Notas do meu cantinho
Estes
e outros mais eram utensílios domésticos fabricados da madeira de
cedro, (da família
Juniperus
brevifolia).
Segundo
Ruy Telles Palhinha (in Catálogo
das Plantas Vasculares dos Açores)
trata-se de uma espécie arbórea Muito
procurada por causa da madeira. Na
ilha do Pico atingia grande desenvolvimento e era utilizada,
inicialmente, na construção de casas e igrejas. Depois passou a ser
utilizada somente em vasilhas de uso doméstico: celhas para lavar
roupas, para servir de preparativos culinários: bolo ou pão, potes
para colher água dos poços, e outros mais. Enquanto não chegou o
vasilhame de folha de Flandres.
Eram
as canecas de cedro que serviam para receber o leite das ordenhas das
vacas e cabras – e havia-as de todas as medidas: meia canada, cana,
três, quatro e cinco canadas.
Era
um vasilhame sempre muito bem cuidado, para que não transmitisse
qualquer impureza ao líquido transportado. E, a propósito, recordo
o que tive oportunidade de escrever: as moças a transportar à
cabeça e nos ombros as grandes canecas, quase sempre rolhadas com
urze, (Calluna
vulgaris)
transportando leite ordenhado das vacas que haviam descido das
pastagens e vinham comer o refúgio que havia sido semeado nas terras
de milho, após a colheita. A estrada ainda não estava construída e
todo o trânsito passava pela rua principal, ou rua Direita da vila,
como vulgarmente era conhecida, caminhavam aos ranchos, pois não
havia trânsito que isso impedisse. O leite colhido era utilizado,
geralmente, na alimentação familiar e no fabrico do queijo caseiro,
uma especialidade – o
queijo do Pico - que
praticamente desapareceu. Hoje fabrica-se queijo com aquele rótulo,
mas está muito distante do genuíno queijo que se fabricava até
meados do século passado. Quem dele não tem saudades?!
Utensílios
esses fabricados por tanoeiros experimentados e que, normalmente, só
se dedicavam a essa actividade. Por aqui conheci quatro: dois na
Ribeira do Meio e dois na vila. Esses, praticamente só se dedicavam
à preparação das barricas que serviam para a exportação do
azeite de baleia. Eram os mestres Tomé Alves e José Alves, que
haviam andado na caça da baleia nas barcas americanas e que, ao
regressarem, se dedicaram a essa faina. Não me lembro de produzirem
artigos domésticos.
Os
outros, com oficinas na Ribeira do Meio, o Mestre Tabuão e o Mestre
Manuel Brão dedicavam-se a toda a espécie de utensílios e até aos
cepos das galochas, em madeira de cedro, muito utilizadas por homens
e mulheres.
Era
interessante vê-los trabalhar. As oficinas conservavam um aroma
especial da madeira de cedro, que caminhava longe.
Mas,
além dos tradicionais utensílios, o cedro eram utilizado na
construção de prédios urbanos, como disse. Aqui há anos, indo à
ilha das Flores, entrei na igreja da freguesia dos Cedros,
recentemente construída e detectei logo o aroma especial que ali
pairava, pois toda a madeira utilizada era de cedro.
De
facto Ruy Telles Palhinha, no livro citado, informa: Pelas
dimensões das madeiras de cedro que se encontram em edifícios
antigos, reconhece-se que os havia de grande porte; no travejamento
de algumas igrejas podem observar-se peças com mais de um metro de
largo. Ainda se encontram exemplares com cinco a seis metros de
altura e 40 a 60 cm de diâmetro mas são cada vez mais raros.”
E
porque é mais rara está proibida, segundo creio, a sua utilização.
Mas isso pouco importa pois deixou de haver tanoeiros e os potes,
celhas, canecas e cepos de galochas são hoje substituídos por
utensílios importados. E é pena. O artesanato podia utilizar essa
preciosa madeira, sem prejuízo do seu desaparecimento.
Lajes
do Pico,
30-9-2015
Ermelindo
Ávila
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