segunda-feira, 11 de junho de 2007

DA HISTÓRICA CUSTÓDIA DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE


A Igreja de Nossa Senhora da Piedade, da ilha do Pico, era uma das que possuia mais ricas alfaias e um excelente órgão de tubos.
A antiga igreja paroquial, situada no local hoje denominado “Império”, sofreu uma derrocada com o sismo que abalou aquela freguesia no ano de 1757, ficando totalmente destruída e perdendo-se todos os seus haveres. O povo não cruzou os braços. Um ano depois iniciou a construção da nova e actual Igreja, que, na tradição local, estava concluída oito anos depois, ou seja em 1766. Repetindo o que já escrevi sobre esta magnífica Igreja, devo registar que tem 42 metros de comprimento e dezasseis de largura. É de três naves, e as arcadas são em pedra regional, extraída da “Laje da Pedreira” do Calhau daquela freguesia, bem como todo o frontispício do templo, tendo a particularidade de, nas paredes laterais, existirem faixas igualmente em pedra lavrada. Segundo o prof. Manuel d’Ávila Coelho (A freguesia de Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico, in Boletim do Núcleo Cultural da Horta, ano 1961, Vol.2, Nº3, pág.291), conta-se até que enquanto se levou em estudos para conduzir ao local próprio a enorme verga, ou lintel, da porta principal, o mar, num dia de fúria, a arrastou para o porto, onde facilmente foi carregada.
Daquela paróquia foi Vigário o Cónego honorário António Silveira Ávila Furtado, pessoa muito viajada e, segundo me dizia o Pe José Vieira Soares, Ouvidor do Concelho das Lajes, nas suas quase periódicas visitas a Lisboa, conseguiu obter dos antigos conventos e mosteiros, ricas alfaias para a sua Igreja, a troco de dádivas que fazia às freiras.
Foi assim que a Igreja da Piedade, meio século atrás ainda possuía alguns “pontificais” de excepcional valor. Nela existia igualmente um bom órgão de tubos que, devido à humidade e talvez à falta de uso, ficou inoperacional, o que levou um dos párocos que por ali passaram no século passado a desmantelá-lo e dele fazer um armário para a recolha dos paramentos. Uma medida que hoje não seria tomada pela facilidade que tem havido em restaurar os antigos órgãos. Este instrumento litúrgico foi construído em São Jorge por Tomé Gregório de Lacerda, em 1874, para a Igreja da Piedade, por 900$000 e foi o melhor dos quatro construídos por este organeiro.(vidé Notas Históricas, do Padre Manuel Azevedo da Cunha.)
Escaparam os ricos objectos de culto, entre eles uma custódia que, ao que consta, anda agora a ser objecto de reivindicações...
A custódia da Igreja da Piedade é hoje propriedade legal daquela paroquial e não pode nem deve ser dali desviada, a menos que se queira seguir o exemplo, que agora se repudia, dos antepassados.
Ainda segundo Manuel d’Ávila Coelho, no citado trabalho, Será interessante saber-se de que maneira veio parar à Piedade a grande Custódia de que já falámos.
O Vigário desse tempo, cónego António Silveira de Ávila Furtado, pediu ao seu Bispo uma Custódia emprestada, para servir na imponente festa de Nossa Senhora da Piedade, e este autorizou o tesoureiro da Sé a emprestá-la. O tesoureiro ao ver o cónego, que muito bem conhecia, mordeu o beiço, sabendo-o useiro e vezeiro em certas habilidades, mas estava ali o cartão do Prelado e cumpriu a ordem, correndo depois ao Paço a dizer que a Custódia não voltaria mais, porque aquele padre não restitui os objectos que levava para a sua Igreja, por empréstimo, ficando o tesouro privado daquela preciosidade.
Entretanto o Cónego entregava a Custódia ao mestre dum iate do Pico, que só esperava por ela para partir, e quando foi chamado ao Paço, onde lhe puseram embargos ao empréstimo, o facto estava consumado.
Passada a festa, começou a troca de correspondência para que a Custódia voltasse ao seu antigo lugar, mas o cónego, sempre muito respeitosamente, foi protelando a entrega, até que um dia apareceu, como água fria na fervura, um decreto ministerial transferindo a famigerada Custódia da Sé de Angra para a igreja de Nossa Senhora da Piedade.
O Bispo tinha sido logrado.
Como este, há outros factos muito interessantes
.
Por cá sempre constou que o Cónego António Silveira tinha grandes amigos e de destaque em Lisboa e que um dia, metendo-se a bordo de um barco, passando em Angra recolhido, se dirigiu à Capital e conseguiu do Ministro da Justiça e dos Cultos, a transferência da Custódia.
Tudo isto ocorreu ainda no século XIX e já vamos no século XXI e os ministros já não interferem nos bens eclesiásticos a partir de 1940!...Se me não falha a memória, era Ministro da Justiça e dos Cultos o conselheiro Veiga Beirão, o mesmo que decretou a colocação do Vigário Manuel José Lopes na Matriz da vila das Lajes.
Lajes do Pico,
Agosto de 2006.
Ermelindo Ávila

3 comentários:

Anónimo disse...

Ex.mo Senhor:

Parabéns pelo seu artigo.
Gostaria obter informações mais detalhadas acerca da bibliografia possível acerca do órgão que refere, para publicação em site especializado na matéria organística. Ass: NUNO MIMOSO. por favor responda para nuno_mimoso@hotmail.com

Jeannette disse...

Eu sou uruguaiamas meus antepasados foram portugueses vindos dos Acores.Minha cidade San Carlos,no Uruguai,foi fundada por casais acorianos trazidos do Rio Grande.Gostaria muito saber mais do meu antepasado Francisco Pirez de Souza ,do Pico,casado com Josefa Bitancurt e chegado ao continente americano aprox em 1760.Meu e-mail � jeannettepiriz@hotmail.com.uy.Muito obrigada.

Jeannette disse...

Eu sou uruguaia mas descendente de famílias acorianas.Minha cidade foi fundada em 1763 por casais vindos das ilhas dos Acores.Meu antepasado fundador foi Francisco Pires de Souza casado com Josefa Bitancurt naturais do Pico.Penso que eles chegaram ao continente americano em volta de 1760 mais nao tenho certeza por isso gostaria saber mais. Minha cidade se chama San Carlos e fica no Uruguai.Como eu possso conseguir a certidao de batizado de eles ou mais informacao?Eu sinto muito orgulho dos meus antepasados acorianos.Muito obrigada.Meu e-mail é jeannettepiriz@hotmail.com