Notas do meu
cantinho
A Liturgia
Católica celebra, este domingo, a solenidade da Santíssima
Trindade, que as gentes açorianas,
especialmente na ilha do Pico, aproveitam para “prolongar” os
Impérios do Espírito Santo.
Para os
lajenses um motivo especial existe para solenizar o dia do seu Orago.
Os
povoadores, quando aqui chegaram, construíram uma pequena Ermida
dedicada ao Apóstolo S. Pedro, nome do capelão e primeiro pároco
da Ilha – Frei Pedro Alvares Gigante. Essa pequena ermida foi a
primeira paróquia da ilha, que “muitos anos
não teve esta Ilha outra freguesia mais que esta, e de todas as
partes aonde moravam os povoadores vinham a ela, que foi uma pequena
Igreja do Apóstolo São Pedro (que hoje é ermida) sua paróquia”.
Em
1506 “trataram de fazer outra em o meio da
Vila, como de efeito fizeram, no lugar em que agora está do Orago da
Santíssima Trindade, para cujo efeito lançaram finta em todos os
moradores da Ilha, e nas fazendas dos Ausentes, conforme cada um
tinha de Cabedal”.(1) Somavam os moradores
45. Segundo Lacerda Machado, “Por moradores
deve entender-se fogos, chefes de família com propriedade
colectável”. Deduz daí que a população, nessa época devia ser
de 250 habitantes na ilha.” (2)
Não nos
dizem os historiadores porque seria que a paróquia que, até à
construção da nova Matriz, se denominava de São Pedro, aliás como
acima se refere, o nome do primeiro Pároco, passaria a chamar-se,
cerca de cinquenta anos após o povoamento, de Santíssima
Trindade.
Quase todas
as ilhas tomaram o nome do Santo do dia da chegada dos seus
povoadores. Assim acontece em Santa Maria, S. Miguel, etc. O Pico,
apesar de algumas divergências iniciais, ficou a chamar-se somente
Pico em razão da alta
montanha que domina a ilha. Todavia, a primeira igreja foi dedicada
ao Apóstolo S. Pedro por ser, naturalmente, o nome do capelão que
veio com os primeiros habitantes.
A
Igreja celebra a festa da Santíssima Trindade no final do período
pascal, que acontece no fim da Primavera. E nessa época o mar já
se apresenta calmo e propício à navegação. E foi, possivelmente,
nesse dia que os povoadores aportaram à ilha, tentando desembarcar
junto ao Castelete, local onde as águas são revoltas devido às
mudanças da maré. Apenas cá ficou, como é sabido, Fernando
Alvares Evangelho pois “vindo no barco
buscar a costa saltou em terra, aonde se diz o penedo negro, e com
ele um cão que trazia, e o mar se levantou de modo que não deu
lugar a ninguém mais saltar em terra, e aquela noite se levantou
vendo do modo que a caravela ao outro dia não apareceu e ele ficou
na ilha com o seu companheiro o cão e nela esteve um ano(...) No
cabo do ano tornaram os Companheiros a buscar a Ilha pela mesma
parte, e ainda com melhor maré (...) (3)
Fernando
Alvares fixou-se junto à Ribeira, que durante anos teve o seu nome e
que, depois, passou a ser conhecida por Ribeira da Burra. Ali
construiu a sua habitação, cujas ruínas ainda lá se encontram.
Ele que já conhecia esta parte da ilha, quando os companheiros,
passado um ano, cá voltaram, encaminhou-os para a pequena baía de
Santa Cruz, onde desembarcaram.
A
celebração da Festa da Santíssima Trindade está incorporada no
ciclo festivo do Espírito Santo. Nesse dia, em diversas localidades
da Ilha do Pico, realizam-se Impérios com larga concorrência. O
Império das Lajes caiu em desuso e hoje nem o Orago é por cá
lembrado, e é pena, pois a denominação de
Santíssima Trindade
foi considerada oficial até à promulgação do Código
Administrativo em 1940. E o mesmo vai acontecendo na área diocesana.
Em diversos documentos, esquecem a freguesia da Santíssima Trindade,
para só indicarem a denominação de Lajes do Pico que, até há
pouco, foi o nome da Ouvidoria, ora extinta. Que ao menos a
Freguesia da Santíssima Trindade se mantenha
a lembrar aos presentes e aos vindouros, o nome secular da primeira
Paróquia da Ilha.
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- Frei Diogo das Chagas – “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores” 1646 – Direcção e Prefácio do Dr. Artur Teodoro de Matos,1989.
- História do Concelho das Lages, 1936.
- Frei Diogo das Chagas, Ibidem.
Lajes do Pico,
Maio de 2013
Ermelindo Ávila
1 comentário:
Se Ermelindo
Sou brasileiro, conheci Malvina e Telmo em viagem recente.
Tentei falar com o Dr em viagem recente ao Pico, mas infelizmente não deu.
Se puder conversar por e-mail gostaria de falar sobre emigração açoriana para Santa Catarina.
Grato
Itamar de Oliveira Vieira ( sobrenome bem português)
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