domingo, 21 de dezembro de 2014

SERVIÇOS DE SAÚDE EM BOLANDAS

NOTAS DO MEU CANTINHO


Não acreditamos !!!
E volto a dizer: Não era de acreditar que algum governante pensasse em retirar aos antigos hospitais das Lajes do Pico e de S. Roque do Pico, actuais Centros de Saúde, os serviços que vêm plausivelmente prestando desde o seu início, em 1960, às populações dos dois concelhos e não só.
Retiraram, incompreensivelmente, aos estabelecimentos hospitalares da Ilha do Pico os serviços de obstetrícia, julgando que prestavam um bom cuidado à população picoense. O resultado tem vindo a demonstrar que evitar nascer na ilha não beneficia a populações, antes lhes trouxe arrelias tamanhas e sobressaltos inimagináveis.
Que lucram as mães a andar de ilha para ilha, muitas vezes em situações aflitivas para, de vez em quando, acontecerem casos bizarros de se nascer a meio canal, ou em viagem para a lancha, como há dias aconteceu com uma senhora do lado Norte, que teve de acolher-se ao centro de saúde da Madalena, onde ocorreu o nascimento normal do filho?
Durante cinco séculos – quinhentos anos - os picoenses nasceram na sua ilha, valendo às mães as senhoras que, em cada freguesia, se prestavam a cuidar da assistência, com alguma competência e sentido caritativo. E não eram remuneradas!
Num dos primeiros anos de funcionamento, nasceram no então hospital sub-regional das Lajes do Pico, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, mais de cem crianças sem que nenhuma delas perdesse a vida. E nos anos anteriores e posteriores o mesmo havia acontecido, até que as sábias reformas apareceram e, na ilha do Pio, foram abruptamente encerradas as Maternidades!
Aceito que haja clínicos que acatem, plausivelmente, as ordens governamentais, mas sabe-se que só em casos anormais, os senhores médicos assistem ao nascimento de qualquer criança. E enfermeiras com especialidade de obstetrícia havia-as em quase todos os estabelecimentos hospitalares.
A natalidade picoense desapareceu e só num ou noutro caso é que o Pico regista um natural da ilha, muito embora se haja legislado – e quem faz a lei fá-la como bem entende... – que a naturalidade do nascido é ou pode ser a da mãe. Mas, queiram ou não, quando esse infante for homem poderá dizer: eu não nasci no Pico, mas no Faial. Isto para dizer, queiram ou não, que nenhuma lei jamais poderá alterar as condições naturais da vida humana. (E vão surgir novos casos à semelhança do Dr. Manuel de Arriaga...) Mas o corte das chamadas valências hospitalares, ao que parece, não terminou. Chega-nos a macabra notícia de que, aos actuais centros de saúde de São Roque e Lajes vão subtrair-lhes, - sub-repticiamente, se isso acontecer – diversas valências entre elas o internamento de doentes e as urgências. Concretamente, ao que tudo indica, passarão a ser simples consultórios para atendimento ambulatório de doentes.
Se isso é para acontecer, e vai acontecer segundo noticia a comunicação social, desde já aqui lavro o meu PROTESTO de picoense ainda bastante consciente dos direitos que devem ser mantidos e respeitados aos povos da ilha.
E é por essa arbitrária medida e por outras, que o Pico se vai despovoando e não levará muito para que alguém pergunte aos governantes políticos: Quando pensam em extinguir o concelho-mãe, com mais de quinhentos anos, da Ilha Pico? Pelo andar da carroça chegamos à triste conclusão de que isso também vai acontecer em outras ilhas, incluindo o Corvo que, pela primeira vez, depois de cinco séculos de povoamento, ficará anexado às Flores.
Mas antes, terá a população picoense de tomar a atitude que se impõe e protestar com civismo, mas energicamente, contra essa medida discricionária e altamente prejudicial, principalmente à terceira idade. E, trazendo aqui a terceira idade: Quando um internado dos Lares de idosos de S. Roque, Piedade ou Lajes necessitar de tratamento médico-hospitalar, onde vai ser internado? Ou não merecerá tratamento?
Não será a vida o maior bem que usufrui o homem? Ou este será um boneco que se deita à lixeira quando está estragado ?
Tudo isto faz supor que há para aí alguém que se faz candidato a um novo Prémio Nobel.
Aqui há meses, tratei deste gritante assunto e pensei não voltar mais a dele me ocupar. Com as notícias vindas a público estou tão triste e magoado que não resisti em lançar a mão à pena e aqui deixar uma palavra de protesto por tamanha arbitrariedade. Não esqueci nunca o quão difícil foi, para mim e companheiros, promover a construção do edifício hospitalar desta vila, equipá-lo com um recheio moderno e excelente e abri-lo, no dia 1 de Janeiro de 1960, são decorridos, portanto, quase cinquenta e cinco anos.
A Misericórdia das Lajes do Pico, cujos privilégios e liberdades lhe foram concedidos por alvará régio de 14 de Novembro de 1592, lutou quase quinhentos anos para possuir um estabelecimento hospitalar, para em menos de cinquenta anos, dele ser desapossada, e agora transformado quase em simples consultório clínico.
É simplesmente lamentável.

Lajes do Pico, Dezº de 2014

Ermelindo Ávila

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