terça-feira, 2 de abril de 2013

AS FESTAS TRADICIONAIS


A MINHA NOTA


Mesmo que ocorressem na época invernosa, as festas religiosas tinham sempre quem a elas assistisse, idas das freguesias vizinhas.
Outrora, talvez pelo prestígio e força política de que gozava o respectivo pároco, a festa do orago, Santa Bárbara era um verdadeiro “dia santo” para os lajenses que acorriam àquela paróquia em grande número. E, tal como às outras festas, não havia transportes. Caminhava-se de madrugada para chegar a tempo da Missa Solene.
Para os lados da Ponta – e esta denominação não é nada desprimorosa, pois desde o começo a freguesia da Piedade sempre foi designada pela freguesia da Ponta (ou Ponta da Ilha) - o mesmo se verificava, chegando a nossos dias, pois a estrada Lajes-Piedade e, depois, Piedade-Prainha, só chegou em 1943, precisamente há setenta anos.
Além da Festa de Nossa Senhora da Piedade, - realizava-se, como actualmente, no fim do verão, e não faltavam pessoas idas de toda a ilha e até mesmo da Terceira, onde sempre existiu uma comunidade numerosa oriunda da Piedade, - havia no inverno – Janeiro – as festas dos oragos: Santo Amaro, Santo Antão e São Sebastião. E daí o adágio popular: Se fores a Santo Amaro, vem por Santo Antão e não te esqueças de São Sebastião. E os forasteiros não faltavam. E não havia filarmónicas para abrilhantar os arraiais. Os encontros, o convívio, as visitas aos amigos e conhecidos constituíam o complemento quase principal das festividades.
Normalmente, as viagens era a pé e aos ranchos. Mesmo que fosse distante a solenidade.
A festa de São Mateus, é muito antiga. Anterior à do Bom Jesus. Naturalmente, porque tinha um cunho especial: distribuíam-se vésperas em cumprimento do voto feito por ocasião das crises vulcânicas de 1718 e 1720, não faltavam forasteiros que, como disse, em ranchos, partiam de casa com dias de antecedência, percorrendo assim a ilha. Caminhava-se, habutualmente, pelo Norte para regressar a casa pelo Sul, ou vice-versa. Para o transporte de farnéis e roupas um dos forasteiros levava o seu carro de bois, que também servia para alojar algum que “acajoava” (adoecia) pelo longo caminhar.
Sem ofensa para ninguém, de lugares a lugares, parava o rancho o tocador de viola, que sempre os havia, dava início à “chama-rita”. E lá surgia a primeira cantiga: Romeiros de São Mateus / Descansai, tomar alento / Que a Virgem Nossa Senhora / Nos vai dar bom tempo.
E outras se seguiam conforme o estro inventivo do cantador ou cantadores.
Após a festa, o regresso a casa fazia-se com o mesmo entusiasmo, muito embora alguns gozassem com aqueles que aparentavam cansaço: Ó José, donde vens? O outro respondia muito pausadamente; Da... fes...ta...
Bons e saudosos tempos para aqueles que deles ainda se recordam. Poucos, porém...


Vila das Lajes do Pico,
Dia de Santo Antão, de 2013-01-15
Ermelindo Ávila

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