domingo, 26 de março de 2017

COSTUMES & TRADIÇÕES

NOTAS DO MEU CANTINHO
      
Vão desaparecendo dos nossos meios ilhéus os costumes e tradições que herdamos de nossos avós. É fácil de compreender a razão desse “esquecimento”, digamos.
         Os emigrantes retornados, trouxeram consigo os  novos sistemas de vida que colheram nas terras da Diáspora, quer na maneira de vestir, quer nos hábitos sociais e alimentares. Por outro lado, os turistas das diversas partes do mundo, que aqui chegam, não seguem os hábitos e costumes das terras que visitam. Antes, sem  o imporem, deixam por aí novos sistemas de vida e de trajar que os nativos vão imitando, por lhes parecer mais elegante.
         Estamos na época das grandes tradições. Mas, para onde foram elas ?  
         As semanas que antecediam a Quaresma ou, melhor dito, a quadra do Entrudo ou Carnaval, era um tempo de festas familiares muito apreciado e desejado. Ainda hoje se vão juntando, em ágapes festivos, os amigos e amigas, compadres e comadres. Estamos mesmo a meio do Entrudo, e ainda há notícia de alguns jantares, aqui e ali, a recordar os velhos tempos. Felizmente que isso acontece, pois é uma maneira simpática das pessoas se reunirem e conviverem. 
       Era nestas semanas que, em dia escolhido com a devida antecedência, se realizavam as matanças dos porcos, criados durante um ano, para serem abatidos antes da Quaresma chegar. E que luzida era a festa! Juntavam-se as famílias e, por vezes, aproveitava-se para se reconciliarem algumas desavindas; combinava-se os dias para que não houvesse atropelos, e preparava-se os utensílios e tudo o necessário para que a festa fosse digna. No quintal havia-se plantado o cebolinho adquirido aos fornecedores da Candelária, principalmente, para estar em condições de ser utilizado como cebolas, na matança. Trazia-se do mato o queiró quê se punha a secar nas paredes do quintal, moía-se o trigo, se o havia, ou adquiria-se a farinha de trigo para as massas que deviam ser apresentadas nas refeições: pão de trigo e pão de “duas misturas” -milho e trigo (pão de milho, propriamente). Não faltava o peixe, nem a boa carne para as refeições principais do dia da matança. Esta dava-se de madrugada, porque os homens que nela tomavam parte tinham de estar desembaraçados e almoçados antes de amanhecer. É que alguns deles eram baleeiros e o sinal de baleia podia ser dado, logo que raiava a Aurora. Depois era o lavar das tripas na costa, se o mar permitia, (não havia ainda água canalizada) e, a seguir, o encher e cozer as morcelas. O rapazio nesse dia estava dispensado da escola e aproveitava a bexiga do animal para os seus jogos, enquanto ela durava...
         À noite, era o jantar aos amigos e familiares e, depois, a reunião na sala principal, ou em outra de algum vizinho, para as “chamarritas” e as máscaras. Geralmente, o desmanchar da carcassa do animal fazia-se no dia seguinte. Seleccionavam-se as carnes: para os “presentes”, para os torresmos, juntamente com os ossos, donde se extraía a banha a utilizar durante o ano, para a linguiça e para a salga.
         Na vila das Lajes, desapareceu a criação de suínos e, consequentemente, deixou de haver as “matanças dos porcos”. Mantém-se, porém, esse velho costume nas zonas rurais e freguesias. No entanto, a primeira parte - a matança, o chamuscar, o limpar, etc. – praticamente desapareceu com a instalação do Matadouro Industrial.
         Ainda há dias, tive o prazer de tomar parte num jantar de “matança”, num dos subúrbios da vila. Os familiares juntaram-se e abateram, na véspera, os seus animais. No dia em que lá estive, preparavam-se as carnes para as linguiças. Uma “mestra” fazia as caldas para o curtume das carnes já picadas e preparadas. Em grandes caldeirões, derretiam-se as gorduras para as banhas a utilizar na cozinha durante o ano. Tudo previsto e bem cuidado. Dezenas de pessoas, amigos e conhecidos, participaram no jantar que decorreu entre sorrisos, ditos amigos e conversas agradáveis. Um verdadeiro dia de festa para aqueles famílias.
         E era assim em outros tempos.

Lajes do Pico,
Quinta-feira de Amigas de 09/02/2017.

Ermelindo Ávila


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