NOTAS DO MEU CANTINHO
Não tive o propósito de fazer um estudo
dos antigos bailes e danças, mas apenas recordar aquilo que era motivo de
divertimento em épocas longínquas, na minha juventude, bastante distante.
Hoje, falo da Chamarrita
do Pico, que todas as ilhas têm a sua Chamarrita, embora com coreografias
diferentes.
Ainda agora, quando se anuncia uma Folga, acorrem de toda a ilha os bailadores,
inquietos por “ir a terreiro”. Ficaram mesmo em algumas tradições populares, as
velhas cantigas com que se “abrilhantavam” os antigos bailes. Para principiar: Chega pares, chega pares/ chega pares ao
terreiro / chega raparigas novas / e rapazes solteiros.
A meio do baile, ouvia-se por vezes: Ainda agora aqui cheguei / Mais cedo não pude
vir / ‘tive embalando os rapazes / que ficaram a dormir”.
Para terminar bastava que alguém dissesse em voz alta:
”olé” e o baile acabava mesmo ali
para principiar, dentro de pouco, com outros bailadores. E não tinha fim senão
a altas horas da noite.
Júlio Andrade fez uma recolha que se
pode classificar de exaustiva dos “Bailhos,
Rodas e Cantorias” que foi editado pela Comissão de Recolha do Folclore do
Distrito da Horta, em 1948. Um trabalho de mérito, onde ficaram arquivados os
diversos bailes das quatro ilhas que formavam o antigo distrito da Horta. E aí
escreve como se formavam as chamarritas, que, no dizer do Autor, eram vinte e
cinco.(1)
Manuel Dionísio, apoiado nos costumes
da sua freguesia natal, a Ribeirinha do Pico, inclui as Chamarritas nas Folgas
e descreve ainda a Sapateia, o Caracol, a Tirana, a Praia, o Manjericão, a
Sapateia de Cadeia. E refere ainda os bailes de roda: Chiro-chiro, o Pezinho, o
Bravo, o Samacaio, e o Rema.(2)
Por
outro lado, no excelente trabalho “O Folclore da Ilha do Pico”, o seu Autor,
João Homem Machado, além da tradicional Chamarrita, com algumas variações,
descreve vinte e dois bailes de roda com as respectivas músicas, por certo o
trabalho mais completo publicado nestas ilhas. (3)
A meados do século passado, as Chamarritas
foram passando ao esquecimento, para serem substituídas pelos “Bailes”
realizados nos salões das sociedades recreativas. No entanto, parece que se
está a fazer reviver a antiga chamarrita pois, ainda há dias, a Filarmónica
Liberdade Lajense, para assinalar o 153º aniversário organizou um bom programa
comemorativo e, num dos dias, anunciou-se um baile de chamarritas. A
assistência foi enorme, vinda das diversas vilas e freguesias da ilha. Um sucesso,
segundo me informaram.
Desde sempre a viola da terra foi o instrumento
preferido para as chamarritas. Depois juntou-se o bandolim, a guitarra, o
violão e o violino (rabeca).
Outros
bailes antigos – os bailes de roda – já desapareceram, pois não há,
presentemente, quem os saiba bailar. E é pena. Tinham coreografia, arte, movimentos
atractivos que só os velhos bailadores sabiam “mandar”. E não eram poucos.
J. Andrade chama-lhe os “Bailhos Velhos” e cita cerca de dúzia e meia, desde o
“Abana Casaca” até ao “Xiro – Xiro.
Alguns desses bailes, como acima refiro,
eram de difícil execução e tanto assim que passaram ao esquecimento. É pena,
pois, além de ser uma manifestação simpática da nossa cultura popular, são um
testemunho insofismável do nosso passado. Que ninguém é capaz de descobrir a
origem.
Há três ou mais vintenas de anos, andei pelo
continente em Cursos de formação profissional. Somente uma maneira de juntar as
pessoas pois, neles, nada se aprendia... Numa dessas ocasiões um antigo
fornecedor de material para os municípios, quis obsequiar os participantes com
um repasto nas suas modernas e amplas instalações e, para abrilhantar o acto,
teve a gentileza de apresentar vários grupos folclóricos da Região. Um deles executou
um baile que era, praticamente, uma autêntica réplica da nossa Chamarrita, embora
com uma ou outra modificação. Um colega, ao lado, pergunta-me como explicava o
facto. A resposta foi-lhe assim dada e com ela se conformou: Foi
naturalmente daqui e aqui regressou agora.
Mas, como disse, já tantos anos se
passaram...
1)
Andrade, Júlio – Bailhos, Rodas e
Cantares. Comissão de Recolha e Divulgação do Folclore do Distrito da
Horta, 1948(?)
2)
Dionísio, Manuel – Costumes Açorianos.
1937
3)
Machado, João Homem – O Folclore da Ilha
do Pico. Núcleo Cultural da Horta, 1991
Quinta-feira de Amigas, 2017
Ermelindo Ávila
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