Notas do meu cantinho
Há dias passei junto da “nossa casa”, aquela que foi construída pelos meus antepassados. Onde eles e a sua descendência sempre viveram e onde os meus irmãos e eu próprio nascemos. Nela vivi vinte e sete anos!...
Por razões que não interessa para aqui trazer, ela deixou de pertencer à Família há umas duas dezenas de anos.
Como disse, ali nasceu e viveu a minha ascendência materna, até, que eu saiba, aos meus trisavós, Pedro Pereira Madruga e Teresa Rosa Luísa de Jesus, naturais da freguesia Matriz da Santíssima Trindade, desta Vila e pais de meu bisavô Joaquim Maria dos Santos, nascido aos 13 de Setembro de 1790. No entanto o filho mais velho do casal - o Pe. João de Deus Madruga, - havia nascido a 26 de Dezembro de 1785. Foram pais de diversos filhos e, segundo o costume da época, um foi padre, um frade no Convento Franciscano desta Vila,e um formado em direito. Este foi secretário da Câmara e o Padre, cura da Matriz. Meu avô, Ermelindo dos Santos Madruga, ali criou os filhos. Igualmente meus pais. Todos nós, sete filhos, ali nascemos e fomos nela criados. Saí daquela secular casa, por imperativos da vida, com vinte e sete anos... Conheço, pois, todos os cantos e recantozinhos... Meus pais não tiveram uma filha, como desejavam, e nós uma irmãzinha, pois a que lhes nasceu o Senhor levou-a para Si. Sofremos bastante e talvez por isso à nossa Mãe - que também lá nasceu - dedicávamos o duplo sentimento de mãe e irmã...
Contava-me a minha bisavó paterna – falecida com quase um século, pois faltavam-lhe uns escassos meses para atingir a centúria – que, quando alguém adoecia, era a casa de senhor Joaquim Maria que iam buscar um púcaro (pequeno vaso de barro) de água doce para fazer chá, não do chinês mas das ervas medicinais que então cultivavam. É que, na casa dele, havia duas grandes talhas de barro onde era recolhida á agua da chuva, pois ainda não existiam as cisternas, que vieram mais tarde. Ainda conheci esses enormes vasos de barro.
Nela viveu também o filho Pe. João de Deus e a sua escrivaninha quase chegou aos meus dias...
No rés-do-chão ou loja, teve meu pai uma sapataria e eu próprio, mais tarde, nele instalei o serviço público que passei a exercer.
É uma casa com mais de três séculos de existência. Um verdadeiro património, senão pela contextura, pela antiguidade, desta Vila, dos poucos que ainda restam e que merecia, por isso mesmo, um tratamento adequado, com vista à sua conveniente preservação. Está situada a meio da rua principal do burgo e da respectiva varanda descobre-se um extenso panorama da vila, a norte e a sul.
Como disse, actualmente a casa, por motivos vários, não pertence à família. Dois dos meus irmãos estão noutras ilhas, três já partiram e os dois que aqui vivem, estão viúvos... Houve quem a adquiriu, a utilizou e, depois, a abandonou. Desconheço o motivo e ninguém até agora foi capaz de m’o explicar. E eu vivo, sofrendo a amargura de ver a casa dos meus antepassados, onde nasci, me criei e vivi feliz quase três dezenas de anos, com meus pais e meus irmãos, a desmoronar-se, a desaparecer...Devia ser considerada, pelo seu estilo e pela antiguidade, património urbano. Não há entidade alguma que lhe acuda, já que os actuais proprietários julgo que dela estão desinteressados?
Hoje resta-me a saudade, que não tem limites e me traz amargurado e triste.
Segunda-feira da Semana Santa de 2009.
Ermelindo dos Santos M. Ávila
2 comentários:
Querido tio Ermelindo.
Como eu o compreendo! A casa d`Avó, como os netos a chamavam, era a "nossa casa", onde os primos se encontravam para brincar durante o dia e os filhos, noras e netos, à noite seroavam, às vezes provando os saborosos petiscos temperados pela minha Avó e Madrinha...
Eu "vejo" todos os cantos do quintal, do jardim, cada pedra, que servia de abrigo às bonecas de pano, costuradas pela tia Júlia...
Mas, somos caminhantes e seguimos sempre para diante...
Um abraço. Lúcia.
É COM MUITA MÁGOA QUE HOJE ENCONTRO ESTA NOTA NA "NET". UM DIA, ANTES DE COMPRAR A CASA DO SR. MACHADO DIAS, NAS LAJES, QUIZ COMPRAR ESTA CASA, MAS O SEU PROPRIETÁRIO DE ENTÃO PEDIU-ME MAIS DOIS MIL CONTOS DO QUE DEPOIS A VEIO A VENDER À "PLANIPICO"... TENHO MUITA PENA E JÁ NÃO ME REFIRO AO QUANTO LÁ APRENDI COM O MEU TIO JOAQUIM (FALECIDO), SUA EXTREMOSA ESPOSA E SERVA ATENTA DE MEUS AVÓS, TIA JÚLIA E ESSA ÚLTIMA SERVA DE SEMPRE E AMIGA ATÉ AO FIM A QUERIDA TIA ETELVINA, A QUEM "DEVO" O TER HOJE ESSA CASA NAS LAJES, PELA AMIZADE QUE ELA MANTINHA COM A SRA. ARMANDA, MÃE DA Dª MARIA NAZARÉ A QUEM A COMPREI... AINDA NÃO PERDI A ESPERANÇA DE UM DIA A ADQUIRIR, OU UMA DAS MINHAS FILHAS...
UM ABRAÇO A MEU PAI E UM BEIJO À LÚCIA
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