sábado, 9 de maio de 2009

TRANSPORTES DE OUTRAS ERAS

NOTAS DO MEU CANTINHO


...e não muito distantes. A primeira metade do século passado (século XX) foi uma das mais ricas em transportes marítimos.

De quinze em quinze dias vinham de Lisboa os paquetes “Lima” e “Carvalho Araújo” – antes foram o “Funchal” e o “São Miguel”, que percorriam todos os portos das Ilha, alguns alternadamente. Traziam a mercadoria para o comercial e aqui, pelo menos no Pico, carregavam gado vivo, para ser abatido no continente, queijos e manteiga, e outros produtos regionais. A mala, incluindo os jornais e outras publicações do continente e das Ilhas também aqui chegavam de quinze em quinze dias, uma vez pelas Lajes e outra por São Roque. Mas a demora dos navios nos portos permitia, normalmente, que se dessem as respostas no mesmo barco. A menos nos meses de inverno, quando o tempo não permitia que os navios escalassem os portos do itinerário estabelecido.

Com a velocidade que tudo atingiu, naturalmente que hoje esse sistema de transportes seria obsoleto. Mas era garantido.

No verão, apesar do tempo permitir o normal percurso dos barcos da Insulana, como era conhecida a Empresa Insulana de Navegação, os picoenses dispunham de outro sistema de transportes, mais rudimentar, menos cómodo, mas igualmente regular. Eram os barcos do Pico, como eram conhecidos nas Ilhas dos Grupos Central e Oriental (do Faial a S. Miguel). Levavam e traziam carga e por vezes mala do correio e passageiros, estes em condições mais precárias, principalmente quando se dirigiam a S. Miguel, pois a viagem durava uma noite entre aquela ilha e a ilha Terceira.

Iniciavam as viagens no mês de Maio-Junho e terminavam em Outubro.

“Espírito Santo” era nome muito antigo, usado pelos iates da ilha Graciosa. Aqui também houve um “Espírito Santo” que desapareceu no ciclone de Agosto de 1893, segundo nos narra Francisco Borba no seu trabalho O Espírito Santo / As vidas e um barco publicado no “Boletim do Museu Etnográfico da Graciosa”, (Nºs 5 ,Janeiro de 1993). Estavam ancorados na Lagoa e o Iate S. João Baptista, o caiaque Espírito Santo e o barco Bom Jesus. Foi no Espírito Santo que perdeu a vida o jovem de vinte anos Manuel Machado, cujo corpo não mais apareceu.

Com a substituição dos navios “Lima” e “ Carvalho Araújo” pelo transatlântico “Funchal”, (mais tarde substituído pelo “Angra”) que só passou a escalar os portos de Ponta Delgada, Angra e Horta, apareceram os navios “Cedros” e “Arnel”, que o povo passou a denominar “os Carvalhinhos”. Tiveram vida efémera. O “Arnel” naufragou na Ilha de Santa Maria e o “Cedros” foi cedido para a Madeira. Apareceu, depois, um barco de maior porte que os Carvalhinhos, o “Ponta Delgada”, que também saiu para o Continente. Os iates do Pico foram proibidos de navegar até S. Miguel e, mercê de determinação governamental que limitou o percurso somente até à Ilha Terceira, acabaram por desaparecer. Afinal uma história triste que bastante abalou a economia picoense. O “Andorinha” foi vendido para Ponta Delgada e acabou seus dias na doca daquela cidade destruído pelo temporal de 4 de Outubro de 1947. O “Ribeirense”, transformado em traineira da pesca da albacora, também terminou na mesma doca, então com a denominação de “Mareante”, nome do seu novo proprietário. O “Terra Alta” definhou-se no porto da Madalena...E, dos outros mais, não sei do seu fim, com certeza inglório.

Afinal, os grandes prejudicados acabaram por ser os picoenses, porque, privados de um meio de transporte económica e a servi-los atempadamente.

Vieram os aviões. A SATA percorre diariamente ( quando os ventos permitem...)todas as ilhas, mas as tarifas são tão elevadas que ninguém se dá ao luxo de viajar por prazer. Normalmente em casos de doença ou motivos fortes que a isso obriguem.

Não faço aqui a história dos nossos “Barcos do Pico”. Ela é longa e heróica. Vem de séculos, com os iates à vela. Merece por isso melhor e mais amplo tratamento. Aqui deixo somente pálida lembrança dessas “Andorinhas” de Mar, como se lhes chamou um poeta açoriano.

Uma lembrança que quer ser uma homenagem devida a quantos tiveram a coragem de andar sobra frágeis quilhas, por essas águas salgadas, numa prestação de serviços nunca agradecidos como bem mereciam principalmente os mestres José de Macedo Gaspar e João Silveira Alves, sem esquecer tantos outros que foram servidores dedicados dos povos destas ilhas.

Vila das Lajes, 16 de Abril de 2009

Ermelindo Ávila

1 comentário:

Anónimo disse...

Sr. Ermelindo

Os velhinhos Santo Amaro, Espirito Santo e Terra Alta eram as nossas delicias, quando, no intervalo das aulas, dava-mos um salto ao Porto das Pipas.

E que é feito do saudoso Professor Catederático José Avila Martins, um picoense rijo do melhor, que me leccionou geologia na Faculdade de Ciências do Porto?

Um abraço

Luis Mendes Rocha