NOTAS DO MEU CANTINHO
São sempre diferentes as refeições do dia do Natal,
daquelas que normalmente se utilizam no dia-a-dia.
Até ao primeiro quartel do século passado, não era
usado, por estas bandas, nem o bacalhau nem a sardinha, importados do
continente português.
No dia de NATAL a caçoilha, confeccionada com carne de
vaca, era e é prato forte servido na quase totalidade dos lares picoenses. Cada
talhante abatia, para isso, quatro ou cinco bovinos, se bem que, na noite
antecedente, - a noite da “calhandra” (estúrdia) – se fizessem ceias, entre
amigos, de carne de carneiro, algumas vezes subtraídos dos pastos dos vizinhos
que, não deixavam de ser convidados para a “festança”, embora desconhecendo a
proveniência do animalzinho abatido...
A caçoilha, ainda hoje, é o prato forte do Natal. No
entanto, a sua confecção exige conhecimentos culinários e bom paladar.
Actualmente, porém, embora se continue a usar, nas
ceias da noite do Natal já predomina o bacalhau.
Antigamente, não se conheciam pudins nem outros doces,
para além do “arroz doce”, única sobremesa ainda hoje servida, principalmente nos
jantares das chamadas “Funções de Coroa”.
A cozinha açoriana sempre foi simples e agradável ao
paladar. Geralmente, os condimentos eram caseiros, ou seja, cultivados nas
hortas das habitações e reduziam-se a salsa, cebola, alho, açaflor (que foi
substituído nos tempos modernos pelo colorau), pimenta ou malagueta, sal (ou
água retirada dos poços de maré) e pouco mais. A caçoilha, porém, era preparada
com temperos importados: canela, pimenta em grão ou moída, cominhos, e poucos mais.
Não havia por cá hotéis (ainda hoje são escassos...)
nem pensões. Quando muito “casas de pasto” onde eram servidos somente pratos
regionais. Uns dos mais apreciados eram e são a linguiça e os torresmos de
carne de porco, acompanhados com inhames.
Com a vinda de funcionários
continentais, introduziu-se um novo sistema e horário das refeições,
principalmente nas pensões existentes e, depois, na própria população. Passou a
utilizar-se com frequência o bacalhau e a sardinha importados, se bem que os
pescadores locais apanhassem por vezes alguma sardinha.
Mais tarde, não muito, com a instalação das redes
eléctricas, foram desaparecendo as lareiras e os fogões a lenha, e os electrodomésticos
ocuparam os seus lugares em quase todas as cozinhas. Por esse motivo deixaram
de aparecer nas ruas os antigos carros de bois a distribuir as achas, quase
sempre trazidas aqui para a vila das Lajes pelos carreiros de S. João. Os
fornos, praticamente, deixaram de funcionar. Todavia, para certos dias festivos,
em algumas habitações continua-se a cozer o pão de trigo e a massa sovada, mas
quando ainda é conservado o forno de lenha na antiga cozinha.
Afinal, desviei-me praticamente do tema; hoje tinha o
propósito de aqui trazer algo dos manjares relacionado com a cozinha açoriana e
especialmente picoense que, ao que julgo, é um tanto diferente de ilha para
ilha. Mas a caçoilha continua. É um prato indispensável para a Noite e/ou dia
de Natal. Para esse dia não há melhor ementa: sopa de canja de galinha e
caçoilha para o dia de Festa, massa sovada e, em algumas casas, arroz doce. O
“Bolo de Natal” veio mais tarde, creio que trazido pelos emigrantes retornados
dos E.U., e actualmente quase ninguém o dispensa. E já muitos padeiros e donas
de casa o sabem confeccionar.
E basta de mais referir. Que todos possam preparar e
apreciar a ementa natalícia e que tenham um Natal alegre, em paz, harmonia e
bem-estar, é o voto que aqui deixo.
Lajes do Pico,
Dezº de 2016
Ermelindo Ávila
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