NOTAS DO MEU CANTINHO
São
diversos os significados que os dicionários nos apresentam da
palavra jogo. Desde o
divertimento à exploração em benefício próprio, o jogo tudo
acoberta.
Mas fico-me
pela “prática de divertimento, em geral com outrem”. Recordo,
assim, os jogos da infância e juventude, que poucos eram mas que
bastavam para entreter a mocidade desse tempo distante e que hoje
recordo com alguma saudade.
Lembro
o jogo da baleia, aqui “inventado” e praticado com grande
entusiasmo: duas canas presas nas extremidades e afastadas a meio por
um pequeno troço do mesmo material e aí estava uma “canoa”,
conduzida por um “marinheiro”ao centro a levar a “embarcação”.
Um “oficial” à popa, com o “remo de esparrela” e o
“trancador” à frente, com uma pequena cana, presa a um cordel a
servir de arpão. As baleias eram várias, quantos os que entravam na
brincadeira. Não havia trânsito automóvel e o grupo podia andar
pelas ruas da vila, à vontade, em correria, que ninguém o impedia.
Na época da Páscoa havia o pião, jogado por miúdos e graúdos.
Estes com grande entusiasmo, utilizando piões com cerca de oito a
dez centímetros de altura. E para eles, também, os bilros e a
“rachinha” ou os jogos de cartas, principalmente, aos serões ou
nas tardes invernosas. E qualquer local servia, até mesmo os baixos
de uma “casa de atafona”...
Para os
miúdos, no Inverno, era o jogo de “apanhar”, a “barra” e o
jogo de “esconder”. Para o jogo de esconder e para os mais
afoitos, o local preferido era a Matriz em construção e cujas obras
estavam suspensas há anos.
Não se
conhecia o Futebol que só aqui apareceu em 1922, nem o voleibol, que
veio para os Açores alguns anos depois. Do continente chegou à ilha
Terceira e desta ilha ao Pico, desenvolvendo-se com certo entusiasmo
na Terra do Pão. Um dos jogadores, deslocando-se para o continente a
continuar estudos, o Dr. José de Brum, depois de formado, se bem me
recordo, foi selecionador nacional.
Hoje não
há os jogos de rua... O trânsito intenso não os permite. Prendem a
atenção das pessoas os jogos de futebol que a Televisão apresenta
e que, em todo o mundo, têm assistência de muitos milhares ou
mesmo milhões de adeptos.
Mas eu
quero somente recordar, com natural saudade, os jogos da infância,
aqueles que eram conhecidos e que se praticavam com grande
entusiasmo, principalmente, o jogo do pião. Havia quem vertesse
lágrimas quando perdia e o vencedor picava o pião vencido com
grandes ferroadas. Um desgosto tremendo pois o pião era,
normalmente, uma peça artística, fabricada pelos carpinteiros que
tinham torno e os faziam com muito cuidado. Guardavam-se de ano para
ano e utilizavam-se, para os movimentar, fios de pesca que alguns
emigrantes retornados traziam dos Estados Unidos e que as esposas lá
iam fornecendo aos miúdos vizinhos. Eram as chamadas “fieiras”.
Foi também
dos Estados Unidos que cá chegou o jogo do bilro. Para isso houve
que proceder à limpeza de junco e entulho do largo que fica em
frente à Rua Dom João Paulino (Rua Nova).
Aí
se iniciou, a seguir, o futebol, utilizando uma bola trazida da
Horta, onde esta modalidade de jogo já era praticada há anos,
principalmente, pelos funcionários das companhias estrangeiras dos
cabos submarinos que estavam instaladas naquela cidade. Dado o grande
entusiasmo que o futebol despertou, procedeu-se à limpeza do
“Juncal”, e aí ficou o campo de jogos durante umas dezenas de
anos.
Já
não se praticam, como disse, os jogos de rua. Praticamente,
ficou-se pelo futebol. E o Lajense, este ano, está a dar boa conta
de si. Folgo com isso pois não esqueço que do velho Clube
Desportivo Lajense sou o sócio mais antigo, desde a sua fundação.
Lajes
do Pico,
12
de Abril de 2013
Ermelindo
Ávila
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