terça-feira, 2 de abril de 2013

AS DANÇAS...


A MINHA NOTA


Passou Carnaval e está-se já a meio da Quaresma. Outrora era um tempo especial para os católicos, ou seja para a quase totalidade dos picoenses. Hoje é diferente, porque um indiferentismo próprio da época que se atravessa, domina a quase totalidade das pessoas. Isso está bem patente no cumprimento dos deveres dos cristãos.
Mas eu não venho “pregar” aos meus possíveis leitores, se bem que não ficasse mal. Os nossos irmãos separados (conhecidos por protestantes) não têm nenhuma relutância em aproveitar todas as ocasiões que se lhes oferecem, para espalhar a sua “doutrina”. Mas deixemos o caso para outros e, naturalmente, para outra ocasião. Hoje venho apenas recordar tradições que se perderam com os novos sistemas de vida e descoberta de meios de comunicação social: rádio, televisão, internet...
Até meados do século XX era tradição respeitarem-se os Domingos de Quaresma, praticando certos actos religiosos, como seja a Via-Sacra. No entanto, em certos centros urbanos, a meio da Quaresma, por vezes acontecia fazer-se um baile, o “Mi-Caréme”. Que me lembre, houve um aqui nas Lajes, promovido por menina da Horta, que cá estava de passagem em casas de amigas, mas com as janelas da rua tapadas...
Todavia, não deixava de se preparar a Páscoa, normalmente “celebrada” com “danças” que saíam à rua e percorriam as diversas localidades da Ilha. Havia a dança dos Pedreiros, dos Cardaços, e outras mais, sempre presenciadas com gosto e aplauso, por numerosa assistência. E era uma Quaresma inteira que se levava nos ensaios.
Nestas danças não entrava o elemento feminino. Quando necessário, alguns homens trajavam de mulher, passando algumas vezes pelo sexo contrário... E acontecia o equívoco provocar cenas hilariantes... O elemento “feminino” trajava a rigor o que mais contribuía para a confusão...
As danças eram acompanhadas, geralmente, dos familiares dos personagens intervenientes. E não faltavam os “velhos” ou as “velhas” que faziam a recolha dos donativos.
As danças que por aqui apareciam eram, geralmente, vindas de São Mateus ou da Prainha do Norte. Os “enredos” eram bem arquitectados e executados com certa arte, o que mais atraía a assistência. Normalmente, o tema era inspirado dum drama ou comédia coniforme melhor se ajeitava aos “actores”.
Que me lembre, nesta vila apenas se fez uma dança, rebuscada de uma outra muito antiga e conhecida pela “dança dos picões”. Já nem me lembro do que se tratava.
No tempo não existiam os bailes nas sociedades, como depois aconteceu. Bailava-se nas casas que tinham salas mais amplas e apenas lá iam os convidados, restos de uma aristocracia que desapareceu.
Nas zonas rurais, aqui e ali, faziam-se as chamadas “folgas”, onde todos os conhecidos e amigos podiam bailar a chama-rita, os bailes de rodas, por exemplo a sapateia, e outros antigos e que já hoje ninguém conhece.
Vila das Lajes do Pico.
21 de Fev. De 2013.
Ermelindo Ávila

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