Nem todos, porém, vêem esse prazer satisfeito por razões as mais díspares. Algumas delas bastante angustiosas e tristes.
Mas, deixemos esse recordar de tristezas e passemos ao Natal. Um Natal que muitos nem sabem o significado real. E é bem simples: a comemoração do aniversário de Jesus Menino, num estábulo dos arredores da cidade de Belém, há 2009 anos!
Isaías havia anunciado: “Brotará uma vara do trono de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de temor do Senhor... Julgará os pobres com justiça e com equidade os humildes da terra...”
O Evangelista Lucas, por seu lado, narra: ”José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da Casa de David, afim de recensear-se com Maria, sua mulher, que se encontrava grávida. E, quando ali se encontravam, completaram-se os dias de dar à luz, e teve o seu filho primogénito (e único) que envolveu em panos e recostou numa manjedoira, por não haver lugar para eles na hospedaria.”
Entretanto, o Anjo do Senhor apareceu aos pastores da região e anunciou-lhes o nascimento do Salvador, que é o Messias, o Senhor.
E uma multidão do exército celeste juntou-se ao Anjo, cantando: GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DO SEU AGRADO.
Este o relato evangélico.
Durante muitos anos, talvez séculos, o aniversário do maior acontecimento da humanidade andou quase esquecido, embora a Igreja, desde os seus primórdios, o recordasse na celebração eucarística da Grande Noite.
Aqui vale a pena recordar São Francisco de Assis, o verdadeiro instituidor do Presépio. Assim o descreve o escritor Agostinho das Silva, em vida de Francisco de Assis: ”Perto de Greccio passou a noite de Natal; e tão grande era o seu desejo de Jesus, de tal modo a figura do Mestre lhe enchia os sonhos e a vida que decidiu adorar o Menino, como outros pobres tinham feito na remota noite de Belém; arranjaram-lhe os amigos uma gruta à maneira de estábulo, com manjedoira em que comia um boi e um jumento; mais abaixo, numas palhas, estava deitada a imagem do Menino; à roda as velas lançavam a sua claridade, doce, trémula, enquanto num altar, ao fundo, um padre dizia missa.” Era o primeiro Presépio. (S. Francisco de Assis viveu entre 1182 e 1225.)
O Presépio é a recordação mais sensível e cristã do Nascimento do Salvador. Infelizmente, porém, passou a ser substituído, em algumas nações, pela árvore do Natal, oriunda dos Estados Unidos da América, onde se abrigam as prendas trazidas pelo Pai Natal, outra inovação dos Países nórdicos.
Nos lares cristãos, sempre se recordou o nascimento do Menino, cuja imagem era – e é ainda – colocada num pequeno trono na sala principal. Poucos faziam o presépio, tal como o idealizou Francisco de Assis, porque desejavam adorná-lo com figuras várias, e outros adereços a lembrar a cidade de Belém, mas não tinham posses para os adquirir.
Ainda hoje ele se arma por estas terras, tendo valido a iniciativa da antiga Comissão de Turismo em promover, anualmente, concursos de presépios, que tiveram larga aceitação. Mais recentemente e para substituir o Presépio, já houve concursos de árvores de natal !...
Plausível é a actividade de certas instituições de solidariedade social em promoverem a angariação de bens para serem distribuídos, nesta época natalícia, pelos pobres e necessitados. Mas fazem-no arredadas da inspiração cristã e da recordação do Salvador do Mundo, que assim foi anunciado pelos anjos na Noite Silenciosa de há 2009 anos.
Até mesmo a própria Igreja foi simplificando a liturgia daquela Noite Santa, deixando de celebrar a Novena preparatória e de promover as Matinas solenes no princípio da Noite que agora está limitada à Eucaristia, pois o próprio dia passou, em algumas paróquias, ao esquecimento litúrgico.
Vale, pois, a pena recordar a atitude de Francisco de Assis, ante o improvisado Presépio: “Francisco, prostrado ante as palhas, adorava Jesus, via-o sorrir e agitar-se, como se na grande noite, tivesse desfilado na turba de lavradores e pegureiros; mais uma vez, na branda língua provençal, entoou os louvores do Senhor piedoso; depois, levantando-se, pregou à gente que se juntara, emocionada, a presenciar a estranha cena.”
Que todos tenham um Santo Natal!
Vila das Lajes, Dezembro de 2009
Ermelindo Ávila
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