A MINHA NOTA
Estamos no seu tempo, mas é tradição
que vai desaparecendo. E que hilariantes eram as máscaras e os mascarados que, no mês anterior ao Carnaval, faziam o
delírio das famílias lajenses e, naturalmente, em outras localidades da ilha.
As imitações eram inofensivas e
delirantes. Às “casas de mascarados” acorriam famílias inteiras – familiares,
amigos e vizinhos. E era por isso que os
“mascarados” só apareciam nas casas onde existissem espaços alargados, para se
poderem exibir à vontade.
Qualquer ocorrência, por simples que
fosse, passada nos dias ou semanas anteriores era levada “a terreiro” e, por vezes, largamente
aplaudida.
Num dos subúrbios da vila das Lajes havia um
lavrador rico que tinha boas amizades na vila. No entanto, era homem sisudo e
de trato difícil.
Certa noite um dos comediantes-
mascarado, lembrou-se de se mascarar com trajes semelhantes ao daquele
lavrador. Se melhor o pensou mais
rapidamente o pôs em prática. E, em certa noite, daquelas em que se viam
mascarados”.
Na primeira visita que fez foi logo
identificado: o Limão da Canada das
Vinhas. E ficou. O “actor” tomou para si a identificação e passou a usar um
estilo de fala muito parecido com o do Limão.
Em certa casa de mascarados encontrou o dono, velho amigo do Limão e
comerciante que possuía uma lancha de pesca. Quando Limão precisava de algum
peixe mandava recado ao comerciante e este enviava-lhe daquele que havia sido
pescado.
Não esperou e dirigindo-se ao José
Francisco, atira-lhe logo: Ó amigo foste
o tal que há dias, em vez de mandares um bom peixe para um caldo, tiveste a
ousadia de me mandar umas “garranchas” que nem o gato as quis. Olha que amigo tu és.
Os risos foram gerais. O José Francisco
ficou embaraçado, pois nada daquilo havia acontecido. O comediante saiu porta
fora, acompanhado dos rapazes que sempre o seguiam, e foi a outra casa, onde
apresentou outro
Sketch.
Uma ou duas semanas depois o Limão veio à Vila, tratar calmamente dos seus
negócios. Quando o mascarado soube da estada dele, refugiou-se, não viesse o
Limão procurá-lo para alguma explicação menos agradável.
Eram assim as pequenos ocorrências que, certas ou
inventadas, entretinham as pessoas, nas casas de mascarados, durante a época
carnavalesca. Acontecia, por vezes, que algum tocador de viola ou guitarra
aparecia e, mesmo “em família”, lá se bailava uma chamarrita ou, raramente, uma
valsa.
Outros tempos de saudosas recordações,
que não voltam mais.
Vila
das Lajes,
Fevº
2017-
Ermelindo Ávila
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