domingo, 13 de dezembro de 2009

EXTERNATOS

As Aulas de Latim existentes em diversos concelhos do Arquipélago e que preparavam os alunos para os cursos superiores, pois, além do Latim, leccionavam o Português e o Francês, terminaram com a criação dos Liceus nas capitais dos Distritos.

A aula de Latim desta vila teve vários mestres. Um deles foi o Pe. António Lúcio, que ficou na história e na tradição desta terra como homem de grande cultura. Sucedeu-lhe António Lourenço da Silveira de Macedo, autor da “História das Quatro Ilhas que formam o Distrito da Horta”.

Com a criação do Liceu da Horta, por decreto de 20 de Setembro de 1844, mas apenas aberto no ano de 1851, António Lourenço da Silveira Macedo, foi transferido para o novo estabelecimento de ensino. Era seu reitor, quando faleceu. E assim terminou a Aula de Latim. Quem desejasse continuar a estudar, para além da Instrução Primária, tinha de deslocar-se para uma das capitais de distrito. E alguns foram. Mas era uma situação que só permitia a famílias abastadas ter os filhos a estudar fora de casa, mesmo assim, com sacrifícios monetários. Outros por cá ficavam, aprendendo um ofício para caminharem na vida: carpinteiro ou pedreiro, ferreiro, sapateiro, barbeiro ou alfaiate, etc.

A meados do século passado houve quem tivessem a feliz ideia de criar aulas do ensino secundário particular, nos respectivos concelhos. Uma grande solução para a causa do Ensino.

Creio que o mais antigo desses estabelecimentos secundários terá sido o Externato de Vila Franca do Campo. Depois foi o da Ribeira Grande e ainda o Externato Maria Isabel do Carmo Medeiros, da Povoação, em S. Miguel. Na vila das Velas, em São Jorge, foi criado o Externato Cunha da Silveira. Nas Lajes do Pico, o Externato General Lacerda Machado. Em São Roque, o Externato Coronel Linhares de Lima. Na Vila da Madalena, o Externato da Madalena. Em Santa Cruz das Flores, o Externato Pe. Maurício Freitas. Se outros houve, desconheço.

Hoje todos os concelhos, incluindo o Corvo, estão providos de Escolas Preparatórias e Secundárias, algumas mantendo os nomes dos antigos patronos. É pena que nem todas tenham seguido esse critério .

Antes do externato General Lacerda Machado, existiu uma escola particular, criada pela professora Olga Soares, no ano lectivo de 1951-1952, mas que só preparava para os 1º e 2º anos do Liceu. Tanto nessa escola como, depois, no Externato, os alunos eram inscritos no Liceu da Horta, como sendo do Ensino Doméstico e, no fim do ano lectivo, tinham de ir àquele estabelecimento fazer os respectivos exames. Uma situação que se manteve vários anos, mesmo quando a escola tomou a designação de Externato Secundário e passou a preparar até ao segundo ciclo, reunindo para tal um grupo de professores – professores primários e sacerdotes, além de outros - de notável gabarito cultural e intelectual, embora com diminutas remunerações, o que permitia aos alunos desembaraçarem-se, satisfatoriamente, nos respectivos exames. Infelizmente, porém, a esses beneméritos da Instrução nunca foi prestada a homenagem individual ou colectiva que bem mereciam.

Reconheça-se, no entanto, que era uma situação precária que só veio a ser resolvida com a visita do antigo Ministro Veiga Simão, que lhes deu o paralelismo pedagógico, além de outras mais regalias.

Actualmente a Escola Secundária das Lajes do Pico, como as outras da ilha, são frequentadas por algumas centenas de alunos e dela têm saído muitos para as Universidades, que, depois, assumem posições de relevo na vida nacional e até nas próprias Universidades.

E trazendo hoje aqui os Externatos não posso deixar de lembrar o nome de D. Inês Soares de Melo da Silva Azevedo, falecida a última semana e que foi uma distinta professora daquele estabelecimento, com seu marido o também professor José da Silva Azevedo e tantos outros, uns felizmente vivos outros já falecidos, e que tanto se empenharam pelo brilhante êxito do já histórico estabelecimento de ensino. Pois se se chegou a tratá- lo como a Universidade das Lajes...


(crónica para o Manhãs de Sábado da RDP-Açores)

Vila das Lajes, 8-12-2009

Ermelindo Ávila

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