segunda-feira, 15 de abril de 2013

A LACTOPICO NÃO PODE DESAPARECER!


Notas do meu cantinho


A Lavoura picoense está em crise. Anunciou-se o encerramento da fábrica de lacticínios da Ilha do Pico e o transporte para a ilha vizinha do leite produzido pela Lavoura picoense. Se assim acontecer é a maior crise que o Pico sofre em todos os seus dias de existência. Uma calamidade pública!...
E fala-se nisso com o maior à-vontade e a maior desfaçatez, sem se averiguar quais as causas próximas e remotas dessa crise, o que se nos afigura uma coisa impossível.
Não se procura saber quem é o, ou os responsáveis da crise financeira de uma das três maiores indústrias picoenses.
Se os lavradores estão em atraso nos pagamentos do leite fornecido à fábrica, se esse leite foi transformado em queijo e manteiga, se esses produtos foram vendidos, dentro da ilha, nas outras ilhas ou no continente. Resta a pergunta: onde pára o dinheiro de todas essas transacções, obrigando assim a que a gerência respectiva não dispusesse de fundos para pagar o leite aos produtores? É a pergunta que se coloca, nesta ocasião de crise. Noticia a imprensa que o leite na Ilha do Pico vai ser transferido para a ilha vizinha. Em que condições? E é no Faial que se vai fabricar o queijo do Pico, conhecido internacionalmente como um dos produtos mais apreciados destas ilhas?
Já em l930 a produção e comércio de lacticínios do distrito da Horta atravessava uma grave crise, circunstância que levou o governo de então a publicar o Decreto nº 18.586, de 30 de Junho daquele ano e mais tarde o Decreto nº 19.669, de 30 de Abril de 1931, no qual se determinava, no artº 4º: “À indústria caseira da Ilha do Pico é permitido o fabrico de queijo completo, dito Pico (S. João).” Nem um nem outro decreto resultaram, dadas as exigências da então criada comissão de fomento de lacticínios. Vieram, depois, as fábricas (pequenas fábricas) para suprir as exigências impostas à industria caseira. Em São João instalaram-se três, que conseguiram sobreviver alguns anos. Depois surgiu a firma continental Martins & Rebello que, adquirindo uma instalação na Silveira, desenvolveu durante alguns anos a indústria de lacticínios em toda a ilha.
Já no regime autónomo surgem as chamadas “queijarias” ou pequenas fábricas individuais – creio que doze – destinadas ao fabrico do queijo tipo Pico (S.João), mas também essas acabaram por encerrar, aparecendo então a LactoPico, associada a uma firma continental que acabou por abandonar, nem sei como, a sua posição, deixando tudo entregue à própria Lavoura. Agora surge o colapso. Quem lhe acode?
Um pouco animador o anúncio do Lavrador Eduardo Alves, informando que a LactoPico resiste à tempestade. Mas, enquanto o sr. Alves é um dos maiores produtores da ilha, anuncia-se, por outro lado que o leite dos produtores picoenses vai atravessar o Canal, tal como as frutas e a lenha, ou o milho que os habitantes da Fronteira retiram dos prédios que possuem na Feteira.
A situação é aflitiva. Está em causa uma das maiores indústrias picoenses. Estão em perigo cerca de trinta postos de trabalho, da empresa. Está mortalmente atingida a economia picoense.
E o Governo Regional, a quem compete velar pelo bem estar dos cidadãos, tem aqui uma palavra a dizer. E com urgência !


Lajes do Pico,
Abril de 2013
Ermelindo Ávila

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