Notas
do meu cantinho
A
Lavoura picoense está em crise. Anunciou-se o encerramento da
fábrica de lacticínios da Ilha do Pico e o transporte para a ilha
vizinha do leite produzido pela Lavoura picoense. Se assim acontecer
é a maior crise que o Pico sofre em todos os seus dias de
existência. Uma calamidade pública!...
E
fala-se nisso com o maior à-vontade e a maior desfaçatez, sem se
averiguar quais as causas próximas e remotas dessa crise, o que se
nos afigura uma coisa impossível.
Não
se procura saber quem é o, ou os responsáveis da crise financeira
de uma das três maiores indústrias picoenses.
Se
os lavradores estão em atraso nos pagamentos do leite fornecido à
fábrica, se esse leite foi transformado em queijo e manteiga, se
esses produtos foram vendidos, dentro da ilha, nas outras ilhas ou no
continente. Resta a pergunta: onde pára o dinheiro de todas essas
transacções, obrigando assim a que a gerência respectiva não
dispusesse de fundos para pagar o leite aos produtores? É a pergunta
que se coloca, nesta ocasião de crise. Noticia a imprensa que o
leite na Ilha do Pico vai ser transferido para a ilha vizinha. Em que
condições? E é no Faial que se vai fabricar o queijo do Pico,
conhecido internacionalmente como um dos produtos mais apreciados
destas ilhas?
Já em l930
a produção e comércio de lacticínios do distrito da Horta
atravessava uma grave crise, circunstância que levou o governo de
então a publicar o Decreto nº 18.586, de 30 de Junho daquele ano e
mais tarde o Decreto nº 19.669, de 30 de Abril de 1931, no qual se
determinava, no artº 4º: “À indústria caseira da Ilha do Pico é
permitido o fabrico de queijo completo, dito Pico (S. João).” Nem
um nem outro decreto resultaram, dadas as exigências da então
criada comissão de fomento de lacticínios. Vieram, depois, as
fábricas (pequenas fábricas) para suprir as exigências impostas à
industria caseira. Em São João instalaram-se três, que conseguiram
sobreviver alguns anos. Depois surgiu a firma continental Martins &
Rebello que, adquirindo uma instalação na Silveira, desenvolveu
durante alguns anos a indústria de lacticínios em toda a ilha.
Já
no regime autónomo surgem as chamadas “queijarias” ou pequenas
fábricas individuais – creio que doze – destinadas ao fabrico do
queijo tipo Pico (S.João), mas também essas acabaram por encerrar,
aparecendo então a LactoPico, associada a uma firma continental
que acabou por abandonar, nem sei como, a sua posição, deixando
tudo entregue à própria Lavoura. Agora surge o colapso. Quem lhe
acode?
Um
pouco animador o anúncio do Lavrador Eduardo Alves, informando que a
LactoPico resiste à tempestade. Mas,
enquanto o sr. Alves é um dos maiores produtores da ilha,
anuncia-se, por outro lado que o leite dos produtores picoenses vai
atravessar o Canal, tal como as frutas e a lenha, ou o milho que os
habitantes da Fronteira retiram dos prédios que possuem na Feteira.
A
situação é aflitiva. Está em causa uma das maiores indústrias
picoenses. Estão em perigo cerca de trinta postos de trabalho, da
empresa. Está mortalmente atingida a economia picoense.
E
o Governo Regional, a quem compete velar pelo bem estar dos cidadãos,
tem aqui uma palavra a dizer. E com urgência !
Lajes
do Pico,
Abril
de 2013
Ermelindo
Ávila
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