelho, ou mesmo freguesia, onde se acaba de
“entrar”.
A
atenção dispensada pelos homens da Comunicação Social a todo o
território picoense não deixa de ser saudável, pois é
demonstrativo de que vai desaparecendo o discutível bairrismo de que
muitos se serviram para rebaixar os direitos vitais dos vizinhos.
Há
mesmo problemas que deviam ser resolvidos, de comum acordo entre as
autarquias, para que a sua solução fosse rápida e eficaz.
Um
exemplo ficou da criação da Federação dos Municípios picoenses
para a exploração dos serviços eléctricos que, pouco depois foi
absorvida pela, então, recentemente criada EDA – Empresa de
Electricidade dos Açores. E foi pena que as outras duas federações
previstas não tivessem logrado alcançar êxito. Mas isso são
histórias que a História nem registará, porque já passaram ao
esquecimento. Surgiu depois a Associação dos Municípios
Picoenses, de poderes limitados ao saneamento básico, segundo creio,
pois há muitos anos que estou afastado desse sector da vida
picoense.
Julgo
que outras iniciativas semelhantes se deviam tomar e as suas
resoluções acatadas, num equilíbrio de justiça, respeito,
dedicação e de serviço público...
Em anos
passados, os Baldios eram comuns aos Municípios de Lajes e São
Roque. As populações dos dois lados da ilha exploravam-nos,
principalmente, criando neles gado ovelhum. Era de festa o dia em
que, de comum acordo, se reuniam carneiros e ovelhas num sítio que
se denominava “arrodeio” e onde os proprietários escolhiam,
pelos sinais atempadamente ligados, os seus animais, procediam à
tosquia e confraternizavam, cantavam e bailavam com muitos dos
visitantes, as chamarritas regionais. E daí surgiram até futuros
casamentos...
Hoje o
sistema social modificou-se. Os casamentos são raros, a natalidade
quase não acontece e a ilha vai envelhecendo...
Mas isso
não é o melhor sistema para caminhar para o futuro. A ilha não
pode nem deve ficar deserta ou somente entregue à passarada e ao
gado bravio.
Há que
encarar a tempo a situação. Há que preparar o futuro, aproveitando
o potencial de que dispõe a ilha. E não se julgue que é diminuto
ou de pouca valia.
Na revista
“Cofre”, escreve C. Brandão Lucas, em artigo intitulado: Carta
a um amigo que nunca foi ao Pico: “...De
resto já deves saber
ao que vimos. Enfeitar os olhos com a ilha é a proposta.
Descobri-la por detrás das nuvens é a ideia. Não propriamente as
freguesias, os lugares e as vilas, como Madalena, Terra do Pão ou
Piedade. Mas um outro Pico...mais paisagem e mais mistério”.
E a concluir: “Em todo o caso, meu amigo,
não tem sentido vir ao Pico sem descer à Vila das Lajes. Lajes do
Pico. Foi, em tempos não muito recuados, importante vila
baleeira.”(...)“O certo, no entanto, é que cada casa virada para
o mar...cada janela à
espreita no horizonte...cada vidraça dependurada no telhado...cada
lugar posto à beira d´água... cada objecto arrimado no
pontão...cada chaminé plantada na falésia...guarda no seu silêncio
o rebentar de um foguete de aviso...e o grito de “baleia à vista”
que então ia pelas ruas.”(1)
E como
escreveu um dia um antigo camarada: “No continente sou açoriano...
Nos Açores, sou da ilha do Pico...”
É o quanto
basta.
1 Lucas,Carlos Brandão,
Carta a um amigo que nunca foi ao Pico – in COFRE, Revista
do Cofre de Previdência, Set.Out. 2014.
Lajes do Pico,
14-11-2014
Ermelindo Ávila
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