domingo, 18 de dezembro de 2016

O NATAL DO CARLINHOS

NOTAS DO MEU CANTINHO



         Um verdadeiro temporal caiu sobre a cidade. As pessoas estavam recolhidas em suas casas e impossibilitadas de concluir as compras do Natal.
         Quem não se conformava era o Carlinhos que tinha esperado, com grande alvoroço, aquele dia para ir fazer as suas compras, juntamente com os pais, pois era filho único.
         A mãe, uma excelente senhora, católica fervorosa, levou o filho a aceitar a situação e a que pedisse ao Menino Jesus que melhorasse o tempo e permitisse assim que, ao menos, pudesse assistir à Missa da Meia Noite, na Catedral, pois era sempre de um deslumbramento litúrgico invulgar.
         As luzes da cidade estavam quase todas apagadas o que a tornava quase às escuras, daí resultando encontrarem-se as ruas desertas. Ninguém se atrevia a sair de casa pois o vento e a chuva não permitiam.
         No entanto, o Carlinhos lá foi fazendo as suas inocentes preces ao Menino Jesus, para que aquela tempestade amainasse e, ao menos, pudessem ir à Missa do Galo, como diziam.
         O Presépio estava armado, na casa do Carlinhos, com figuras, ovelhinhas e um grande pasto com um lago, onde caía um riacho, ao estilo franciscano; a árvore do Natal já colocada no habitual canto da sala principal, com uma rede de lâmpadas e vários adereços pendentes dos ramos e, nestes, colocadas muitas lâmpadas coloridas que não acendiam. A rede eléctrica estava avariada e a tempestade não permitia a sua reparação. Os velhos candeeiros haviam saído da arrecadação para iluminarem, frouxamente, a casa do Carlinhos.
         A Meia-Noite do Natal ia-se aproximando. O mau tempo continuava. Num dado momento, porém, o vento acalmou, a chuva parou e permitiu que os electricistas procedessem imediatamente à reparação das redes.
         A cidade, num repente, voltou a iluminar-se, e a tomar o seu aspecto festivo. As montras acenderam, as ruas ficaram cheias das artísticas iluminações e o povo saiu à rua. Tudo voltou ao normal, mas já era tarde para que as pessoas pudessem sair a fazer as suas compras.
         Entretanto, os sinos da Catedral repicaram festivamente anunciando que as solenidades comemorativas da Nascimento de Jesus iam começar.
         Os pais do Carlinhos preparam-se para ir até à Igreja, levando consigo o menino que continuava acordado.
         Pelas ruas foram-se cruzando com outros automóveis, cujos ocupantes também se dirigiam ao velho e artístico templo, já então todo iluminado. Os celebrantes chegaram ao altar. A concelebração começou. Momentos a seguir o celebrante presidente entoava o belo hino Glória in excelsis Deo. Os sinos voltaram a repicar festivamente, anunciando agora o Nascimento do Menino. A capela executou uma tradicional partitura e a Missa continuou.
         No final foi o beija-pé do Menino que estava colocado na manjedoira do Presépio.
         Terminadas as cerimónias litúrgicas, todos regressaram às respectivas residências. Os pais do Carlinhos haviam preparado com antecedência uma frugal ceia, terminada a qual recolheram-se ao seu quarto, depois de o Carlinhos ficar na sua cama. Nem a Árvore, nem o Presépio escondiam qualquer prenda, como acontecia em anos anteriores.  O Carlinhos estranhou, mas nada disse aos pais para não os magoar.
         Cansado que estava e porque a noite ia avançada, logo que chegou à cama adormeceu imediatamente.
         No dia seguinte, o Dia de Natal, acordou cedo, mas, procurando nada encontrou no seu quarto e ficou naturalmente, um tanto contristado.
         Estavam pais e filho, à mesa a tomar o café da manhã, quando a campainha deu sinal de chamada. A Mãe foi pressurosa abrir a porta ao visitante e deparou-se com o marçano do hipermercado que lhe entregou um grande volume com o endereço: Para o menino Carlinhos, oferta do Menino Jesus.
O menino ficou radiante e abriu a encomenda alvoraçado e qual não foi o seu espanto ao deparar com um pequeno helicóptero movido a pilhas eléctricas. Ligou-o, algo nervoso, e o brinquedo saiu-lhe das mãos e começou a voar pela casa. Uma verdadeira surpresa e uma autêntica maravilha, jamais esperada. Louco de contente, o filho abraçou-se aos pais num gesto de reconhecimento e voltando-se para o Presépio apenas soube dizer, entre lágrimas e sorrisos: Obrigado, Menino Jesus!
Depois, saiu para a rua, pôs o brinquedo a girar, e todos os seus companheiros ficaram pasmados. Uma coisa assim nunca tinham visto.  Mas o Carlinhos pouco tempo ficou na rua e voltou a casa com a sua preciosa prenda do Natal.
O Carlinhos – continuaram a chamá-lo pelo diminutivo – foi crescendo e, já adulto, todos os anos, pelo Natal, retirava o brinquedo da caixa onde sempre o guardava e punha-o a evoluir por alguns instantes, sempre com o mesmo entusiasmo e alegria, recordando o seu Natal de há tantos anos.
         Boas Festas do Natal !

Natal de 2016

Ermelindo Ávila

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