NOTAS DO MEU CANTINHO
Quando os primeiros povoadores aqui
chegaram encontraram-se com uma ilha completamente deserta e cheia de arvoredo
bravio. Não havia vias de acesso a qualquer monte ou vale. Desembarcando na
costa, junto de um pequeno monte, - o Castelete – que ainda existe no seu
estado virgem, procuraram instalar-se numa zona plana junto ao mar, aí construindo
o seu primeiro núcleo habitacional. E era pela costa que faziam ligação aos
diversos povoados que se foram espalhando pela Ilha, ou então pelos matos,
quando outros povoados se estabeleceram no lado oposto, como foi o caso do Cais
do Pico e Prainha do Norte, das primeiras zonas povoadas.
Lacerda Machado tem um estudo sobre: Dos que povoaram o Norte da Jurisdição das
Lajes. Nele nos diz daquelas Famílias Lajenses que se estabeleceram no
Norte da Ilha, por ser zona de bons terrenos. Ligações familiares que ainda
subsistem.
Afinal, uma história que todos conhecem e que será
fastidioso repetir.
Nasceu assim a Vila das Lajes. O seu
traçado urbanístico evidencia que aqueles que instalaram o burgo tinham alguns
conhecimentos de urbanização, dadas as ruas e vielas que o constituem.
As denominações naturais tem origem nas condições ou aptidões das próprias zonas,
como é o caso da Silveira e das Lajes, ou Ribeira do Meio: a primeira porque
foi ali que o primeiro Pároco, Frei Pedro Gigante, em 1470, plantou os primeiros
bacelos do Verdelho importados da Ilha de Chipre e fez rodear o campo com
silvas para evitar a entrada de coelhos, anteriormente deitados na ilha por
ordem do Infante, para sustento dos primeiros povoadores; As Lajes, porque se
trata de uma planície - Fajã – lajeada; e a Ribeira do Meio porque o povoamento
se iniciou junto da ribeira que ficava ao centro das três existentes naquela
zona.
“O primeiro donatário da ilha do Pico foi
Álvaro de Dornelas, da ilha da Madeira,(...) O que é certo é que nada fez, pelo
que em 29 de Dezembro de 1482, Josse de
Urtere (ou Jós de Utra) natural de Bruges e que exercia a Capitania do Faial, obteve
de D. Beatriz a capitania do Pico, ficando desde então reunidas as duas
capitanias” (1) Foi o grande mal do Pico que passou a ser governado à
distância e pouco se desenvolveu inicialmente. (Tutela que jamais foi
retirada...)
Naturalmente que o Homem de Bruges se
apossou dos melhores terrenos da ilha do Pico, que ficavam situados na parte
Sul da Ilha.
Ainda hoje, entre a vila das Lajes e as
Terras, uma grande zona de terra de semeadura, existe a Canada de Jós Dutra, como existe a Canada do Ajudante, na Silveira e, na Piedade, a Canada da Maurícia e a Canada da Mulata, além de tantas outras
canadas ou veredas com denominações cuja origem se desconhece, mas que devem
vir dos primeiros tempos.
O que não pode deixar de referir-se é
que algumas das ruas e veredas ou canadas conservam as denominações primitivas,
embora nas zonas urbanizadas hajam sido colocadas placas toponímicas com os
nomes de certas figuras notáveis, que assim são distinguidas publicamente, como
Dom João Paulino, Dr. Machado Serpa, P. Xavier Madruga ou até, além de outros
mais, o Vigário de Lemos, exceptuado do perdão concedido aos açorianos por
Filipe de Castela, por haver dado guarida aos homens do Prior de Crato.
Com a construção das estradas, desapareceu
o primitivo caminho dos Ilhéus, que
ligava a Vila das Lajes à Madalena. A ilha possui hoje uma boa rede de
estradas, regionais, florestais e municipais. Tal permite o acesso a qualquer
zona habitada, e até ao interior das pastagens, com certa rapidez, o que só
acontece a partir de 1940, muito embora, por vezes, a sua conservação não ande
bem cuidada - registe-se. E refiro, principalmente, algumas bermas.
_______
1)
Lacerda Machado, F,S.de
– História do concelho das Lages, p.24
Lajes
do Pico,
6
de Dezº de 2016
Ermelindo
Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário