A baleação é um vocábulo usado pela primeira vez, segundo o erudito Coronel José Agostinho, por Robert Clark, quando pelos Açores andou a estudar a actividade baleeira.
Significa ela a actividade industrial dos açorianos que, ao longo dos séculos, se dedicaram como meio de sobrevivência, à caça do maior mamífero dos oceanos.
É muito vasta a bibliografia sobre a baleação. Mesmo antes do celebrado romance “Mau Tempo no Canal”, do insigne escritor Vitorino Nemésio, e da vasta obra literária do festejado escritor Dias de Melo, que, em seus trabalhos, quase uma trintena, praticamente esgotou a saga baleeira, muitos outros escritores e poetas, quer antes quer depois, têm dedicado boa parte da sua actividade literária à aliciante temática baleeira. Já um dia publiquei, eu que não passo dum rabiscador, incipiente trabalho sobre este aliciante tema (1).
Num modesto escrito jornalístico seria temerário tentar referir quantos, ao longo dos tempos, mas principalmente durante os séculos XIX e XX, discorreram, sob as mais diversas formas, acerca desta actividade, a mais importante indústria que se estabeleceu e desenvolveu, durante uma centena de anos, nestas ilhas, que não somente na ilha do Pico. Todavia lembro que já Gaspar Frutuoso, historiador e literato, formado na Universidade de Salamanca e micaelense de nascimento, nas suas Saudades da Terra, escritas por volta de 1580, falava do aparecimento de monstros marinhos no ano de 1536 ou 1537. (L.º 4º, pág.251).
A verdade é que as baleias sempre andaram por estes mares do Oceano. A sua existência remonta aos princípios do mundo, tal como as demais espécies que existiram ou existem em terra e mares. A própria Bíblia nos narra que o Profeta Jonas ( que deve ter existido no século VIII A.C.), sendo lançado ao mar, no meio de uma tempestade, pelos companheiros de viagem, foi engolido por um grande animal marinho. Jonas esteve três dias e três noites no ventre desse peixe. (Jonas, 2-1,3).
É natural que os navegadores, nas suas longas viagens pelos mares, topassem com monstros marinhos e deles se afastassem. No entanto, os povoadores, logo que chegaram a estas ilhas, aproveitaram todos os meios de subsistência e, consequentemente, esses monstros que eram arrojados às costas.
Todavia foram os americanos, ainda sob o domínio inglês, que iniciaram, nestes mares, a pescaria das baleias. E tanto assim que em 1768 andavam por estes mares açorianos (não havia a zona económica exclusiva... que, aliás, em breve desaparecerá...), 200 navios com a bandeira inglesa, na caça da baleia, o que levou o governador e capitão-general, D. Antão de Almada, em ofício de 19 de Outubro de 1768, a dirigir-se ao Ministro do Reino reclamando contra a presença desses navios nos mares dos Açores. E escrevia: ... sendo o azeite de baleia um dos géneros de grande utilidade para estas Ilhas, por que dele se servem os moradores para todo o gasto comum das suas respectivas casas e que sendo a providência de Deus Nosso Senhor servido dar uma tão grande cópia da produção daqueles peixes em todas estas costas, que dele se podia tirar uma avultada conveniência, não só em benefício destes povos, mas ainda da Fazenda Real, a nação inglesa se tinha aproveitado o ano passado desta pescaria (...) de que extraíram não só muita quantidade do dito género mas muito esparmacete e algum ambar...(Arq. dos Açores, Vol.VI, pág.8)
Em 11 de Setembro de 1869 o jornal “O Faialense” informava que em 1859 os Estados Unidos tinham uma frota baleeira superior a 600 embarcações.
A caça da baleia nos Açores inicia-se nos meados do século XVIII, embora Frutuoso, como acima se refere, houvesse assinalado, no século XVI, a presença de alguns monstros marinhos. Assim nos informa Carreiro da Costa no Esboço Histórico dos Açores, pág.207.
“Em fevereiro (de 1857) foi armado em baleeira um brigue francês =Adonis= que tinha sido condenado pelo procurador do seguro; porque as despesas que exigia para o seu reparo eram excessivas, embandeirou-se à portuguesa com o nome de – Cidade da Horta-. (António L. Silveira Macedo - Hist. das Quatro Ilhas... II Vol. Pág 236 – 1981) O mesmo autor informa ainda (pág.281,Vol.c.): que, “Apesar dos poucos lucros que tinham dado os navios baleeiros armados na ilha do Faial, continuavam contudo os negociantes faialenses neste género de especulação possuindo já a praça da Horta 10 baleeiras.”
Na vila das Lajes “deve-se a João Paulino Laureano Narciso da Silveira, falecido em princípios de 1866, a introdução da caça da baleia com um brigue por ele armado e que lhe acarretou sérios dissabores e até a morte.”
Mas, certo é que o primeiro contrato escrito para a baleação costeira, se realizou em 28 de Abril de 1876 entre Samuel W. Dabney e George S.J. Oliver, cidadãos americanos residentes na Horta, e Samuel Silva, ou Anselmo Silva, cidadão americano, naturalizado, natural e residente na Calheta de Nesquim, da Ilha do Pico.
Os sócios Dabney e Oliver comprometeram-se a fornecer uma canoa devidamente preparada e arranjada e os utensílios e objectos necessários para a actividade e o sócio Samuel (Anselmo) a assumir pessoalmente o mando da canoa, e a prove-la com trancador e tripulantes devidamente habilitados.
Mas, a história não fica por aqui. Continuaremos.
(1) Ermelindo Ávila, “Temática Baleeira na Literatura Açoriana”
Vila Baleeira, Jan. 2004.
