NOTAS DO MEU CANTIMNHO
A Ilha do Pico foi daquelas ilhas que
beneficiou, quase em último lugar, da construção de portos capazes de servirem
o tráfego marítimo em condições de segurança e comodidade.
Anos e anos se debateu na Imprensa do
antigo distrito da Horta, pela construção de portos na ilha do Pico, mas as
opiniões e pareceres técnicos divergiam quanto à respectiva localização.
Tratou-se sempre de um problema político sem a discreta solução que merecia.
Em certa altura surgiu na Imprensa a
ideia do “Triângulo”, que cedo se apresentou como a justificação dos portos do
Norte da Ilha. De início fui convidado para colaborar na iniciativa de um grupo
de jovens faialenses, mas rapidamente me apercebi que não valia a minha
colaboração em tão momentoso problema regional e fiquei por aqui, pelo Sul... O
certo é que a ideia do Triângulo, descoberta a meados do século passado, vingou
e perdura.
E os portos do Pico acabaram por entrar
nos projectos do Governo. Foi criada a “Missão dos Pequenos Portos do Distrito
da Horta”, salvo erro, e construíram-se os portos da Calheta de Nesquim e Santa
Cruz das Ribeiras. E quando alguém teve a ousadia de interpelar o Engenheiro
dos Serviços Hidráulicos sobre o porto das Lajes, foi dito: Esse está sempre justificado. Mas não
estava. Os oitocentos contos oferecidos (mas parece que não entregues...)
serviram de bandeira para justificar o porto de Santa Cruz, e até se promoveu a
inauguração com um dos já antigos e abandonados “Cruzeiros”, que já haviam entrado
ao serviço das carreiras do Canal Faial – Pico.
Construiu-se o porto do Cais do Pico e,
a seguir, o faustoso porto da Madalena, com doca e rampas e, até, estaleiro de
construção naval!
Nessa altura alguém perguntou a um
conceituado Técnico da Direcção Geral dos Serviços Hidráulicos pelo porto do
Sul e a resposta veio logo: Estão-se a
construir portos na Ilha do Pico, mas não é ainda que se constrói o porto do
Pico.
E, continuando a conversa, disse com a sua comprovada
competência de Técnico: O porto do Pico
será na Prainha do Sul.
Com essa afirmação recordava o erudito
Técnico o Galeão que o Capitão - Mór da Vila das Lajes, Garcia Gonçalves
Madruga mandou construir nas suas propriedades da Prainha do Galeão, o galeão ”Trindade”
para oferecer ao Rei em satisfação das suas dívidas ao fisco.
O porto foi construído na Madalena, mas
não decorreram muitas dezenas de anos para que as vagas de mar do Norte se
encarregassem de destruir uma boa parte da muralha de defesa, além de outros
prejuízos avultados. Há poucos dias estive naquele local e penalizou-me
sobremodo os avultados prejuízos ali provocados pelo mar que ainda andava
revolto para os lados da Barca. Afinal, uma situação que penalizou, directa ou indirectamente, todos os picoenses.
No porto das Lajes, há poucos anos
construiu-se um molhe de defesa, que ficou “desdentado” com o mar de Oeste,
muito embora tenha formado uma pequena lagoa no seu interior que veio a
tornar-se de difícil navegabilidade por não se terem retirado, aquando da
construção, pequenos cabeços submersos. Agora, cinco ou seis sinais avisam a
navegação que, para entrar no porto interior, por ali tem passado. E era bem
fácil fazê-los desaparecer. Incúria ou desinteresse? O porto das Lajes,
transformado em Marina de recreio, não deixa de ser procurado, no verão, por
veleiros estrangeiros...Vale a pena ver e contar os barcos e barquinhos que ali
estacionam...
No dia em que o Mar do Norte destruiu a
muralha de defesa no porto da Madalena, o “Gilberto Mariano” fez viagem até ao
porto de Santa Cruz, único acostável que permitiu a atracação e no Sul da Ilha.
Os portos do Pico são indispensáveis ao
desenvolvimento da ilha, a segunda em área do Arquipélago. Não podem nem devem
ser esquecidos e, muito menos, abandonados... E não só os do Norte. Pelo Sul
também vive uma boa parte dos picoenses. Isto sem deixar de lamentar-se o que
acaba de acontecer na zona da Vila Fronteira – a Madalena. Anote-se !
Lajes
do Pico,
Fevereiro
de 2017-03-02
Ermelindo
Ávila
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