domingo, 21 de dezembro de 2014

A MENINA RAQUEL

 A MINHA NOTA


Aproximava-se a festa do Menino Jesus. Raquel era uma menina de poucos anos. Loirinha do cabelo, de olhos azuis, mãos papudas e andar saltitante. Vivia quase só, pois era a filha única de um casal já entrado em idade e que não aguardava outros filhos. Daí ser o “aí-Jesus” da família, que não apenas dos pais.
Tinha umas tias, relativamente novas, que lhe faziam todas as vontades. Nunca a contrariavam para que a menina andasse sempre alegre e bem disposta.
Na escola - Raquel já frequentava o primeiro ciclo - as colegas faziam-lhe todas as vontades, pois ela era amiga de todas as companheiras e normalmente distribuía por elas daquilo que levava para o seu lanche.
Um dia Raquel faltou à escola e as colegas foram procurá-la em casa e saber do motivo da ausência. A razão era simples: tinha-se magoado num pé, quando fora à praia tomar banho com os pais e por esse motivo não podia calçar sapatos. E descalça não saía de casa.
Todos os anos, quando se aproximava a festa do Natal, os pais, em segredo, tinham por hábito preparar uma grande festa. A pouco e pouco, costumavam adquirir objectos vários, para esse dia que era celebrado com muitas festinhas, principalmente depois que a Raquel deixara de ser bebé.
Contudo os brinquedos iam ficando para trás pois a menina interessava-se agora muito mais por livros de histórias. E lia com interesse as histórias do Tio Patinhas e outras mais. Mas não guardava os livros. Tinha por hábito distribuí-los pelas amigas que muito os apreciavam, dado que algumas delas eram pobres e os pais não podiam comprar-lhes livros de estórias e era talvez por isso que as amigas não lhe faltavam.
Raquel melhorou e voltou à escola e a brincar com as companheiras amigas.
Mas um dia, quando menos se esperava, a fatalidade chegou. A fábrica de lanifícios onde trabalhava o pai faliu e todos os empregados foram despedidos. Só restou ao pai de Raquel e companheiros, irem para o desemprego, uma situação angustiosa e triste que nunca esperara. A mãe nunca trabalhara pois só se dedicava ao serviço doméstico.
Escusado será dizer que nesse ano tudo foi diferente.
Quando chegou a Noite de Natal, quase nenhuns brinquedos foram destinados à Raquel. Os livros de histórias ficaram na Livraria, e a Raquel não recebeu nenhum. Como é natural, ficou muito triste.
As colegas de escola, desconheciam a situação familiar da amiga e andavam surpreendidas e sem compreender a atitude da Raquel. Ela, nesse ano, como é compreensível, não teve os livros de histórias para lhes dar, e na escola, já não repartia com as amigas o pequeno lanche que a mãe lhe preparava com sacrifício. Naturalmente que ficaram sentidas e afastaram-na um pouco.
Quando a Professora soube a razão da atitude das alunas, interveio muito discretamente. Fez às colegas uma larga explicação da situação em que se encontravam os pais da Raquel e outros mais, que haviam ficado desempregados, e aconselhou-as a continuarem com a mesma amizade, pois ela estava a ser vítima de uma situação muito amarga que atingia já muitas famílias daquela zona.
E mais lhes disse: Que, como católicas que eram, todas ou quase todas, pedissem ao Menino Jesus que interviesse na situação amarga porque se estava a passar, para que os homens soubessem encontrar soluções condignas e o emprego voltasse àqueles que só dele viviam e sustentavam as famílias.
Mas foi então que o imprevisto aconteceu: Aceitando os conselhos da Mestra, as colegas da Raquel resolveram juntar alguns euros e com eles comprar um pequeno livro de histórias, que ela tanto apreciava, uma pequena boneca e alguns doces, organizando assim um pequeno cabaz de Natal que, na véspera do grande dia, foram levar à Raquel. Escusado será dizer a comoção que dela se apossou e dos próprios Pais, que não sabiam como agradecer àquelas meninas o seu gesto tão carinhoso e simpático e em dia tão lembrado.
E o Natal daquele ano não deixou de trazer à Raquel alguma alegria, embora não tanta como nos anos anteriores.
Que o MENINO JESUS a todos traga um Natal Feliz, são os votos sinceros que aqui deixamos.
Novembro, 2014

Ermelindo Ávila

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