NOTAS DO MEU CANTINHO
Um verdadeiro temporal caiu sobre a
cidade. As pessoas estavam recolhidas em suas casas e impossibilitadas de
concluir as compras do Natal.
Quem não se conformava era o Carlinhos
que tinha esperado, com grande alvoroço, aquele dia para ir fazer as suas
compras, juntamente com os pais, pois era filho único.
A mãe, uma excelente senhora, católica
fervorosa, levou o filho a aceitar a situação e a que pedisse ao Menino Jesus
que melhorasse o tempo e permitisse assim que, ao menos, pudesse assistir à
Missa da Meia Noite, na Catedral, pois era sempre de um deslumbramento
litúrgico invulgar.
As luzes da cidade estavam quase todas
apagadas o que a tornava quase às escuras, daí resultando encontrarem-se as
ruas desertas. Ninguém se atrevia a sair de casa pois o vento e a chuva não
permitiam.
No entanto, o Carlinhos lá foi fazendo
as suas inocentes preces ao Menino Jesus, para que aquela tempestade amainasse
e, ao menos, pudessem ir à Missa do Galo, como diziam.
O Presépio estava armado, na casa do
Carlinhos, com figuras, ovelhinhas e um grande pasto com um lago, onde caía um
riacho, ao estilo franciscano; a árvore do Natal já colocada no habitual canto
da sala principal, com uma rede de lâmpadas e vários adereços pendentes dos
ramos e, nestes, colocadas muitas lâmpadas coloridas que não acendiam. A rede
eléctrica estava avariada e a tempestade não permitia a sua reparação. Os
velhos candeeiros haviam saído da arrecadação para iluminarem, frouxamente, a
casa do Carlinhos.
A Meia-Noite do Natal ia-se
aproximando. O mau tempo continuava. Num dado momento, porém, o vento acalmou,
a chuva parou e permitiu que os electricistas procedessem imediatamente à
reparação das redes.
A cidade, num repente, voltou a
iluminar-se, e a tomar o seu aspecto festivo. As montras acenderam, as ruas
ficaram cheias das artísticas iluminações e o povo saiu à rua. Tudo voltou ao
normal, mas já era tarde para que as pessoas pudessem sair a fazer as suas
compras.
Entretanto, os sinos da Catedral
repicaram festivamente anunciando que as solenidades comemorativas da
Nascimento de Jesus iam começar.
Os pais do Carlinhos preparam-se para
ir até à Igreja, levando consigo o menino que continuava acordado.
Pelas ruas foram-se cruzando com outros
automóveis, cujos ocupantes também se dirigiam ao velho e artístico templo, já
então todo iluminado. Os celebrantes chegaram ao altar. A concelebração
começou. Momentos a seguir o celebrante presidente entoava o belo hino Glória in excelsis Deo. Os sinos voltaram
a repicar festivamente, anunciando agora o Nascimento do Menino. A capela
executou uma tradicional partitura e a Missa continuou.
No final foi o beija-pé do Menino que
estava colocado na manjedoira do Presépio.
Terminadas as cerimónias litúrgicas, todos
regressaram às respectivas residências. Os pais do Carlinhos haviam preparado
com antecedência uma frugal ceia, terminada a qual recolheram-se ao seu quarto,
depois de o Carlinhos ficar na sua cama. Nem a Árvore, nem o Presépio escondiam
qualquer prenda, como acontecia em anos anteriores. O Carlinhos estranhou, mas nada disse aos
pais para não os magoar.
Cansado que estava e porque a noite ia
avançada, logo que chegou à cama adormeceu imediatamente.
No dia seguinte, o Dia de Natal, acordou cedo, mas, procurando nada encontrou no seu
quarto e ficou naturalmente, um tanto contristado.
Estavam pais e filho, à mesa a tomar o café da manhã, quando a campainha deu
sinal de chamada. A Mãe foi pressurosa abrir a porta ao visitante e deparou-se
com o marçano do hipermercado que lhe entregou um grande volume com o endereço:
Para o menino Carlinhos, oferta do Menino
Jesus.
O menino ficou radiante e abriu a encomenda alvoraçado
e qual não foi o seu espanto ao deparar com um pequeno helicóptero movido a
pilhas eléctricas. Ligou-o, algo nervoso, e o brinquedo saiu-lhe das mãos e
começou a voar pela casa. Uma verdadeira surpresa e uma autêntica maravilha,
jamais esperada. Louco de contente, o filho abraçou-se aos pais num gesto de
reconhecimento e voltando-se para o Presépio apenas soube dizer, entre lágrimas
e sorrisos: Obrigado, Menino Jesus!
Depois, saiu para a rua, pôs o brinquedo a girar, e
todos os seus companheiros ficaram pasmados. Uma coisa assim nunca tinham
visto. Mas o Carlinhos pouco tempo ficou
na rua e voltou a casa com a sua preciosa prenda do Natal.
O Carlinhos – continuaram a chamá-lo pelo diminutivo –
foi crescendo e, já adulto, todos os anos, pelo Natal, retirava o brinquedo da
caixa onde sempre o guardava e punha-o a evoluir por alguns instantes, sempre
com o mesmo entusiasmo e alegria, recordando o seu Natal de há tantos anos.
Boas
Festas do Natal !
Natal
de 2016
Ermelindo Ávila
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