domingo, 26 de março de 2017

ATAFONAS

A MINHA NOTA

                                         
Há dias, no Auditório do Museu dos Baleeiros, desta vila, passou o documentário ATAFONAS, uma evocação simpática dos velhos sistemas de farinação de cereais. 
         Tudo quando seja lembrar o passado, tem sempre quem aprecie os antigos sistemas de vivência das populações que aqui se fixaram na época do povoamento e tiveram de “inventar”os sistemas indispensáveis para poderem suportar o isolamento a que eram votados.
         Pela carta de 21 de Fevereiro de 1460, passada a favor de Joz de Utra, 2.º donatário do Faial e 3.º do Pico, D. Manuel, em carta de confirmação da doação, estabelece: “... Moinhos – “Outrossim nos praz que o dito Joz de Utra haja para si todos os moinhos de pão que houver nas ditas ilhas (Faial e Pico) de que lhe assim damos o cargo, e que ninguém não faça aí moinhos, somente ele ou quem lhe a ele prouver: e esto não entenda em mó de braço, que a faça quem quiser, não moendo a outrem, nem atafona a não tenha outrem, somente ele ou quem a ele aprouver. (1)
         Conheci diversas atafonas em casas particulares desta vila movimentadas por animais bovinos, quer mais pequenas, manuais, estas de uma só peça de basalto, com mós soltas, somente utilizadas em ocasiões de urgência. Havia ainda umas pequenas, também em basalto (ou pedra da terra), usadas para a farinação de cevada, café ou filho torrado, com que faziam uma mistura de “café”.
         Os moinhos e as atafonas eram os mais vulgares.
         Interessante, em dias de aragem, ver o rodopiar das velas dos moinhos – moinhos de vento - nos pequenos montes ou elevações perto das habitações onde eram instalados.
         Ainda hoje existem alguns moinhos espalhados pela ilha, muito poucos, afinal e que dão um aspecto característicos à paisagem. O Turismo aprecia-os na realidade e a nós, nativos, são uma recordação saudosa de tempos passados, Aqui perto tínhamos o moinho da “Terra da Forca”- um pequeno monte no Sul da Vila, que, felizmente, nunca foi utilizado. Lembro-me da construção do moinho do Juncal, de fatídica existência e o da Ladeira Nova. Mais além, o da Silveira e o do Mistério. De todos existe somente o da Ponta Rasa, entregue à exploração turística. Na Ilha ainda restam outros, embora inactivos.
         Mas volto às atafonas. Todas as casas de lavradores tinham, ou nas lojas das residências, ou numa casa ao lado, “na casa da atafona”, uma atafona para uso doméstico. E nela que se moía diariamente o milho, ou mesmo o trigo que este havia, para uso doméstico. De madrugada levantava-se um dos familiares e descia â loja (rés-do-chão) para moer o milho. Entretanto, a mãe ou uma filha, acompanhava-o para acender o forno. Quando este ficava suficientemente quente, a massa de milho estava pronta para entrar no forno, em forma de bolo do forno, porque, para acudir a uma emergência, também se fazia o bolo do tijolo.                                                      
    Com o aparecimento das moagens movidas a motor, quase desapareceram os instrumentos domésticos que hoje não passam de simples e saudosas recordações.
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1)MACHADO, Lacerda. História do Concelho das Lajes.1936, pág. 76.

Vila das Lajes,
 20-Março. 2017
Ermelindo Ávila                                                                

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