domingo, 5 de maio de 2013

MONSENHOR CÓNEGO JACINTO ALMEIDA


Duas Palavras de Homenagem

Quando Ponta Delgada se prepara para celebrar uma vez mais a sua festa maior em honra e louvor de Santo Cristo dos Milagres que ali se venera, desde o recuado século dezassete, importa recordar aqui uma Figura Notável que àquelas solenidades e à devoção ao Ecce Homo dedicou uma parte importante da sua exemplar actividade sacerdotal. Refiro Monsenhor Cónego Jacinto da Costa Almeida que, nos derradeiros anos da sua vida, foi Reitor do Santuário da Esperança.
Recordo o Padre Jacinto, como era conhecido vulgarmente, com alguma saudade. Fomos condiscípulos nos distantes anos da juventude e sempre tivemos uma amizade discreta e singular. E era um companheiro diferente. Calmo, amável, tratando os companheiros com uma certa fraternidade, o que nem em todos acontecia. Distinguia-se por isso, o que o levou a exercer uma parte da sua vida sacerdotal no estabelecimento onde se formara e, mais tarde, em Ponta Delgada, donde transitou para Reitor do Santuário.
Em Ponta Delgada, encontrámo-nos, quase regularmente, quando ele passou a exercer as suas funções no Santuário. Era num café próximo da Igreja da Esperança que passávamos alguns momentos. Recordávamos um passado distante, quando ali íamos, depois do almoço, tomar a habitual “bica”. Um dia, ele perguntou-me se conhecia o tesouro de Santo Cristo. Naturalmente que a minha resposta foi negativa. Ficou combinado que, no dia seguinte, iria até ao Santuário. E assim aconteceu.
Uma Irmã, creio que a responsável pela guarda do sumptuoso Tesouro, havia exposto num mesão, que se encontrava no recinto, todas as jóias - ex-votos – oferecidas a Santo Cristo, em cumprimento de promessas por favores alcançados. E ali estavam, e concerteza estarão, desde as alianças de casamento até aos vasos sagrados do maior valor e riqueza material. Nas paredes as capas que a Veneranda Imagem usa e que são igualmente resultado de promessas feitas em horas de angústia e sofrimento. E várias são, algumas de notável riqueza.
Levou-me ao escritório e aí mostrou-me a correspondência que, diariamente, recebia de todo o mundo de devotos de Santo Cristo, à qual dava resposta, obrigando-o a um trabalho diário de algumas horas.
Fiquei, naturalmente, encantado. Mais nada poderei acrescentar. Não é fácil descrever o que se encontra naquele “tesouro”, único nestas ilhas, apesar de ser de muito valor o tesouro da Sé e os de algumas igrejas paroquiais açorianas.
Mons. Jacinto Almeida morreu cedo. A sua vida operosa podia prolongar-se por muitos anos mais. O Senhor quis, porém, levá-lo a gozar o prémio das suas virtudes e benemerências. Ficou a ser recordada pelos admiradores a sua vida de autêntico asceta. E muitos, concerteza, dele ainda se recordam.
Quando superior do Seminário – Prefeito, professor e por fim Reitor – procurava conduzir os alunos com humanidade o que nem outros colegas eram capazes de praticar. Por vezes austero, mas sempre dedicado e compreensivo. Disso alguns deram-me testemunho.
Na vida social era um homem simples, nada arrogante, incapaz de ofender quem quer que fosse. Estimava e respeitava o semelhante como poucos o faziam. Creio que a cidade toda, que o conhecia, o respeitava.
Não vivia em Ponta Delgada mas pelo que notava, quando por lá passava, ficou-me sempre o respeito cortês e amável que os micaelenses tributavam ao Mons. Cónego Jacinto, e uma grande estima pelo humilde sacerdote.
Ponta Delgada perdeu um grande Homem e um Sacerdote dedicado, simples e humilde mas com uma grandeza de alma tal que a todos estimava e por todos se repartia.
Como acima digo, foi dos poucos colegas que me ficaram na memória e na recordação saudosa de uma amizade simples mas humana e cristã, que não mais esquecerei.
Deixo, pois, estas modestas palavras, à memória de Monsenhor Cónego Jacinto da Costa Almeida, com a gratidão pela amizade que sempre me dispensou.

Lajes do Pico
22 de Abril de 2013
Ermelindo Ávila

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