A MINHA NOTA
Costumes
ou tradições que vão desaparecendo com a adopção de outros
sistemas de vida. E é pena porque eles traziam consigo, desde os
primórdios tempos, maneiras diferentes mas que, em certa, medida
facilitavam a vida das pessoas.
Em
anos passados - quatro ou cinco dezenas já se contam – um dos dias
do ano que as gentes do centro da ilha – norte e sul – se reuniam
no Baldio praticamente comum, para a tosquia do gado ovelhum, era
conhecido como o dia
do arrodeio.
Durante
o ano os rebanhos das ovelhas e dos carneiros pastavam
despreocupadamente no Baldio comum às freguesias da Prainha e Lajes.
Esses rebanhos eram pertença dos agricultores das duas freguesias.
Pastavam juntos mas cada um dos animais tinha um sinal que os
identificava e os donos, no dia um de Setembro de cada ano,
reuniam-se para fazer a separação dos animais e igualmente aqueles
com a que haviam nascido durante o ano e que não deixavam de
acompanhar os pais. Aos cordeiros era-lhes então posto o sinal do
proprietário e procedia-se à tosquia.
Amigos
velhos que ali se encontravam todos os anos, faziam, por vezes, as
refeições juntos e, acabado o repasto, davam inicio às
chamarritas, pois havia sempre quem levasse uma viola.
Um
dia festivo, embora de algum trabalho, e sobretudo de
confraternização de velhos e novos. E, entre estes últimos, nascia
por vezes o namoro que, normalmente, se tornava em união feliz.
Conheci alguns desses casais.
As
lãs recolhidas - pretas e brancas - eram aproveitadas para, depois
de tecidas, delas se fazerem roupas de agasalho e meias para serem
usadas nos trabalhos agrícolas, e não apenas. Aquela que tinha
melhor qualidade era fiada e servia para o tear, que vários
existiam.
Para
os elementos do sexo masculino, faziam-se camisolas e meias. Parece
que alguns usavam roupas interiores de lã, normalmente no Inverno.
As
mulheres, quando em trabalhos agrícolas, usavam meias e saiotes
também em lã.
Alguma
lã era utilizada em mantas de agasalho, tecidas em tear doméstico
pois, normalmente, havia em cada família uma tecedeira que quase só
trabalhava no tear próprio.
Nos
últimos anos, porém, apenas o Manuel Cravo, quando passou a residir
nesta vila, trabalhava no seu tear, um instrumento muito antigo e que
agora está arrecadado no Museu dos Baleeiros. Aqui nas Lajes o seu
trabalho quase exclusivo, ao menos nos anos em que conheci, era o
tecer “colchas da terra” e peças de tecido para vestuário, em
lã. No entanto, havia quem enviasse a lã para a ilha de São Jorge,
para lá ser tecida, pois sempre houve bons tecelões naquela ilha,
principalmente nas Fajãs.
Arredado
que estou da vida activa, nem sei o que actualmente se passa, com o
trabalho das lãs. Julgo que pouca se colhe pois o gado lanígero
praticamente desapareceu do Baldio, quando aqueles terrenos passaram
à administração dos Serviços Florestais que os utiliza unicamente
para apascentar gado bovino.
Os
lavradores deixaram, praticamente, de criar gado lanígero e somente
um ou outro daqueles animais é apascentado com o gado bovino. Dele é
necessariamente retirada, anualmente, a lã com a qual se fazem as
meias que eram utilizadas nos trabalhos agrícolas. Mas serão bem
poucos, como poucos são nesta ilha os que, actualmente, aos
trabalhos agrícolas se dedicam.
O
primeiro de Setembro, dia
do arrodeio, era um
verdadeiro dia de festa, principalmente para as gentes das Lajes e
Prainha do Norte.
Afinal,
outros tempos, outros costumes.
Lajes
do Pico, Setº 2015
.
Ermelindo
Ávila
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