Duas Palavras
de Homenagem
Quando
Ponta Delgada se prepara para celebrar uma vez mais a sua festa maior
em honra e louvor de Santo Cristo dos Milagres que ali se venera,
desde o recuado século dezassete, importa recordar aqui uma Figura
Notável que àquelas solenidades e à devoção ao Ecce Homo dedicou
uma parte importante da sua exemplar actividade sacerdotal. Refiro
Monsenhor Cónego Jacinto da Costa Almeida que, nos derradeiros anos
da sua vida, foi Reitor do Santuário da Esperança.
Recordo o
Padre Jacinto, como era conhecido vulgarmente, com alguma saudade.
Fomos condiscípulos nos distantes anos da juventude e sempre
tivemos uma amizade discreta e singular. E era um companheiro
diferente. Calmo, amável, tratando os companheiros com uma certa
fraternidade, o que nem em todos acontecia. Distinguia-se por isso, o
que o levou a exercer uma parte da sua vida sacerdotal no
estabelecimento onde se formara e, mais tarde, em Ponta Delgada,
donde transitou para Reitor do Santuário.
Em Ponta
Delgada, encontrámo-nos, quase regularmente, quando ele passou a
exercer as suas funções no Santuário. Era num café próximo da
Igreja da Esperança que passávamos alguns momentos. Recordávamos
um passado distante, quando ali íamos, depois do almoço, tomar a
habitual “bica”. Um dia, ele perguntou-me se conhecia o tesouro
de Santo Cristo. Naturalmente
que a minha resposta foi negativa.
Ficou combinado que, no dia seguinte, iria
até ao Santuário. E assim aconteceu.
Uma Irmã,
creio que a responsável pela guarda do sumptuoso Tesouro, havia
exposto num mesão, que se encontrava no recinto, todas as jóias -
ex-votos –
oferecidas a Santo Cristo, em cumprimento de promessas por favores
alcançados. E ali estavam, e concerteza
estarão, desde as alianças de casamento até aos vasos sagrados do
maior valor e riqueza material. Nas paredes as capas que a Veneranda
Imagem usa e que são igualmente resultado de promessas feitas em
horas de angústia e sofrimento. E várias são, algumas de notável
riqueza.
Levou-me ao
escritório e aí mostrou-me a correspondência que, diariamente,
recebia de todo o mundo de devotos de Santo Cristo, à qual dava
resposta, obrigando-o a um trabalho diário de algumas horas.
Fiquei,
naturalmente, encantado. Mais nada poderei acrescentar. Não é fácil
descrever o que se encontra naquele “tesouro”, único nestas
ilhas, apesar de ser de muito valor o tesouro da Sé e os de algumas
igrejas paroquiais açorianas.
Mons.
Jacinto Almeida morreu cedo. A sua vida operosa podia prolongar-se
por muitos anos mais. O Senhor quis, porém, levá-lo a gozar o
prémio das suas virtudes e benemerências. Ficou a ser recordada
pelos admiradores a sua vida de autêntico asceta. E muitos,
concerteza, dele ainda se recordam.
Quando
superior do Seminário – Prefeito, professor e por fim Reitor –
procurava conduzir os alunos com humanidade o que nem outros colegas
eram capazes de praticar. Por vezes austero, mas sempre dedicado e
compreensivo. Disso alguns deram-me testemunho.
Na vida
social era um homem simples, nada arrogante, incapaz de ofender quem
quer que fosse. Estimava e respeitava o semelhante como poucos o
faziam. Creio que a cidade toda, que o conhecia, o respeitava.
Não
vivia em Ponta Delgada mas pelo que notava, quando por lá passava,
ficou-me sempre o respeito cortês e amável que os micaelenses
tributavam ao Mons. Cónego Jacinto, e uma grande estima pelo
humilde sacerdote.
Ponta
Delgada perdeu um grande Homem e um Sacerdote dedicado, simples e
humilde mas com uma grandeza de alma tal que a todos estimava e por
todos se repartia.
Como acima
digo, foi dos poucos colegas que me ficaram na memória e na
recordação saudosa de uma amizade simples mas humana e cristã,
que não mais esquecerei.
Deixo,
pois, estas modestas palavras, à memória de Monsenhor Cónego
Jacinto da Costa Almeida, com a gratidão pela amizade que sempre me
dispensou.
Lajes do
Pico
22 de Abril
de 2013
Ermelindo
Ávila
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