A MINHA NOTA
Há dias, no Auditório do Museu dos Baleeiros, desta
vila, passou o documentário ATAFONAS,
uma evocação simpática dos velhos sistemas de farinação de cereais.
Tudo quando seja lembrar o passado, tem
sempre quem aprecie os antigos sistemas de vivência das populações que aqui se
fixaram na época do povoamento e tiveram de “inventar”os sistemas
indispensáveis para poderem suportar o isolamento a que eram votados.
Pela carta de 21 de Fevereiro de 1460,
passada a favor de Joz de Utra, 2.º donatário do Faial e 3.º do Pico, D.
Manuel, em carta de confirmação da doação, estabelece: “... Moinhos – “Outrossim nos praz que o dito Joz
de Utra haja para si todos os moinhos de pão que houver nas ditas ilhas (Faial
e Pico) de que lhe assim damos o cargo, e
que ninguém não faça aí moinhos, somente ele ou quem lhe a ele prouver: e esto
não entenda em mó de braço, que a faça quem quiser, não moendo a outrem, nem atafona
a não tenha outrem, somente ele ou quem a ele aprouver. (1)
Conheci diversas atafonas em casas
particulares desta vila movimentadas por animais bovinos, quer mais pequenas,
manuais, estas de uma só peça de basalto, com mós soltas, somente utilizadas em
ocasiões de urgência. Havia ainda umas pequenas, também em basalto (ou pedra da
terra), usadas para a farinação de cevada, café ou filho torrado, com que
faziam uma mistura de “café”.
Os moinhos e as atafonas eram os mais
vulgares.
Interessante, em dias de aragem, ver o
rodopiar das velas dos moinhos – moinhos de vento - nos pequenos montes ou
elevações perto das habitações onde eram instalados.
Ainda hoje existem alguns moinhos
espalhados pela ilha, muito poucos, afinal e que dão um aspecto característicos
à paisagem. O Turismo aprecia-os na realidade e a nós, nativos, são uma
recordação saudosa de tempos passados, Aqui perto tínhamos o moinho da “Terra
da Forca”- um pequeno monte no Sul da Vila, que, felizmente, nunca foi
utilizado. Lembro-me da construção do moinho do Juncal, de fatídica existência
e o da Ladeira Nova. Mais além, o da Silveira e o do Mistério. De todos existe
somente o da Ponta Rasa, entregue à exploração turística. Na Ilha ainda restam outros,
embora inactivos.
Mas volto às atafonas. Todas as casas
de lavradores tinham, ou nas lojas das residências, ou numa casa ao lado, “na
casa da atafona”, uma atafona para uso doméstico. E nela que se moía
diariamente o milho, ou mesmo o trigo que este havia, para uso doméstico. De
madrugada levantava-se um dos familiares e descia â loja (rés-do-chão) para
moer o milho. Entretanto, a mãe ou uma filha, acompanhava-o para acender o
forno. Quando este ficava suficientemente quente, a massa de milho estava
pronta para entrar no forno, em forma de bolo do forno, porque, para acudir a
uma emergência, também se fazia o bolo do tijolo.
Com o aparecimento das moagens movidas
a motor, quase desapareceram os instrumentos domésticos que hoje não passam de
simples e saudosas recordações.
...
1)MACHADO,
Lacerda. História do Concelho das Lajes.1936,
pág. 76.
Vila
das Lajes,
20-Março. 2017
Ermelindo Ávila
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