Ermelindo Ávila
Significa ela a actividade industrial dos açorianos que, ao longo dos séculos, se dedicaram como meio de sobrevivência, à caça do maior mamífero dos oceanos.
É muito vasta a bibliografia sobre a baleação. Mesmo antes do celebrado romance “Mau Tempo no Canal”, do insigne escritor Vitorino Nemésio, e da vasta obra literária do festejado escritor Dias de Melo, que, em seus trabalhos, quase uma trintena, praticamente esgotou a saga baleeira, muitos outros escritores e poetas, quer antes quer depois, têm dedicado boa parte da sua actividade literária à aliciante temática baleeira. Já um dia publiquei, eu que não passo dum rabiscador, incipiente trabalho sobre este aliciante tema (1).
Num modesto escrito jornalístico seria temerário tentar referir quantos, ao longo dos tempos, mas principalmente durante os séculos XIX e XX, discorreram, sob as mais diversas formas, acerca desta actividade, a mais importante indústria que se estabeleceu e desenvolveu, durante uma centena de anos, nestas ilhas, que não somente na ilha do Pico. Todavia lembro que já Gaspar Frutuoso, historiador e literato, formado na Universidade de Salamanca e micaelense de nascimento, nas suas Saudades da Terra, escritas por volta de 1580, falava do aparecimento de monstros marinhos no ano de 1536 ou 1537. (L.º 4º, pág.251).
A verdade é que as baleias sempre andaram por estes mares do Oceano. A sua existência remonta aos princípios do mundo, tal como as demais espécies que existiram ou existem em terra e mares. A própria Bíblia nos narra que o Profeta Jonas ( que deve ter existido no século VIII A.C.), sendo lançado ao mar, no meio de uma tempestade, pelos companheiros de viagem, foi engolido por um grande animal marinho. Jonas esteve três dias e três noites no ventre desse peixe. (Jonas, 2-1,3).
É natural que os navegadores, nas suas longas viagens pelos mares, topassem com monstros marinhos e deles se afastassem. No entanto, os povoadores, logo que chegaram a estas ilhas, aproveitaram todos os meios de subsistência e, consequentemente, esses monstros que eram arrojados às costas.
Todavia foram os americanos, ainda sob o domínio inglês, que iniciaram, nestes mares, a pescaria das baleias. E tanto assim que em 1768 andavam por estes mares açorianos (não havia a zona económica exclusiva... que, aliás, em breve desaparecerá...), 200 navios com a bandeira inglesa, na caça da baleia, o que levou o governador e capitão-general, D. Antão de Almada, em ofício de 19 de Outubro de 1768, a dirigir-se ao Ministro do Reino reclamando contra a presença desses navios nos mares dos Açores. E escrevia: ... sendo o azeite de baleia um dos géneros de grande utilidade para estas Ilhas, por que dele se servem os moradores para todo o gasto comum das suas respectivas casas e que sendo a providência de Deus Nosso Senhor servido dar uma tão grande cópia da produção daqueles peixes em todas estas costas, que dele se podia tirar uma avultada conveniência, não só em benefício destes povos, mas ainda da Fazenda Real, a nação inglesa se tinha aproveitado o ano passado desta pescaria (...) de que extraíram não só muita quantidade do dito género mas muito esparmacete e algum ambar...(Arq. dos Açores, Vol.VI, pág.8)
Em 11 de Setembro de 1869 o jornal “O Faialense” informava que em 1859 os Estados Unidos tinham uma frota baleeira superior a 600 embarcações.
A caça da baleia nos Açores inicia-se nos meados do século XVIII, embora Frutuoso, como acima se refere, houvesse assinalado, no século XVI, a presença de alguns monstros marinhos. Assim nos informa Carreiro da Costa no Esboço Histórico dos Açores, pág.207.
“Em fevereiro (de 1857) foi armado em baleeira um brigue francês =Adonis= que tinha sido condenado pelo procurador do seguro; porque as despesas que exigia para o seu reparo eram excessivas, embandeirou-se à portuguesa com o nome de – Cidade da Horta-. (António L. Silveira Macedo - Hist. das Quatro Ilhas... II Vol. Pág 236 – 1981) O mesmo autor informa ainda (pág.281,Vol.c.): que, “Apesar dos poucos lucros que tinham dado os navios baleeiros armados na ilha do Faial, continuavam contudo os negociantes faialenses neste género de especulação possuindo já a praça da Horta 10 baleeiras.”
Na vila das Lajes “deve-se a João Paulino Laureano Narciso da Silveira, falecido em princípios de 1866, a introdução da caça da baleia com um brigue por ele armado e que lhe acarretou sérios dissabores e até a morte.”
Mas, certo é que o primeiro contrato escrito para a baleação costeira, se realizou em 28 de Abril de 1876 entre Samuel W. Dabney e George S.J. Oliver, cidadãos americanos residentes na Horta, e Samuel Silva, ou Anselmo Silva, cidadão americano, naturalizado, natural e residente na Calheta de Nesquim, da Ilha do Pico.
Os sócios Dabney e Oliver comprometeram-se a fornecer uma canoa devidamente preparada e arranjada e os utensílios e objectos necessários para a actividade e o sócio Samuel (Anselmo) a assumir pessoalmente o mando da canoa, e a prove-la com trancador e tripulantes devidamente habilitados.
Mas, a história não fica por aqui. Continuaremos.
(1) Ermelindo Ávila, “Temática Baleeira na Literatura Açoriana”
Vila Baleeira, Jan. 2004.
Ermelindo Ávila
in Figuras & Factos, II vol. 2005
1 comentário:
Parabéns pelo texto e pela excelente foto.
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