NOTAS DO MEU CANTINHO
Quando
os primeiros povoadores aqui chegaram, naturalmente que a iluminação nocturna
era desconhecida.
Construídos os diminutos casebres, aí
se albergavam durante a noite, desde o pôr-do-sol até ao amanhecer. Não se
faziam serões. Não havia quem fabricasse as candeias.
Frei Diogo das Chagas conta que, no ano
de 1506, os homens bons e mais oficiais da Câmara da Vila das Lajes, fizeram
uma postura para trazerem um ferreiro para a Ilha, a quem dariam dois moios de
trigo e lhe fariam uma casa tamanha como a casa do Concelho e lhe dariam 500
reis para o frete dele e do seu fato. (sic). Gonçalo Anes foi o ferreiro escolhido.
Para pagamento destas despesas deitaram finta entre os moradores, que eram
sessenta e sete. (1)
Entre os moradores já existiam
sapateiros, alfaiate, cardador, carpinteiros e pedreiros. Faltava o ferreiro,
ofício que mais tarde passou a denominar-se de serralheiro.
Na candeia utilizava-se óleo de peixe e
de animais marinhos. E isso durou até nossos dias. Mesmo depois de aparecerem
as velas de estearina e as lamparinas de petróleo, continuaram as candeias a
ser utilizadas normalmente nas cozinhas e nas casas de atafona. Ainda conheci
algumas.
As velas de estearina e o petróleo só
passaram a ser utilizados para iluminação, já no século dezanove. Aliás, o
petróleo e seus derivados passaram a ter larga utilização com o desenvolvimento
industrial.
Contava-nos um antigo professor, que a
avó foi das primeiras pessoas a usar a vela de estearina servindo-se, para conservar
o pavio funcional, de um espevitador de prata...
O petróleo, embora conhecido desde
remotas eras, passou a ser utilizado para iluminação e fins industriais, como
disse, a meados do século dezanove. Dele surgiram diversos produtos, como óleos
e gasolina.
Após o conhecimento do petróleo, as
vilas e cidades passaram a ser iluminadas durante algumas horas da noite. A
vila das Lajes tinha iluminação até às nove horas, no inverno, mas aconteceu
que, em certo dia, um louco, saindo da cela onde havia sido recolhido,
percorreu, já noite, as
ruas
da vila, partindo os candeeiros da iluminação. A vila voltou a estar às escuras
até que, cerca dos primeiros anos trinta, foi constituída uma empresa para a
instalação de uma central eléctrica. Infelizmente com poucos resultados. De vez
em quando, partia o veio-motor e um novo só vinha da Alemanha. Depois foi
adquirido um motor inglês mais potente e que resistiu. A central eléctrica,
tais como as de São Roque e Madalena passaram para uma federação de municípios
até que, nos anos setenta, foi criada a Empresa de Electricidade dos Açores que
absorveu todas as centrais existentes na Região.
Entretanto, em quase todas as
freguesias da ilha, haviam sido instaladas, pelos próprios residentes, pequenas
centrais para a iluminação domiciliária, além de diversos postos de iluminação
nos lugares públicos, tudo custeado pelos proprietários. Na ilha de São Jorge,
também havia essas pequenas centrais comunitárias, cuja instalação fora
orientada por um dos párocos da Ilha. Mas tudo desapareceu com a criação da
EDA.
Hoje, a energia eléctrica é utilizada
não apenas para iluminação, mas igualmente para alimentação de diversos
utensílios domésticos, incluindo, como é natural, a TV. Desapareceram as velas
de estearina, o azeite de toninha e baleia e as respectivas candeias, e o
petróleo quase não existe.
Até havia um provérbio que rezava: O que
cai da candeia de cima, fica na de baixo. É que, normalmente, a candeia era
constituída por dois “pratos”. Ou este outro: “De candeia às avessas”, como dizia celebrado escritor. (2)
É deficiente, num local ou noutro, a iluminação
pública, embora paga, ao que julgo, pelos respectivos Municípios.
No entanto, aqui e ali já vai
aparecendo a energia solar. A ciência e a técnica, em contínuo desenvolvimento!
____
1) Diogo das Chagas, “Espelho Cristalino em
Jardim de Várias Flores” 1989, pág.582.
2) D. Francisco Manuel de Melo.
Lajes
do Pico,
3-Nov-2016
Ermelindo Ávila
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