A MINHA NOTA
Mesmo
que ocorressem na época invernosa, as festas religiosas tinham
sempre quem a elas assistisse, idas das freguesias vizinhas.
Outrora,
talvez pelo prestígio e força política de que gozava o respectivo
pároco, a festa do orago, Santa Bárbara era um verdadeiro “dia
santo” para os lajenses que acorriam àquela paróquia em grande
número. E, tal como às outras festas, não havia transportes.
Caminhava-se de madrugada para chegar a tempo da Missa Solene.
Para
os lados da Ponta – e esta denominação não é nada desprimorosa,
pois desde o começo a freguesia da Piedade sempre foi designada pela
freguesia da Ponta (ou Ponta da Ilha) - o mesmo se verificava,
chegando a nossos dias, pois a estrada Lajes-Piedade e, depois,
Piedade-Prainha, só chegou em 1943, precisamente há setenta anos.
Além
da Festa de Nossa Senhora da Piedade, - realizava-se, como
actualmente, no fim do verão, e não faltavam pessoas idas de toda a
ilha e até mesmo da Terceira, onde sempre existiu uma comunidade
numerosa oriunda da Piedade, - havia no inverno – Janeiro – as
festas dos oragos: Santo Amaro, Santo Antão e São Sebastião. E daí
o adágio popular: Se fores a Santo Amaro, vem por Santo Antão e não
te esqueças de São Sebastião. E os forasteiros não faltavam. E
não havia filarmónicas para abrilhantar os arraiais. Os encontros,
o convívio, as visitas aos amigos e conhecidos constituíam o
complemento quase principal das festividades.
Normalmente,
as viagens era a pé e aos ranchos. Mesmo que fosse distante a
solenidade.
A
festa de São Mateus, é muito antiga. Anterior à do Bom Jesus.
Naturalmente, porque tinha um cunho especial: distribuíam-se
vésperas em cumprimento do voto feito por ocasião das crises
vulcânicas de 1718 e 1720, não faltavam forasteiros que, como
disse, em ranchos, partiam de casa com dias de antecedência,
percorrendo assim a ilha. Caminhava-se, habutualmente, pelo Norte
para regressar a casa pelo Sul, ou vice-versa. Para o transporte de
farnéis e roupas um dos forasteiros levava o seu carro de bois, que
também servia para alojar algum que “acajoava” (adoecia) pelo
longo caminhar.
Sem
ofensa para ninguém, de lugares a lugares, parava o rancho o tocador
de viola, que sempre os havia, dava início à “chama-rita”. E lá
surgia a primeira cantiga: Romeiros de São
Mateus / Descansai, tomar alento / Que a Virgem Nossa Senhora / Nos
vai dar bom tempo.
E
outras se seguiam conforme o estro inventivo do cantador ou
cantadores.
Após
a festa, o regresso a casa fazia-se com o mesmo entusiasmo, muito
embora alguns gozassem com aqueles que aparentavam cansaço: Ó
José, donde vens? O outro respondia muito
pausadamente; Da... fes...ta...
Bons
e saudosos tempos para aqueles que deles ainda se recordam. Poucos,
porém...
Vila
das Lajes do Pico,
Dia
de Santo Antão, de 2013-01-15
Ermelindo
Ávila
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