domingo, 26 de março de 2017

SANTA CASA DA MISERICÓRDIA

NOTAS DO MEU CANTINHO


         No passado domingo realizou-se na Paróquia da Santíssima Trindade, sede da antiga Ouvidoria das Lajes do Pico, a tradicional Procissão do Senhor dos Passos. Um acto litúrgico que vem de longa época que é sempre feita com ordem, respeito e solenidade. O mesmo aconteceu realçando-se a comparência da Irmandade da Santa Casa, promotora daquele acto litúrgico, o único que, presentemente, assinala externamente o Tempo de Quaresma.
         A Santa Casa da Misericórdia da Vila das Lajes é actualmente a instituição sócio-religiosa mais antiga da Ilha. Foi fundada por Alvará régio de 14 de Novembro de 1592 . E diz o Alvará que o Provedor e Irmãos da Confraria “gozem e usem de todos as liberdades e privilégios e liberdades de que gozam e usam (...) o provedor e irmãos da confraria da misericórdia da cidade d´Angra da ilha Terceira e da ilha do Faial e isto naquelas coisas que se poderem aplicar à dita confraria da ilha do Pico...”.
         As Misericórdias de São Roque e Madalena são de recente fundação. Esta última foi fundada recentemente por Jacinto Ramos e outros, para aproveitar o legado de Terra Pinheiro e construir o antigamente classificado “hospital sub-regional” . A de São Roque teve a mesma finalidade. S. Roque construiu o hospital “Rainha Santa Isabel” primeiro que os outros. O das Lajes, apesar dos respectivos estatutos da Santa Casa preverem a construção de um hospital, este só veio a ser inaugurado em l de Janeiro de 1960 por dificuldades na aquisição do terreno onde foi implantado. Mesmo assim o projecto que lhe fora destinado pela Comissão de Construções Hospitalares e que foi cedido à Madalena, teve de ser novamente elaborado por aquela Comissão.
 Para a construção do hospital o Barão de Castelo de Paiva concedeu, em 10 de Janeiro de 1874, duas inscrições com o valor nominal de 500$000 (reis). Mas essas também desapareceram...
 Frei Diogo das Chagas no seu valioso “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores,” relata que a Santa Casa, em 1641, possuía uma casa que se encontrava em ruínas já no ano de 1718, quando se deram as primeiras erupções vulcânicas na Ilha do Pico. E Lacerda Machado, em artigo publicado no antigo jornal “As Lages”, escreve que a Misericórdia possuía um templo de duas naves, construído, por voto do povo, aquando daquelas erupções, sendo destruído em 1868 e mais tarde demolido para utilizarem os materiais na construção da Igreja Matriz. O local onde fora construído foi arrematado.
Segundo constava dos livros da contabilidade da Misericórdia das Lajes, incompreensivelmente desaparecidos, a instituição limitava a sua actividade a fazer empréstimos a pobres, a distribuir pensões de invalidez e a realizar as solenidades de Passos e Calvário.
          Os irmãos usavam nas cerimónias litúrgicas balandrau preto. O provedor empunhava nos actos públicos uma vara de metal prateada e nas procissões e funerais dos irmãos era levada a bandeira respectiva: um quadro hasteado numa vara e com pinturas em tela nas duas faces. Mas também estas insígnias desapareceram, e não há muitas dezenas de anos.
          Apreciei que a Santa Casa voltasse a dispor de bandeira e o provedor de vara e irmãos de balandrau. As senhoras que pelos novos estatutos podem inscrever-se como irmãs, usam opas pretas.
         Já isso escrevi em outra ocasião(1), mas não fica mal repetir...

1)Ávila, Ermelindo. Figuras & Factos. Vol 1

Vila das Lajes-
15-Março-2016
Ermelindo Ávila



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