terça-feira, 2 de maio de 2017

NOTAS SOLTAS

NOTA DO MEU CANTINHO


         Há muitos anos que colaboro em “O Dever”, de maneiras diferentes. Principiei por publicar uma crónica - reportagem que, com espanto meu, foi apreciada por antigo professor a quem fazia aliás, referência merecida.
         Depois, aceite pelo Director do Jornal, que o recebeu com muito carinho, o gosto pela escrita foi-se mantendo ao longo dos anos, derivando, incipiente embora, para os problemas da terra que, já então, eram bastantes.           E a luta pelo bem da terra continuou.
         Ninguém foi capaz de se pôr na frente e dizer: basta!
         Nunca entrei em polémicas e se algum escriba vinha à liça contestar o escrito, deixava-o passar para lhe dar a resposta devida a seu tempo. E foi assim que cheguei até aqui...
         Não faltaram, algumas vezes, poucas, contestatários atrevidos, mas a esses a resposta era ignorá-los.
         Muitas das crónicas, estão reunidas em livros. Não refiro os títulos para não se julgar que estou aqui a fazer deles propaganda. Fique isso para outros. A minha idade, já bastante avançada, não permite que vá por aí para continuar a escrever, mantendo o “vício” que teve começo há 85 anos...
E feita esta pequena observação, prefiro esquecer o passado, mas nem sempre é possível...

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Os jornais picoenses fazem-se eco da crise da Lavoura, principalmente no concelho das Lajes, outrora o mais rico e próspero nas explorações agrícolas. É lamentável que isso aconteça. Ignorar ou desprezar o potencial agrícola do concelho é atitude que só posso classificar de malévola.
         No concelho das Lajes estão as melhores e mais férteis pastagens, os melhores terrenos de produção agrícola e, também, os aptos à exploração vitivinícola.
         Foi aqui perto que Frei Pedro Gigante plantou os primeiros bacelos de Verdelho. Foi na zona da Ponta da Ilha – freguesia da Piedade, especialmente – que se desenvolveu a cultura do vinho de cheiro, chegando alguns jorgenses a adquirirem ali terrenos para o cultivo da vinha, cujo vinho produzido levavam para a sua ilha. Um ano, porém, essa transferência não lhe foi permitida, porque a produção mal deu para o consumo local. (Consta das actas da Vereação Municipal).
         Alguns produtores tinham embarcações (veleiros) apropriadas ao transporte dos seus vinhos para o Norte da Europa.
         Os proprietários de terrenos de cultura exportavam cereais para outras ilhas e gado para abate no continente.
         Quando o vapor “Lima” passava mensalmente no porto das Lajes, e isso não foi há centenas de anos... era raro o mês que não carregava, para Lisboa, mais de uma centena de cabeças de gado vacum. Com o desenvolvimento da indústria de lacticínios (tenha-se em atenção a firma Martins & Rebello) e isso não foi há muitas dezenas de anos, aumentou a produção leiteira e diminuiu a de carne.
         Hoje, parece que ambas estão em crise. A produção leiteira vai diminuindo... A produção do vinho de qualidade vai aumentando...
         Na Piedade, existe uma extensa propriedade, doada há mais de cem anos por um benemérito filho daquela freguesia e emigrado no Brasil, que se destinava a escola agrícola. Nem são de contar as vicissitudes porque tem passado o Posto “Matos Souto”...
         Com a instalação da Região Autónoma, o que superintendia na Agricultura preferiu tirar dali a chefia dos Serviços Agrícolas e transferi-la para a zona vitivinícola...
Não é para esquecer o que então se passou... Aí têm o resultado...Estarei enganado? Não terá sido mais uma farpoada no Sul do Pico ou, mais propriamente, no concelho das Lajes?
O concelho das Lajes nunca tratou mal os outros. Até ajudou a fundá-los, dando-lhes territórios do seu...
Que bom seria se não se ignorasse a História.

Lajes do Pico,
8 de Abril de 2017.

Ermelindo Ávila

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