A minha nota
A
Chamarrita – será chama
a Rita?- ainda hoje é
um dos bailhos mais característicos de cada ilha com coreografia
própria. A chamarrita do Faial difere algo daquela que é dançada
na ilha do Pico e até mesmo acontece que, de freguesia a freguesia
há sempre diferença. Mas, no conjunto, trata-se de um bailho muito
semelhante e até tradicional. Pena é que haja sido esquecido, como
esquecidos ficaram os conhecidos “bailhos de roda”, de uma
riqueza coreográfica que hoje nem sei se haverá quem seja capaz de
os bailar.
A
chamarrita era o bailho preferido nas festas familiares e até mesmo
nos serões promovidos pelas sociedades recreativas. Os jovens, e até
os de mais idade, deslocavam-se de terra em terra, da Silveira às
Terras, quando sabiam de haver chamarritas ou bailhos.
E
quando esses bailes se promoviam, havia convites aos tocadores de
viola e aos cantadores. Cada ilha tinha viola de estilo diferente,
cuja construção era executada por hábeis marceneiros -violeiros. E
todos eles primavam por fazer instrumentos de boa sonoridade, quer
violas, guitarras ou bandolins, pois os outros, normalmente eram
importados.
Lembro
aqui, alguns artistas além de outros, cujos nomes não registei:
mestre Augusto Bemfeito, nas Ribeiras; o mestre Manuel José da
Terceira e depois o José Joaquim Verónica e por último o Ramiro
Brum Ávila, na Ribeira do Meio. Na Terra do Pão havia um grande
artista, o Saca. Na realidade quase todas as freguesias tinham
artistas de instrumentos de corda. Instrumentos tradicionais mas com
características próprias em cada Ilha, pois se até havia a viola
de “dois corações”!...
A
extinta Junta Geral do antigo Distrito Autónomo da Horta, para
perseverar o folclore das ilhas do Faial, Pico, Flores e Corvo criou
uma Comissão de
Recolha e Divulgação do Folclore do Distrito da Horta.
Foi a essa Comissão que incumbiu a edição do trabalho de recolha
dos “Bailhos, Rodas
e Cantorias – Subsídios para o registo do folclore das ilhas do
Faial, Pico, Flores e Corvo”,
da autoria do professor Júlio de Andrade que produziu um excelente
trabalho. Segundo o Dr. José da Silva Peixoto, em artigo publicado
no extinto “Correio da Horta”, a 30 de Janeiro de 1996, aquando
da comemoração do centenário de Júlio Andrade, o livro deve ter
sido editado em 1948. Referindo-se à Folga, escreve o Autor a
páginas 13: De ilha
para ilha, e até mesmo entre freguesias da mesma ilha, os costumes
do nosso povo, e neste caso os bailhos e as danças, por vezes são
tão diferentes que, embora já notados por outros autores, mas
apenas dando a letra ou a música, não resisti à tentação de
estudar e pôr em livro o resultado de tal trabalho.
A
chamarrita é o bailho mais tradicional e que, na verdade, animava
as festas tradicionais. Faziam-se convites aos tocadores e
cantadores, para que o brilho da dança não ficasse diminuído. O
mandador dava início ao bailho, cantando normalmente: Chega
pares, chega pares / chega pares ao terreiro / Chega raparigas novas
/ e rapazes solteiros.
E quando algum cantador vinha atrasado botava
logo esta cantiga ou
outra semelhante: Ainda
agora aqui cheguei / Mais cedo não pude vir / estive embalando os
rapazes / que ficaram a dormir. E
o baile continuava até que o mandador desse o sinal – olé!
– para terminar.
Mas o bom cantador era normalmente um apreciado improvisador.
Consta
que a chamarrita do
Pico vai ser
considerada
Património Mundial.
Folgo que isso aconteça pois será a maneira mais segura de
salvaguardar um dos mais característicos elementos do folclore
açoriano.
Pena
é que não haja quem faça reviver os antigos bailhos
de roda, de uma
grande riqueza coreográfica e aos quais era tão agradável
assistir.
Lajes
do Pico,
2
de Outubro de 2015.
Ermelindo
Ávila
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