A
MINHA NOTA
Passou
Carnaval e está-se já a meio da Quaresma. Outrora era um tempo
especial para os católicos, ou seja para a quase totalidade dos
picoenses. Hoje é diferente, porque um indiferentismo próprio da
época que se atravessa, domina a quase totalidade das pessoas. Isso
está bem patente no cumprimento dos deveres dos cristãos.
Mas
eu não venho “pregar” aos meus possíveis leitores, se bem que
não ficasse mal. Os nossos irmãos separados (conhecidos por
protestantes) não têm nenhuma relutância em aproveitar todas as
ocasiões que se lhes oferecem, para espalhar a sua “doutrina”.
Mas deixemos o caso para outros e, naturalmente, para outra ocasião.
Hoje venho apenas recordar tradições que se perderam com os novos
sistemas de vida e descoberta de meios de comunicação social:
rádio, televisão, internet...
Até
meados do século XX era tradição respeitarem-se os Domingos de
Quaresma, praticando certos actos religiosos, como seja a Via-Sacra.
No entanto, em certos centros urbanos, a meio da Quaresma, por vezes
acontecia fazer-se um baile, o “Mi-Caréme”. Que me lembre, houve
um aqui nas Lajes, promovido por menina da Horta, que cá estava de
passagem em casas de amigas, mas com as janelas da rua tapadas...
Todavia,
não deixava de se preparar a Páscoa, normalmente “celebrada”
com “danças” que saíam à rua e percorriam as diversas
localidades da Ilha. Havia a dança dos Pedreiros, dos Cardaços, e
outras mais, sempre presenciadas com gosto e aplauso, por numerosa
assistência. E era uma Quaresma inteira que se levava nos ensaios.
Nestas
danças não entrava o elemento feminino. Quando necessário, alguns
homens trajavam de mulher, passando algumas vezes pelo sexo
contrário... E acontecia o equívoco provocar cenas hilariantes... O
elemento “feminino” trajava a rigor o que mais contribuía para
a confusão...
As
danças eram acompanhadas, geralmente, dos familiares dos personagens
intervenientes. E não faltavam os “velhos” ou as “velhas”
que faziam a recolha dos donativos.
As
danças que por aqui apareciam eram, geralmente, vindas de São
Mateus ou da Prainha do Norte. Os “enredos” eram bem
arquitectados e executados com certa arte, o que mais atraía a
assistência. Normalmente, o tema era inspirado dum drama ou comédia
coniforme melhor se ajeitava aos “actores”.
Que
me lembre, nesta vila apenas se fez uma dança, rebuscada de uma
outra muito antiga e conhecida pela “dança dos picões”. Já nem
me lembro do que se tratava.
No
tempo não existiam os bailes nas sociedades, como depois aconteceu.
Bailava-se nas casas que tinham salas mais amplas e apenas lá iam os
convidados, restos de uma aristocracia que desapareceu.
Nas
zonas rurais, aqui e ali, faziam-se as chamadas “folgas”, onde
todos os conhecidos e amigos podiam bailar a chama-rita,
os bailes de rodas,
por exemplo a sapateia,
e outros antigos e que já hoje ninguém conhece.
Vila
das Lajes do Pico.
21
de Fev. De 2013.
Ermelindo
Ávila
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