NOTAS DO MEU CANTINHO
Não
acreditamos !!!
E volto a
dizer: Não era de acreditar que algum governante pensasse em retirar
aos antigos hospitais das Lajes do Pico e de S. Roque do Pico,
actuais Centros de Saúde, os serviços que vêm plausivelmente
prestando desde o seu início, em 1960, às populações dos dois
concelhos e não só.
Retiraram,
incompreensivelmente, aos estabelecimentos hospitalares da Ilha do
Pico os serviços de obstetrícia, julgando que prestavam um bom
cuidado à população picoense. O resultado tem vindo a demonstrar
que evitar nascer na ilha não beneficia a populações, antes lhes
trouxe arrelias tamanhas e sobressaltos inimagináveis.
Que lucram
as mães a andar de ilha para ilha, muitas vezes em situações
aflitivas para, de vez em quando, acontecerem casos bizarros de se
nascer a meio canal, ou em viagem para a lancha, como há dias
aconteceu com uma senhora do lado Norte, que teve de acolher-se ao
centro de saúde da Madalena, onde ocorreu o nascimento normal do
filho?
Durante
cinco séculos – quinhentos anos - os picoenses nasceram na sua
ilha, valendo às mães as senhoras que, em cada freguesia, se
prestavam a cuidar da assistência, com alguma competência e sentido
caritativo. E não eram remuneradas!
Num dos
primeiros anos de funcionamento, nasceram no então hospital
sub-regional das Lajes do Pico, propriedade da Santa Casa da
Misericórdia, mais de cem crianças sem que nenhuma delas perdesse a
vida. E nos anos anteriores e posteriores o mesmo havia acontecido,
até que as sábias reformas apareceram
e, na ilha do Pio, foram abruptamente encerradas as Maternidades!
Aceito que
haja clínicos que acatem, plausivelmente, as ordens governamentais,
mas sabe-se que só em casos anormais, os senhores médicos assistem
ao nascimento de qualquer criança. E enfermeiras com especialidade
de obstetrícia havia-as em quase todos os estabelecimentos
hospitalares.
A
natalidade picoense desapareceu e só num ou noutro caso é que o
Pico regista um natural da ilha, muito embora se haja legislado – e
quem faz a lei fá-la como bem entende... – que a naturalidade do
nascido é ou pode ser a da mãe. Mas, queiram ou não, quando esse
infante for homem poderá dizer: eu não nasci no Pico, mas no Faial.
Isto para dizer, queiram ou não, que nenhuma lei jamais poderá
alterar as condições naturais da vida humana. (E vão surgir novos
casos à semelhança do Dr. Manuel de Arriaga...) Mas o corte das
chamadas valências
hospitalares, ao que parece, não
terminou. Chega-nos a macabra notícia de que, aos actuais centros de
saúde de São Roque e Lajes vão subtrair-lhes, - sub-repticiamente,
se isso acontecer – diversas valências entre elas o
internamento de doentes e as urgências.
Concretamente, ao que tudo indica, passarão a ser simples
consultórios para atendimento ambulatório de doentes.
Se isso é
para acontecer, e vai acontecer segundo noticia a comunicação
social, desde já aqui
lavro o meu PROTESTO de picoense ainda bastante consciente dos
direitos que devem ser mantidos e respeitados aos povos da ilha.
E
é por essa arbitrária medida e por outras, que o Pico se vai
despovoando e não levará muito para que alguém pergunte aos
governantes políticos: Quando pensam em extinguir o concelho-mãe,
com mais de quinhentos anos, da Ilha Pico? Pelo
andar da carroça chegamos à triste conclusão de que isso também
vai acontecer em outras ilhas, incluindo o Corvo que, pela primeira
vez, depois de cinco séculos de povoamento, ficará anexado às
Flores.
Mas antes,
terá a população picoense de tomar a atitude que se impõe e
protestar com civismo, mas energicamente, contra essa medida
discricionária e altamente prejudicial, principalmente à terceira
idade. E, trazendo aqui a terceira idade: Quando um internado dos
Lares de idosos de S. Roque, Piedade ou Lajes necessitar de
tratamento médico-hospitalar, onde vai ser internado? Ou não
merecerá tratamento?
Não será
a vida o maior bem que usufrui o homem? Ou este será um boneco que
se deita à lixeira quando está estragado ?
Tudo isto
faz supor que há para aí alguém que se faz candidato a um novo
Prémio Nobel.
Aqui
há meses, tratei deste gritante assunto e pensei não voltar mais a
dele me ocupar. Com as notícias vindas a público estou tão triste
e magoado que não resisti em lançar a mão à
pena e aqui deixar uma palavra de protesto
por tamanha arbitrariedade. Não esqueci nunca o quão difícil foi,
para mim e companheiros, promover a construção do edifício
hospitalar desta vila, equipá-lo com um recheio moderno e excelente
e abri-lo, no dia 1 de Janeiro de 1960, são decorridos, portanto,
quase cinquenta e cinco anos.
A
Misericórdia das Lajes do Pico, cujos privilégios
e liberdades lhe foram concedidos por alvará
régio de 14 de Novembro
de 1592, lutou quase quinhentos anos para
possuir um estabelecimento hospitalar, para em menos de cinquenta
anos, dele ser desapossada, e agora transformado quase em simples
consultório clínico.
É
simplesmente lamentável.
Lajes do
Pico, Dezº de 2014
Ermelindo
Ávila
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