domingo, 26 de março de 2017

MÁSCARAS E MASCARADOS

A MINHA NOTA

         Estamos no seu tempo, mas é tradição que vai desaparecendo. E que hilariantes eram as máscaras e os mascarados que, no mês anterior ao Carnaval, faziam o delírio das famílias lajenses e, naturalmente, em outras localidades da ilha.
         As imitações eram inofensivas e delirantes. Às “casas de mascarados” acorriam famílias inteiras – familiares, amigos  e vizinhos. E era por isso que os “mascarados” só apareciam nas casas onde existissem espaços alargados, para se poderem exibir à vontade.
           Qualquer ocorrência, por simples que fosse, passada nos dias ou semanas anteriores era  levada “a terreiro” e, por vezes, largamente aplaudida.
          Num dos subúrbios da vila das Lajes havia um lavrador rico que tinha boas amizades na vila. No entanto, era homem sisudo e de trato difícil.
         Certa noite um dos comediantes- mascarado, lembrou-se de se mascarar com trajes semelhantes ao daquele lavrador. Se melhor o pensou  mais rapidamente o pôs em prática. E, em certa noite, daquelas em que se viam mascarados”.
         Na primeira visita que fez foi logo identificado:  o Limão da Canada das Vinhas. E ficou. O “actor” tomou para si a identificação e passou a usar um estilo de fala muito parecido com o do Limão.
         Em certa casa de mascarados encontrou o dono, velho amigo do Limão e comerciante que possuía uma lancha de pesca. Quando Limão precisava de algum peixe mandava recado ao comerciante e este enviava-lhe daquele que havia sido pescado.
         Não esperou e dirigindo-se ao José Francisco, atira-lhe logo: Ó amigo foste o tal que há dias, em vez de mandares um bom peixe para um caldo, tiveste a ousadia de me mandar umas “garranchas” que nem  o gato as quis. Olha que amigo tu és.
         Os risos foram gerais. O José Francisco ficou embaraçado, pois nada daquilo havia acontecido. O comediante saiu porta fora, acompanhado dos rapazes que sempre o seguiam, e foi a outra casa, onde apresentou outro 
 Sketch.
         Uma ou duas semanas depois o  Limão veio à Vila, tratar calmamente dos seus negócios. Quando o mascarado soube da estada dele, refugiou-se, não viesse o Limão procurá-lo para  alguma  explicação menos agradável.
         Eram assim  as pequenos ocorrências que, certas ou inventadas, entretinham as pessoas, nas casas de mascarados, durante a época carnavalesca. Acontecia, por vezes, que algum tocador de viola ou guitarra aparecia e, mesmo “em família”, lá se bailava uma chamarrita ou, raramente, uma valsa.
         Outros tempos de saudosas recordações, que não voltam mais.


Vila das Lajes,
Fevº 2017-
Ermelindo Ávila                                                          

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