NOTAS DO MEU
CANTINHO
Desapareceu
a actividade baleeira mas falta fazer a sua história. Não pretendo
fazê-la, pois é tarefa impossível para quem esta nota rabisca.
Outros, melhor, o poderão fazer e é tempo de empreender esse
importante estudo.
O Museu dos
Baleeiros é a história viva da baleação, todavia há que passar
ao papel, para “ad perpetuam rei memoriam” e enquanto é tempo,
para não se perder um século de história económica e social desta
ilha.
Verdade
que, em 1788, já 200 barcos ingleses andavam pelos nossos mares à
caça do cachalote, mas os lajenses só por volta de 1870 iniciaram a
baleação, com os emigrantes americanos retornados.
Pouco mais
de um século durou a actividade baleeira nestas ilhas dos Açores.
No entanto, é vasta a bibliografia que a baleação nos deixou,
portuguesa e estrangeira. Recordo, muito rapidamente, as Ilhas
desconhecidas (1926) de Raul Brandão, Mau
Tempo no Canal, o romance mais consagrado do
emérito escritor Vitorino Nemésio, cujo tema básico anda à volta
da Margarida e dos baleeiros do Guindaste, um suposto porto de
baleação do Pico. A notável obra literária do escritor picoense
Dias de Melo tem, quase exclusivamente, como tema único a baleação
e as “estórias” que dela ficaram Na
Memória das Gentes,
cerca de três dezenas de livros alguns em
segunda edição e até um com tradução japonesa.
Muitos
outros escritores andaram por aqui a recolher elementos para os
trabalhos que nos deixaram, versando a baleação. Lembro dos
estrangeiros, o The hand of God –Whaling in
the Azores,
de Trevor Housby, inglês, e Daniel and the
Whale Hunters,
de Bernard Wolf, traduzido para português em edição da Câmara
Municipal das Lajes do Pico. Muitos outros se publicaram, como o Moby
Dick de Herman Melville.
Mais
recentemente, podemos registar Robert Clarke, a quem se deve, na
douta opinião do Coronel José Agostinho, o vocábulo “baleação”.
O estudo
científico do Dr. Mousinho de Figueiredo, Introdução
ao Estudo da Indústria Baleeira Insular (1946),
deu a denominação da sociedade que instalou nas Lajes do Pico a
fábrica de aproveitamento do cachalote – SIBIL e um outro estudo
do Comandante Zolá da Silva, da mesma época, serviu de base à
publicação da legislação sobre as Zonas Baleeiras, que não
usufruíram os efeitos desejados.
O
período áureo da baleação deu-se a meados do século passado. As
Lajes do Pico passaram a ser conhecidas no Mundo e beneficiaram de
um turismo especial que aqui aportou no desejo de conhecer a pesca
artesanal do monstro marinho. E eles vieram da América, do Canadá
e do Brasil; das diversas nações europeias e do Oriente ou, melhor
dito, do Japão (mais especificadamente da Televisão Japonesa).
Deixaram-nos excelentes testemunhos escritos, desde o espanhol ao
japonês, cerca de oitenta (80), que arquivo, muito ciosamente. De
1970 a 1982.
E
foi talvez a passagem dessas individualidades que mais valorizou a
baleação nas Lajes do Pico.
Da
baleação, a que muitos assistiram no
alto mar, ficaram largas colecções de fotografias, livros e vários
filmes, alguns deles adquiridos, mais tarde, pelo Museu dos Baleeiros
que os exibe com regularidade, como é o filme “The last whalers”,
de William Neufeld (Bill), um nova-iorquino, que aqui andou diversos
verões.
As Lajes –
Vila Baleeira- continua a ser o “santuário das baleias”, e foi
por isso que aqui foi lançada a simpática actividade “whale
watching “ pelo francês Serge Viallelle.
Para a
grande maioria das famílias lajenses, a exploração da indústria
baleeira representava uma estabilidade económica que nunca mais foi
alcançada. A grande maioria dos baleeiros emigrou.
Depois
multiplicaram-se as empresas exploradoras da nova actividade que
servem para trazer ao porto das Lajes a maioria dos visitantes e
levá-los a alojamentos distantes, depois da visita às baleias. Com
raras excepções...
As canoas
foram dispersas pelos diversos portos dos Açores e são utilizadas
em regatas. Nas casas de recolha foi instalado – e muito
acertadamente – o Museu dos Baleeiros.
Outro grupo de armazéns recolhe as canoas que por cá ficaram e o
Clube Náutico. As “vigias” são hoje utilizadas pelos
operadores de “whale watching” para lhes darem a posição das
baleias. A fábrica, embora conservando todo o equipamento, foi
transformada em Centro de Artes e Ciências do Mar.
Desapareceram
os estaleiros onde se construíam as canoas, e foi pena! Não pode
nem deve esquecer-se que foi um artista lajense – Francisco José
Machado – que, por volta de 1894, iniciou a construção da canoa
baleeira no seu estilo actual, ainda hoje considerada a mais bela
embarcação do mundo. Foi registada na Delegação Marítima com a
denominação de São José.
O nome de
Francisco José Machado passou ao esquecimento e bem merecia que
fosse recordado.
Lajes do
Pico,
10 de Março
de 2015
Ermelindo
Ávila
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