domingo, 18 de dezembro de 2016

MANJARES NATALÍCIOS

NOTAS DO MEU CANTINHO      
                                                                                                         

São sempre diferentes as refeições do dia do Natal, daquelas que normalmente se utilizam no dia-a-dia.
Até ao primeiro quartel do século passado, não era usado, por estas bandas, nem o bacalhau nem a sardinha, importados do continente português.
No dia de NATAL a caçoilha, confeccionada com carne de vaca, era e é prato forte servido na quase totalidade dos lares picoenses. Cada talhante abatia, para isso, quatro ou cinco bovinos, se bem que, na noite antecedente, - a noite da “calhandra” (estúrdia) – se fizessem ceias, entre amigos, de carne de carneiro, algumas vezes subtraídos dos pastos dos vizinhos que, não deixavam de ser convidados para a “festança”, embora desconhecendo a proveniência do animalzinho abatido...
A caçoilha, ainda hoje, é o prato forte do Natal. No entanto, a sua confecção exige conhecimentos culinários e bom paladar.
Actualmente, porém, embora se continue a usar, nas ceias da noite do Natal já predomina o bacalhau.
Antigamente, não se conheciam pudins nem outros doces, para além do “arroz doce”, única sobremesa ainda hoje servida, principalmente nos jantares das chamadas “Funções de Coroa”.
A cozinha açoriana sempre foi simples e agradável ao paladar. Geralmente, os condimentos eram caseiros, ou seja, cultivados nas hortas das habitações e reduziam-se a salsa, cebola, alho, açaflor (que foi substituído nos tempos modernos pelo colorau), pimenta ou malagueta, sal (ou água retirada dos poços de maré) e pouco mais. A caçoilha, porém, era preparada com temperos importados: canela, pimenta em grão ou moída, cominhos, e poucos mais.
Não havia por cá hotéis (ainda hoje são escassos...) nem pensões. Quando muito “casas de pasto” onde eram servidos somente pratos regionais. Uns dos mais apreciados eram e são a linguiça e os torresmos de carne de porco, acompanhados com inhames.
         Com a vinda de funcionários continentais, introduziu-se um novo sistema e horário das refeições, principalmente nas pensões existentes e, depois, na própria população. Passou a utilizar-se com frequência o bacalhau e a sardinha importados, se bem que os pescadores locais apanhassem por vezes alguma sardinha.
Mais tarde, não muito, com a instalação das redes eléctricas, foram desaparecendo as lareiras e os fogões a lenha, e os electrodomésticos ocuparam os seus lugares em quase todas as cozinhas. Por esse motivo deixaram de aparecer nas ruas os antigos carros de bois a distribuir as achas, quase sempre trazidas aqui para a vila das Lajes pelos carreiros de S. João. Os fornos, praticamente, deixaram de funcionar. Todavia, para certos dias festivos, em algumas habitações continua-se a cozer o pão de trigo e a massa sovada, mas quando ainda é conservado o forno de lenha na antiga cozinha.
Afinal, desviei-me praticamente do tema; hoje tinha o propósito de aqui trazer algo dos manjares relacionado com a cozinha açoriana e especialmente picoense que, ao que julgo, é um tanto diferente de ilha para ilha. Mas a caçoilha continua. É um prato indispensável para a Noite e/ou dia de Natal. Para esse dia não há melhor ementa: sopa de canja de galinha e caçoilha para o dia de Festa, massa sovada e, em algumas casas, arroz doce. O “Bolo de Natal” veio mais tarde, creio que trazido pelos emigrantes retornados dos E.U., e actualmente quase ninguém o dispensa. E já muitos padeiros e donas de casa o sabem confeccionar.
E basta de mais referir. Que todos possam preparar e apreciar a ementa natalícia e que tenham um Natal alegre, em paz, harmonia e bem-estar, é o voto que aqui deixo.

Lajes do Pico,
Dezº de 2016

Ermelindo Ávila 

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