domingo, 18 de dezembro de 2016

A ILUMINAÇÃO


 NOTAS DO MEU CANTINHO



             Quando os primeiros povoadores aqui chegaram, naturalmente que a iluminação nocturna era desconhecida.
         Construídos os diminutos casebres, aí se albergavam durante a noite, desde o pôr-do-sol até ao amanhecer. Não se faziam serões. Não havia quem fabricasse as candeias.
         Frei Diogo das Chagas conta que, no ano de 1506, os homens bons e mais oficiais da Câmara da Vila das Lajes, fizeram uma postura para trazerem um ferreiro para a Ilha, a quem dariam dois moios de trigo e lhe fariam uma casa tamanha como a casa do Concelho e lhe dariam 500 reis para o frete dele e do seu fato. (sic). Gonçalo Anes foi o ferreiro escolhido. Para pagamento destas despesas deitaram finta entre os moradores, que eram sessenta e sete. (1)
         Entre os moradores já existiam sapateiros, alfaiate, cardador, carpinteiros e pedreiros. Faltava o ferreiro, ofício que mais tarde passou a denominar-se de serralheiro.
         Na candeia utilizava-se óleo de peixe e de animais marinhos. E isso durou até nossos dias. Mesmo depois de aparecerem as velas de estearina e as lamparinas de petróleo, continuaram as candeias a ser utilizadas normalmente nas cozinhas e nas casas de atafona. Ainda conheci algumas.
         As velas de estearina e o petróleo só passaram a ser utilizados para iluminação, já no século dezanove. Aliás, o petróleo e seus derivados passaram a ter larga utilização com o desenvolvimento industrial.
         Contava-nos um antigo professor, que a avó foi das primeiras pessoas a usar a vela de estearina servindo-se, para conservar o pavio funcional, de um espevitador de prata...
         O petróleo, embora conhecido desde remotas eras, passou a ser utilizado para iluminação e fins industriais, como disse, a meados do século dezanove. Dele surgiram diversos produtos, como óleos e gasolina.
         Após o conhecimento do petróleo, as vilas e cidades passaram a ser iluminadas durante algumas horas da noite. A vila das Lajes tinha iluminação até às nove horas, no inverno, mas aconteceu que, em certo dia, um louco, saindo da cela onde havia sido recolhido, percorreu, já noite, as








ruas da vila, partindo os candeeiros da iluminação. A vila voltou a estar às escuras até que, cerca dos primeiros anos trinta, foi constituída uma empresa para a instalação de uma central eléctrica. Infelizmente com poucos resultados. De vez em quando, partia o veio-motor e um novo só vinha da Alemanha. Depois foi adquirido um motor inglês mais potente e que resistiu. A central eléctrica, tais como as de São Roque e Madalena passaram para uma federação de municípios até que, nos anos setenta, foi criada a Empresa de Electricidade dos Açores que absorveu todas as centrais existentes na Região.
         Entretanto, em quase todas as freguesias da ilha, haviam sido instaladas, pelos próprios residentes, pequenas centrais para a iluminação domiciliária, além de diversos postos de iluminação nos lugares públicos, tudo custeado pelos proprietários. Na ilha de São Jorge, também havia essas pequenas centrais comunitárias, cuja instalação fora orientada por um dos párocos da Ilha. Mas tudo desapareceu com a criação da EDA.
         Hoje, a energia eléctrica é utilizada não apenas para iluminação, mas igualmente para alimentação de diversos utensílios domésticos, incluindo, como é natural, a TV. Desapareceram as velas de estearina, o azeite de toninha e baleia e as respectivas candeias, e o petróleo quase não existe.
         Até havia um provérbio que rezava: O que cai da candeia de cima, fica na de baixo. É que, normalmente, a candeia era constituída por dois “pratos”. Ou este outro: “De candeia às avessas”, como dizia celebrado escritor. (2)
É deficiente, num local ou noutro, a iluminação pública, embora paga, ao que julgo, pelos respectivos Municípios.
         No entanto, aqui e ali já vai aparecendo a energia solar. A ciência e a técnica, em contínuo desenvolvimento!
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1)  Diogo das Chagas, “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores” 1989, pág.582.
2)  D. Francisco Manuel de Melo.
Lajes do Pico,
3-Nov-2016
 Ermelindo Ávila 

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