segunda-feira, 22 de maio de 2017

A BALEAÇÃO

A MINHA NOTA

         A pouco e pouco, com o rodar dos tempos, vão desaparecendo os velhos baleeiros picoenses.
         Aqui há semanas os jornais noticiaram a partida do Mestre Barbeiro e, pouco depois, do José Lourenço, de Santa Cruz das Ribeiras.
         Desapareçam dois grandes homens que a sua vida dedicaram, afanosamente, à arriscada faina de caçar o monstro marinho. E não sei se outros mais ainda restam. Eles vão desaparecendo tal como ingloriamente aconteceu com a baleação, por um imperativo legal que, ainda hoje mal se compreende. Proteger uma espécie marinha é privar o homem de usufruir os bens da Natureza que Deus lhes deixou.  E é mais do que certo que a Natureza com seus seres está ao serviço do homem e foi criada para seu sustento. O homem deixa de ser, dest’arte, o chamado rei da Natureza para ser um seu fiel servo.
         Foram, a pouco e pouco, desaparecendo os baleeiros. Uns partiram para o Pai, outros emigraram, e a honrosa classe deixou, abruptamente, de existir. Infelizmente.
         Extinguiu-se a actividade desde o já distante ano de 1987, há precisamente trinta anos, mas ainda hoje há quem vibre ao sinal de baleia, agora somente para ir, mar fora, ver o monstro no seu ambiente.
         A proibição teve consequências funestas para a economia destas ilhas. E não se procurou encontrar outra indústria que a substituísse. E os baleeiros, que praticavam a actividade, na sua quase totalidade, tiveram de emigrar para os Estados Unidos e/ou Canada, para conseguirem os meios da sua subsistência. Basta ter em consideração que, no ano de 1946, o valor do óleo de baleia produzido no porto das Lajes foi de 1.692 contos e a respectiva soldada ou quinhão do baleeiro atingiu 112 mil escudos. Por seu lado o Estado arrecadou, de imposto de pescado, 150 mil escudos. E, no ano de 1973, as baleias caçadas nos portos de Calheta, Santa Cruz, Lajes e São Mateus, produziram 1.411. 555$20, segundo publicou “O Dever” em seu número de 16 de Fevereiro de 1974.
         A última baleia, caçada pelo Oficial Manuel Macedo Portugal Brum, na canoa “Maria Armanda”, foi em Outubro de 1987, sendo somente aproveitados os dentes e a carne.
         Em certa medida valeu a chegada do Serge Viallelle que abriu nesta vila, em 1993, o estabelecimento turístico “Espaço Talassa” dedicado à observação de baleias – ou Whale Watching, uma actividade que se implantou em todas as ilhas mesmo  naquelas onde nunca houve tradição baleeira.
         O mesmo acontece com os museus e com as regatas quando é sabido que o Museu dos Baleeiros das Lajes do Pico é o museu mais frequentado dos Açores. As regatas estão a fazer-se em portos onde nunca houve baleação...E até fazendo parte dos programas de algumas festas, quando, afinal, Terra de Baleeiros é somente uma: a Ilha do Pico e, mais concretamente, a Vila das Lajes, onde quase toda a gente, comerciantes, artistas de carpintaria, sapataria, serralharia, barbearia etc., e até alguns funcionários públicos eram baleeiros.
         Afinal, a baleação tem um longo historial que, nem Dias de Melo, o grande escritor da actividade, completou!   
         Ainda é tempo e há quem o possa fazer.

Vila Baleeira,
14-V-2017.

Ermelindo Ávila

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