NOTAS DO MEU CANTINHO
Os
lajenses vivem uma grave crise de alimentação com a falta de peixe.
Outrora, abundava no “limpo” o chicharro e, em certas “marcas”,
as cavalas e os bonitos. Outras espécie apanhavam-se todo o ano, com
mais ou menos abundância, pois havia certos pescadores que só a
elas se dedicavam: o Mestre Bento, o Mestre João Luís, os Garcias,
o Luís Sabina, o Henrique Ávila, o Manuel Caiador, o João
Maurício, o João Brão, o Manuel da Silva... o Manuel Machadinho e
tantos outros, que os havia, mestres de verdade, e que à pesca iam
quando não aparecia baleia, pois esta caça estava em primeiro
lugar. Pescava-se a garoupa, a veja, o sargo, e outras espécies
mais. Durante a noite, iam, geralmente à pesca
de fundo, principalmente as abróteas e os
gorazes. Hoje tudo é
diferente.
Se ainda há
barcos de pesca, e não são poucos os que estão amarrados no porto
interior das Lajes, e bons marítimos que sabem da sua profissão
como os melhores, o pescado quase desapareceu porque uma instituição
denominada Lota se fixou na Vila da Madalena, onde todo o pescado
deve ser apresentado. Resultado: só cá aparece aquele restolho
que não tem qualidade para ser exportado para o continente.
Recordar as
pescas antigas do bonito, da cavala e do chicharro (no continente
chamam-lhe carapau), é trazer à memória de muitos uma época de
abundância em que o peixe aparecia por aí, ora fresco, ora o
salgado ou seco. E seco porque as grandes quantidades de chicharro,
apanhado durante a noite, eram preparadas para secar ao sol e,
durante os meses de inverno, vendidas nas freguesias rurais ou
trocadas por milho e outros produto agrícolas, quer aqui no Sul do
Pico quer na ilha do Faial para onde os pescadores iam
transaccioná-lo por milho e outros produtos agrícolas.
O
peixe constituía a base principal da alimentação das populações
destas ilhas. Hoje é negócio que não se faz. O “Limpo” está
limpo. Os cardumes de chicharro desapareceram dali. Há quem diga que
a baleia ou o cachalote dele se alimentam e de outras espécies; de
tudo o que lhes chega à grande “bocarra” e onde são absorvidos
às toneladas. Se esta não for a explicação, para onde caminhou o
peixe que tanto abundava nestas costas? Não será motivo de estudo
para os cientistas interessados, que muitos há?
Presentemente
passamos a viver, quase só, de congelados, com a saúde por eles um
tanto agravada.
Ainda
há quem se lembre do caldo de peixe
cozinhado com pescado fresco, acabado de chegar do mar e que era uma
verdadeira delícia.
Até os
marinheiros dos antigos iates – os inesquecíveis “barcos do
Pico” - o sabiam cozinhar e, quando conseguiam adquirir bons peixes
nos portos de São Jorge, a caminho da Terceira, faziam uma jantarada
excelente para si e para alguns passageiros convidados, pois nem
todos podiam suportar o cheiro e as baforadas do caldo a ferver em
grandes tachos. Esse tempo passou, deixou saudades, mas não vale
recordá-lo....
Hoje,
poucos dele se lembram. Todavia há quem recorde ainda o ”caldo de
peixe à moda do Pico.”
O
que venho de recordar não é assunto novo nestes crónicas. Há
meses (17-10-2011) falei dele, neste mesmo “Cantinho”. Que eu
saiba, ninguém lhe “ligou”. E continuamos a ter um espaço para
a venda de peixe da Lota (congelado?), instalado num antigo contentor
quando, antes das obras do porto, tínhamos uma casa
- pesqueira,
construída pela Câmara Municipal, que foi demolida por motivo das
obras e não foi substituída.
Está-se a
fazer obras na zona do antigo campo de jogos, que vão passar pela
Lagoa, mas nada se vê que seja para dar um melhor arranjo à venda
de peixe ao público. O pescado chega do mar e desaparece. Um carro
da Lota leva-o para a
Madalena a trinta e cinco quilómetros de distância, para voltar,
depois de ali arrematado pelos próprios pescadores, nem sei quando,
para o contentor que serve de Peixaria
local, embrulhado em gelo que lhe dá o aspecto de fresco... É o que
nos fornecem. Assim acontece em toda a ilha. Não se compreende que,
uma ilha tão longa e com habitações dispersas, só haja de
consumir o peixe concentrado numa localidade para, depois, voltar aos
portos de origem.
E as
baleias continuam a aproximar-se da costa, fazendo desaparecer o
chicharro, a cavala outras espécies mais...Não será? Estarei
enganado?
Continua
a proibição da apanha de lapas. Os polvos desapareceram. As redes e
os tresmalhos que eram deitados, principalmente no Inverno, nas
lagoas da Maré e do Caneiro, e que faziam boas colheitas, estão
proibidos, bem como as tarrafas.
Quase tudo se proíbe e assim vão sendo prejudicados os
nossos direitos de cidadãos livres...
É tempo de
se rever a situação. O pescado do porto das Lajes deve ficar nas
Lajes. A reconstrução do porto permite, nas imediações, a
reconstrução da antiga Pesqueira. Admito que o pescado excedente do
consumo local seja adquirido pela Lota que lhe dará o destino que
tiver por conveniente. Tal como se processa o negócio do pescado é
intolerável, por lesivo dos interesses das gentes desta banda Sul,
onde, afinal, existem os mais importantes portos de pesca: S. João,
Lajes, Santa Cruz, Calheta, Manhenha e Calhau. Quem o ignora?
Lajes do
Pico,
25-01-2013
Ermelindo
Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário