domingo, 18 de dezembro de 2016

TOPONÍMIA RURAL

NOTAS DO MEU CANTINHO


         Quando os primeiros povoadores aqui chegaram encontraram-se com uma ilha completamente deserta e cheia de arvoredo bravio. Não havia vias de acesso a qualquer monte ou vale. Desembarcando na costa, junto de um pequeno monte, - o Castelete – que ainda existe no seu estado virgem, procuraram instalar-se numa zona plana junto ao mar, aí construindo o seu primeiro núcleo habitacional. E era pela costa que faziam ligação aos diversos povoados que se foram espalhando pela Ilha, ou então pelos matos, quando outros povoados se estabeleceram no lado oposto, como foi o caso do Cais do Pico e Prainha do Norte, das primeiras zonas povoadas.
         Lacerda Machado tem um estudo sobre: Dos que povoaram o Norte da Jurisdição das Lajes. Nele nos diz daquelas Famílias Lajenses que se estabeleceram no Norte da Ilha, por ser zona de bons terrenos. Ligações familiares que ainda subsistem.
Afinal, uma história que todos conhecem e que será fastidioso repetir.
         Nasceu assim a Vila das Lajes. O seu traçado urbanístico evidencia que aqueles que instalaram o burgo tinham alguns conhecimentos de urbanização, dadas as ruas e vielas que o constituem.
         As denominações naturais tem origem nas condições ou aptidões das próprias zonas, como é o caso da Silveira e das Lajes, ou Ribeira do Meio: a primeira porque foi ali que o primeiro Pároco, Frei Pedro Gigante, em 1470, plantou os primeiros bacelos do Verdelho importados da Ilha de Chipre e fez rodear o campo com silvas para evitar a entrada de coelhos, anteriormente deitados na ilha por ordem do Infante, para sustento dos primeiros povoadores; As Lajes, porque se trata de uma planície - Fajã – lajeada; e a Ribeira do Meio porque o povoamento se iniciou junto da ribeira que ficava ao centro das três existentes naquela zona.
          “O primeiro donatário da ilha do Pico foi Álvaro de Dornelas, da ilha da Madeira,(...) O que é certo é que nada fez, pelo que em 29 de Dezembro de 1482,  Josse de Urtere (ou Jós de Utra) natural de Bruges e que exercia a Capitania do Faial, obteve de D. Beatriz a capitania do Pico, ficando desde então reunidas as duas capitanias” (1) Foi o grande mal do Pico que passou a ser governado à distância e pouco se desenvolveu inicialmente. (Tutela que jamais foi retirada...)
         Naturalmente que o Homem de Bruges se apossou dos melhores terrenos da ilha do Pico, que ficavam situados na parte Sul da Ilha.
         Ainda hoje, entre a vila das Lajes e as Terras, uma grande zona de terra de semeadura, existe a Canada de Jós Dutra, como existe a Canada do Ajudante, na Silveira e, na Piedade, a Canada da Maurícia e a Canada da Mulata, além de tantas outras canadas ou veredas com denominações cuja origem se desconhece, mas que devem vir dos primeiros tempos.
         O que não pode deixar de referir-se é que algumas das ruas e veredas ou canadas conservam as denominações primitivas, embora nas zonas urbanizadas hajam sido colocadas placas toponímicas com os nomes de certas figuras notáveis, que assim são distinguidas publicamente, como Dom João Paulino, Dr. Machado Serpa, P. Xavier Madruga ou até, além de outros mais, o Vigário de Lemos, exceptuado do perdão concedido aos açorianos por Filipe de Castela, por haver dado guarida aos homens do Prior de Crato.
         Com a construção das estradas, desapareceu o primitivo caminho dos Ilhéus, que ligava a Vila das Lajes à Madalena. A ilha possui hoje uma boa rede de estradas, regionais, florestais e municipais. Tal permite o acesso a qualquer zona habitada, e até ao interior das pastagens, com certa rapidez, o que só acontece a partir de 1940, muito embora, por vezes, a sua conservação não ande bem cuidada - registe-se. E refiro, principalmente, algumas bermas.
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1)      Lacerda Machado, F,S.de – História do concelho das Lages, p.24
  
Lajes do Pico,
6       de Dezº de 2016

Ermelindo Ávila

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